O Reaparecimento de Ulisses: As Derrotas e o Desespero
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O Reaparecimento de Ulisses: As Derrotas e o Desespero

A trajetória de Ulisses Correia e Silva oferece um estudo de caso sobre os riscos inerentes à concentração de poder e ao afastamento das bases eleitorais. O seu reaparecimento desesperado no cenário político, marcado por gestos de humildade e tentativas de reconexão, reflete a profundidade da crise que enfrenta. No entanto, para muitos, essa mudança de postura chega tarde demais.O futuro de Ulisses e do MpD dependerá da sua capacidade de aprender com os erros do passado e de adotar uma liderança verdadeiramente democrática. Caso contrário, o seu legado será o de um líder que, após uma ascensão meteórica, sucumbiu ao isolamento e ao autoritarismo, deixando para trás um partido dividido e um eleitorado desiludido.

As recentes derrotas eleitorais e as sondagens desfavoráveis parecem ter forçado Ulisses a confrontar uma nova realidade. Após anos de distanciamento e autoritarismo, ele reapareceu no cenário político com uma postura mais humilde e respeitosa. No entanto, para aqueles que acompanham de perto a sua trajetória, essa mudança de comportamento parece ser mais uma estratégia calculada do que uma genuína transformação. O seu reaparecimento é marcado por sinais claros de desespero. Ulisses, que antes se mostrava inacessível e distante, agora busca reconquistar a confiança dos eleitores e militantes com gestos de aproximação e discursos conciliatórios. Contudo, essa mudança de postura não convence aqueles que já testemunharam táticas semelhantes no passado. Durante as últimas eleições legislativas, Ulisses já havia adotado uma estratégia parecida, buscando reverter a queda na sua popularidade. Desta vez, porém, o contexto é diferente. O eleitorado e os militantes do MpD estão mais conscientes e menos dispostos a serem manipulados por táticas superficiais. A trajetória política de Ulisses Correia e Silva, primeiro-ministro de Cabo Verde, tem sido marcada por uma ascensão meteórica, seguida de um gradual distanciamento das bases que o elevaram ao poder. Nos últimos meses, porém, o que mais chama a atenção é o seu repentino reaparecimento no cenário político, desta vez com uma postura que denota sinais claros de desespero.

A Ascensão e o Isolamento: A Construção de um Líder Inacessível

Ulisses Correia e Silva chegou ao poder com um discurso de modernização e eficiência, prometendo renovar a política cabo-verdiana. No entanto, à medida que consolidou o seu controle, afastou-se progressivamente das bases eleitorais e dos membros do seu próprio partido, o Movimento para a Democracia (MpD). Relatos de que ele não atendia chamadas, evitava interações com ministros e se isolava do eleitorado tornaram-se frequentes. Essa postura de inacessibilidade refletia uma crença perigosa: a de que a sua popularidade era tão grande que dispensava a necessidade de prestar contas a qualquer instância, fosse o partido, fosse o povo. Esse distanciamento, no entanto, revelou-se um erro estratégico. Ao substituir o diálogo pelo autoritarismo, Ulisses alienou não apenas os cidadãos comuns, mas também figuras históricas do MpD. A sua governação passou a ser marcada por uma centralização excessiva do poder, onde vozes dissidentes eram silenciadas e críticas internas eram tratadas com punições exemplares. Essa abordagem, longe de fortalecer o partido, fragmentou-o, criando um clima de desconfiança e medo entre os seus membros.

A Estratégia Falhada: O Uso do Nacionalismo e a Exclusão

Um dos pilares da governação de Ulisses foi a tentativa de substituir a identidade partidária do MpD por uma narrativa nacionalista. Ao apresentar o seu governo como representante dos interesses de Cabo Verde acima de quaisquer lealdades partidárias, ele buscou consolidar uma imagem de líder nacional. Contudo, essa estratégia mostrou-se insustentável a longo prazo. O eleitorado cabo-verdiano, conhecido pela sua maturidade política, não se deixou enganar por retóricas vazias. A falta de conexão com as bases e a percepção de arrogância por parte de Ulisses começaram a corroer a sua popularidade. Paralelamente, o primeiro-ministro adotou uma política de exclusão interna, afastando figuras ligadas ao Dr. Carlos Veiga, um dos fundadores do MpD. Ao trazer de volta quadros que, no passado, tentaram derrubar Veiga e fragmentar o partido, Ulisses não apenas reescreveu a história do MpD, mas também comprometeu a sua unidade interna. Essa estratégia de "limpeza" política, focada em eliminar influências dissidentes, revelou-se um tiro pela culatra, pois alienou setores importantes do partido e enfraqueceu a sua base de apoio.

Os Desafios Futuros: Reconectar-se ou Perder Tudo

A questão central que se coloca agora é se Ulisses Correia e Silva conseguirá reconquistar a confiança do povo cabo-verdiano e do seu partido. A resposta a essa pergunta dependerá da sua capacidade de reconhecer os erros do passado e de adotar uma postura verdadeiramente inclusiva e democrática. O autoritarismo e o distanciamento das bases eleitorais são caminhos perigosos que podem levar não apenas à queda de um líder, mas também ao enfraquecimento de um partido que desempenhou um papel crucial na história democrática de Cabo Verde. Para garantir o seu legado e o futuro do MpD, Ulisses precisa urgentemente de repensar a sua abordagem. A reconexão com as bases, a promoção do diálogo interno e a restauração da confiança dos eleitores são passos essenciais. Caso contrário, corre o risco de ser lembrado não como um líder visionário, mas como um exemplo de como o poder pode corromper até os mais promissores líderes.

Líder em Crise e o Futuro do MpD

A trajetória de Ulisses Correia e Silva oferece um estudo de caso sobre os riscos inerentes à concentração de poder e ao afastamento das bases eleitorais. O seu reaparecimento desesperado no cenário político, marcado por gestos de humildade e tentativas de reconexão, reflete a profundidade da crise que enfrenta. No entanto, para muitos, essa mudança de postura chega tarde demais.O futuro de Ulisses e do MpD dependerá da sua capacidade de aprender com os erros do passado e de adotar uma liderança verdadeiramente democrática. Caso contrário, o seu legado será o de um líder que, após uma ascensão meteórica, sucumbiu ao isolamento e ao autoritarismo, deixando para trás um partido dividido e um eleitorado desiludido.

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Comentários

  • Almiro Carvalho, 30 de Jan de 2025

    ... PAXÊNXA... Gostei do artigo.
    Bastante esclarecedor, da razão que levou esse movimento à derota nas autárquicas. A arrogância e o efeito
    " Sissokismo " , falaram bem alto...
    ... PAXÊNXA...

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  • Casimiro centeio, 29 de Jan de 2025

    Hummmmm!!!! Duvido !
    Há um velho ditado africano que diz: " lá porque o teu inimigo sorri, não é razão para guardares as tuas armas" .
    Pois, uma vez tirano, tirano é sempre, mostrando-se que a tirania é o seu padrão próprio, não um mero deslize isolado.
    Refiro -me a UCS, o prepotente irrecuperável !

    Responder


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