O Sindicato da Indústria, Serviços, Comércio, Agricultura e Pesca (SISCAP) manifestou hoje, na Praia, preocupação crescente com a credibilidade dos dados estatísticos produzidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
“Não podemos dizer com propriedade que há manipulação dos dados, mas podemos dizer com toda propriedade que os técnicos mais experientes que sempre cuidaram dos dados, por estarem de fora, por terem pessoas inexperientes à frente dos vários projectos, não há dúvidas de que as informações que têm sido postas aqui ao público têm sido altamente contestadas por pessoas que verdadeiramente conhecem a área”, declarou.
A chamada de atenção foi feita pelo presidente do SISCAP, Eliseu Tavares, em conferência de imprensa realizada esta manhã para denunciar aquilo que classifica de perseguição, intimidação, vingança no INE, por parte do presidente daquela instituição, alertando para uma alegada degradação técnica resultante da actual gestão da instituição.
Segundo Eliseu Tavares, os técnicos mais experientes e com provas dadas ao longo dos 28 anos de existência do INE têm sido colocados de parte, sendo substituídos por quadros considerados “inexperientes”.
Esta prática, conforme asseverou, compromete a qualidade da produção estatística, sobretudo em projectos de maior vulto, cujos dados servem de base à definição de políticas públicas no país.
O sindicalista alertou que os dados divulgados pelo INE “são cada vez mais escrutinados e questionados” inclusive por técnicos da própria casa e de instituições congéneres.
“Nós temos aqui várias pessoas que, semana sim, semana não, têm estado a publicar dados contraditórios aos dados que o INE tem publicado. E isso é notório, é de conhecimento de todos. E, aliás, são os próprios técnicos a reconhecer isso publicamente, ainda no dia 19 de Junho”, completou.
O SISCAP, sublinhou Eliseu Tavares, não está contra a integração de novos quadros, mas critica o afastamento deliberado de profissionais experientes das principais funções técnicas, o que considera um erro de gestão com impactos directos na reputação e credibilidade da instituição.
“Com os técnicos mais experientes na prateleira, promoção dos mais inexperientes, e nós não somos contra a integração dos menos experientes nas equipas, muito pelo contrário, mas dar a direcção de projectos de maior vulto, os projectos a partir dos quais são tomadas as medidas de política do país nas mãos de pessoas inexperientes que, claro, resulta na produção do tipo de dados que nós temos ultimamente. Não há dúvidas. Não é preciso ser especialista para ver isso”, concluiu.
Ressalva-se que o SISCAP denunciou hoje o que classifica de “onda de ameaças, perseguições e isolamento” contra trabalhadores do INE envolvidos em reivindicações e defesa dos seus direitos laborais.
Um grupo de trabalhadores do INE posicionou-se no dia 19 de Junho diante da instituição para manifestar contra o clima laboral que classificam de “degradante”, mostrando o seu desagrado face ao “quadro pintado” pelo presidente num programa televisivo.
Entre as reivindicações da classe consta também o não cumprimento dos estatutos do INE, em vigor desde 2021, o “incumprimento do acordado” quanto ao enquadramento dos técnicos para níveis seniores e a postura do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, que, alegadamente, “deixa o conselho directivo destruir a imagem e reputação do INE”.