Vivemos num contexto estranho, onde ser melhor entre os piores é uma grande virtude e onde as estatísticas se fazem com conversa fiada e enganação. Mas, do mal o menos: chegamos a um ponto onde estas narrativas servem apenas para fidelizar uma reduzida bolha de fiéis… como se viu pelos resultados de 01 de dezembro.
É imperativo questionar até quando essa mentalidade prevalecerá no nosso país. Quando começaremos a reconhecer que um adversário político não é um inimigo mortal? A diabolização de indivíduos com base nas suas preferências políticas é um sintoma de uma democracia imatura, onde o debate saudável e construtivo é substituído por conflitos e acusações.
...não aprendendo nada com os sinais de 01 de dezembro e com as conclusões do último estudo da Afrosondagem, a liderança do MpD age como se nada tivesse acontecido e, no próximo dia 11 de janeiro, a Direção Nacional do partido prepara-se para, mais uma vez, legitimar a liderança derrotada pelo voto popular. Tal é percetível na mensagem de ano novo aos militantes que Ulisses efetuou nas redes sociais.
Dois pormenores me chamaram a atenção na última semana. Digo pormenores porque, em boa verdade, aparentemente são situações que, não comportando gravidade extrema ou ilicitude, ainda assim, revelam sinais emblemáticos sobre as mundivivências das elites cabo-verdianas, do seu conceito de ética e da sua visão do mundo.
O ano de 2024 que vai terminar merece ser lembrado e reverenciado pela batalha diária do povo anónimo que no país e na diáspora lutou arduamente contra as marés e injustiças diversas e venceu mas, gostaríamos de destacar e homenagear duas classes profissionais, em particular, a classe docente e os profissionais da saúde que pelas suas ações sindicais colocaram a nu o nível de descontentamento que estavam sofrendo diretamente e indiretamente que o povo também estava sujeito.
Elves Andrade, estudante da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), notou que faltava quase sempre alguma coisa nos pratos de vários colegas, limitações que o lançaram para um projeto solidário.
A liderança do MpD está em estado de desespero, negando as razões do desaire eleitoral e achando que ainda vai a tempo de inverter a roda da história. Para esta gente, os eleitores é que estão equivocados, são ignorantes e ingratos. E isso é muito visível nas redes sociais, onde os delinquentes digitais atacam pessoas, acusam alguns proeminentes militantes de traição e, ao invés de agregarem (o que seria fundamental para tentar ganhar em 2026), afastam de forma inexorável críticos e independentes, colocando-os no patamar dos “inimigos do partido”.