Aumento do preço de habitação em Portugal tem sido cada vez mais insustentável para os estudantes – Associações
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Aumento do preço de habitação em Portugal tem sido cada vez mais insustentável para os estudantes – Associações

As associações que representam os estudantes cabo-verdianos em Portugal apontam o aumento do preço de renda das habitações como um dos maiores entraves à continuação de estudos, visto que tem sido “cada vez mais insustentável”.

À Inforpress, o presidente da União de Estudantes Cabo-Verdianos em Lisboa (UECL), Edson da Veiga, disse que os estudantes cabo-verdianos têm enfrentado esse aumento com “muita dificuldade”, sobretudo na capital portuguesa em que o preço dos quartos mantém a tendência com um aumento perto de 30 por cento (%), passando de 425 euros para uma média de 525 euros por mês, e há registo de diminuição na oferta.

“Esta situação tem-se tornado cada vez mais insustentável para os estudantes, principalmente aqueles que têm carências económico-financeiras, cujos pais não conseguem suportar esses custos, a primeira opção normalmente passa por viver em casa dos familiares, o que nem sempre corre bem, e em alguns casos são expulsos ou condicionados no seu estudo pelos familiares”, considerou.

Segundo Edson da Veiga, outra alternativa passa sempre por conciliar os estudos com um emprego, de forma a suportar as despesas, mas usualmente com consequências no resultado académico, por ter menos tempo para dedicar aos estudos.

“A habitação é a componente com maior peso nas despesas mensais e o agravar do preço da habitação bem como o aumento do custo de vida tem forçado muitos jovens a trocarem a escola pelo trabalho”, frisou o presidente da UECL.

Sem dados em relação à variação dos preços nas residências universitárias, esse responsável é de opinião que a falta de oferta disponível têm sido um problema tanto para os estudantes nacionais [Portugal] como para os estudantes internacionais.

Por outro lado, Edson da Veiga sublinhou que é sabido que o objectivo da bolsa que os estudantes recebem não tem como fim cobrir a totalidade das despesas, mas que o valor actual da bolsa do Estado de Cabo Verde, de 271,84 euros tem sido “insuficiente”, sendo a última actualização a esse valor efectuada em 2000, onde se registou uma diminuição do valor da mesma.

“Portugal e o mundo já atravessaram várias crises desde então, e por consequência, a inflação tem sido uma mácula constante na economia nacional e é necessário que seja feita uma actualização do valor da bolsa que acompanhe as alterações económicas que o País tem sofrido”, afirmou o presidente.

O mesmo alertou para o facto de, este ano, os estudantes estarem a receber o visto muito mais cedo e já começaram a chegar a Portugal, quando nos anos anteriores só chegavam a partir de Outubro ou Novembro, e outros mais tarde.

Essas preocupações são partilhadas pelo presidente da Associação de Estudantes Cabo-verdianos em Coimbra (AECC), Jonathan de Pina, que reiterou à Inforpress que um dos motivos dos jovens estudantes abandonarem os estudos tem a ver com o preço da habitação que tem “aumentado muito”.

“O valor que as estudantes bolsistas recebem do Governo é pouco, não ajuda nem para pagar a renda de casa, alimentação ou propina”, disse o estudante do segundo ano de licenciatura em Informática e Gestão no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC).

Jonathan de Pina explicou que alguns estudantes têm conseguido pagar a renda, mas outros têm tido dificuldades visto que, também em Coimbra, no último ano, o aumento foi “absurdo”.

Por usa vez, a presidente da Associação de Estudantes Africanos em Bragança (AEAB), Romana Brandão, afirmou que, com a subida do preço dos quartos para estudantes, está a ser “complicado” manter os estudos naquela cidade no norte de Portugal.

“Para os estudantes cabo-verdianos ainda está a ser um pouco complicado pelas questões económicas do próprio País, por isso a opção de muitos estudantes cabo-verdiano é estudar e trabalhar para manter e pagar essas mesmas despesas. As residências são compartilhadas”, disse a são-tomense Romana Brandão.

A estudante do segundo ano de mestrado em Educação Social e Intervenção ao Longo da Vida, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), explicou que por ser uma cidade do interior de Portugal, Bragança chega a ser “flexível” para estudantes em termos de gastos necessários, por isso acredita que mesmo sem bolsa de estudo os estudantes conseguem lá estudar.

“Bragança é uma cidade com muitos estudantes por isso a subida excessiva nas rendas nada tem a ver com o abandono escolar dos estudantes cabo-verdianos”, disse Romana, ao contrário de Lisboa e Coimbra.

No último ano lectivo, o Instituto Politécnico de Bragança acolheu cerca de 10.500 estudantes, 35 por cento (%) dos quais são internacionais, representando cerca de 70 nacionalidades.

A maioria dos estudantes internacionais é de países de expressão portuguesa, aparecendo primeiro Cabo Verde, depois o Brasil, São Tomé, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e também Timor-Leste.

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