É preciso dizer, sem medo e com firmeza, que Cabo Verde não pode ser governado com base em anúncios de última hora, nem com políticas copiadas às pressas da oposição. Governar exige convicção, antecipação e responsabilidade. E é precisamente essa trindade que falta ao governo de Ulisses Correia e Silva, hoje refém do sucesso retórico de Francisco Carvalho – um opositor que, sem querer, tornou-se o verdadeiro motor das poucas reformas que o país começa a ver. Assim, ao tentarem ridicularizar o "populismo" de Francisco, os governantes tornaram-se vítimas de seu próprio...
...o mau prolifera quando as pessoas de bem não fazem nada. E ao fazer a famigerada pergunta “quem é Umberto Cardozo na fila do pão?” o meu interlocutor me disse, se lembro bem, 3 fatos: ele é engenheiro (fiquei aliviado, pois vi que podia no campo do debate e da escrita, enfrentar o mesmo no tabuleiro do xadrez!); depois ouvi que ele é ex deputado do MPD. Após essa afirmativa nem prestei muita atenção na outra afirmação. Voltei ao artigo. Li mais algumas partes onde ele discorre sobre o PAICV. Pareceu me que até defendia que o fato do Presidente da Câmara Municipal da Praia...
Defender o povo e os seus interesses, tentar dar resposta às necessidades da população, demonstrar que o país tem condições para fazer mais e muito melhor com os recursos que temos, defender que não podemos ter um país pobre com governantes com estilo de vida de países do primeiro mundo, isto é populismo e demagogia? Dizer que o país cresce e que o povo não sente e nem vê os resultados espelhados no seu dia-a-dia, isto é populismo? A política e os discursos que visam responder às necessidades e demandas das pessoas são fundamentais para a legitimidade e eficácia da...
A cultura política em Cabo Verde está marcada por duas grandes tradições — uma mais estatista e coletivista (PAICV), outra mais liberal e descentralizadora (MPD) — mas ambas têm falhado na resposta profunda aos desafios estruturais do país. A UCID surge como uma alternativa crítica, mas ainda sem força de rutura ou proposta de governo. Este cenário ajuda também a explicar os níveis crescentes de abstenção em Cabo Verde, onde uma parte significativa da população já não se revê em nenhum dos partidos. A abstenção é, muitas vezes, o reflexo da desilusão com promessas...
Não é por acaso que vários quadros competentes da República se esquivam de expor ao pleito das disputas políticas em Cabo Verde, porque esse terreno tem-se tornando tóxico, de baixo nível de debates na diferença, intolerante para com os novos brilhos de estrelas que em cada disputa se despontam no horizonte das constelações crioulas, tornando a nossa democracia cada dia mais desprovida do sal da diferença e, por conseguinte, mais preocupante e menos pluralista, abrindo brechas para espaços do populismo fora da arena dos princípios de valores e participação consciente que o voto...
Está tudo claro, como a água! Para a classe dominante, construída com o beneplácito dos partidos e às costas do Estado, tudo o que sai fora da bolha sistémica, de compadrios e desprezo pelos desvalidos da vida, é “populismo”. Quem sonhar com um país que seja porto de abrigo para todas e todos e um Estado que cuide e apoie os seus cidadãos, é, qual ferrete em brasa infligido na pele, necessariamente um “populista”.
A instrumentalização da ilusão na política cabo-verdiana não é apenas uma manipulação retórica, mas uma traição ao legado de Amílcar Cabral. O seu pensamento exige que a política seja um espaço de verdade, onde as contradições são expostas e enfrentadas, não ocultadas. Para desmontar as ilusões partidárias, é preciso resgatar o seu método: a análise concreta da realidade, o diálogo com as bases e a recusa a mitos que alienam o povo do seu poder. Para evitar que a política se torne um jogo cínico de espelhos, é urgente resgatar o espaço público como arena de...