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Uma abordagem crítica do romance A ÚLTIMA LUA DE HOMEM GRANDE, de Mário Lúcio Sousa - Parte I
Cultura

Uma abordagem crítica do romance A ÚLTIMA LUA DE HOMEM GRANDE, de Mário Lúcio Sousa - Parte I

A esses eventos relevantes ocorridos ainda em vida de Cabral e que tornaram plenamente legítima a utilização pelos seus companheiros e por ele próprio do agnome Homem Grande (do crioulo Homi Grandi, na escrita tradicional, dita etimológica, de Mário Lúcio Sousa) para se caracterizar e se fazer afirmar, acrescem outros eventos ocorridos já depois da morte de Amílcar Cabral, que, aliás, curiosamente continua a comparecer regularmente no romance, quer em razão das s saudades que deixa junto dos camaradas, compatriotas, patrícios e entes queridos, quer mediante as suas numerosas aparições em centros do racionalismo cristão frequentados por caboverdianos das ilhas e diásporas, onde sintomaticamente é tido por um grande espírito de luz, aparições essas convocadas para finalmente ele, Amílcar Cabral, esclarecer pela sua própria boca omnisciente a questão que nunca se calou urbi et orbe e que é: quem afinal mandou matar Amílcar Cabral?

PRIMEIRA PARTE

I

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

KABRAL KA MORE

 

1. Está lavrada como sendo a última do livro A Última Lua de Homem Grande, de Mário Lúcio Sousa, e a ilustrar o trágico finamento de Amílcar Cabral, emprestando-lhe toda a sua poderosa carga simbólica, a seguinte frase:

” A última lua implodiu; estilhaçou-se feita uma supernova e apagou-se como um

olho de gato, enquanto, no chão do mundo, sagrava-se e sangrava-se um herói”.

Esta frase de consagração sentida e definitiva do maior ícone político-cultural das Repúblicas irmãs de Cabo Verde e da Guiné-Bissau devia, na minha opinião, ser interpretada conjuntamente com duas outras sequências frásicas, também constantes do supra-referido romance, quais sejam:  

a) A primeira, inserta na página 253, e que é a seguinte:

“O choro e o luto foram feitos e desfeitos com a mesma simetria, tinham morrido

todos, todos tinham pois de ressuscitar, porque morrer não podiam”,

concluíram obviamente os guerrilheiros do PAIGC a marcar a tomada do aquartelamento de Guiledje que foi decisiva para o colapso militar e a derrocada do dispositivo colonial na Guiné dita portuguesa, para tanto tendo sido igualmente determinantes os mísseis Strela, os quais ditaram o fim da supremacia aérea portuguesa, tendo resultando dessa nova correlação de forças a proclamação unilatera, a 24 de Setembro de 1973, da independência do Estado soberano da Guiné- Bissau, que, por sua vez, despoletou o 25 de Abril de 1974 e a sua correlativa Revolução dos Cravos em Portugal que, por outro lado e para além de ter libertado o povo português de um fascismo caduco e velho de quarenta e oito anos, contribuiu para a aceleração dos processos de independência das demais colónias portuguesas e cumpriu um importante papel na eclosão da terceira e da quarta vagas das mudanças democráticas no mundo que ainda perdura.

b) A segunda sequência frásica, que, afinal, são três parágrafos, constantes das páginas 253 e 254 do mesmo romance, e reza o seguinte:

  “O que aconteceu depois da sua morte deu-lhes razão, contavam os camaradas. Com Cabral reduzido a um busto na peanha, e já envolto nas brumas da saudade, os soldados portugueses e os guerrilheiros de várias etnias saltaram das suas trincheiras, cumprimentaram-se, trocaram cigarros, boinas e cinturões, nas matas e pelas ruas de Bissau, e admiraram juntos e de uma assentada os significados inesperados das palavras independência, fim, guerra, terra, tiro, obrigado, nada, nas duas línguas, o crioulo e o português, como se línguas de namoricos fossem desde as brincadeiras de crianças.

   Os mais velhos das aldeias, quando souberam das trocas de agasalhos, acenderam seus canhotos de uma peça só, levantaram seus cajados em esculpidas extremidades,  deram uns coques nos rabos das nuvens, fizeram chover, cantaram doravante o aguaceiro com suas vozes pré-gregorianas e declararam que Homi Grandi já podia estar tranquilo no céu lugar, e não de atravessado como embarcam os espíritos pendentes, porque os desavindos agora mais do que sem anos de rancor, estavam finalmente de abraços dados.

Bem, salientaram os camaradas de Cabo Verde, se aquilo dava a Cabral um céu tranquilo, o que sucedeu nas ilhas então o ressuscitaria”.

E assim foi.

A morte de Cabral fez o esperado milagre de o transformar no Maior Morto Imortal da Guiné e de Cabo Verde, nas a um tempo impressionantes, exaustivas e conclusivas palavras de Timóteo Tio Tiofe (pseudoheterónimo de João Manuel Varela que também utiliza os nomes literários João Vário e G. T. Didial para a sua escrita literária), o primeiro grande poeta caboverdiano a dedicar todo um Discurso, o “Discurso V” do seu Primeiro Livro de Notcha, à luta armada de libertação nacional das colónias portuguesas, com especial incidência na luta armada na Guiné-Bissau e ao seu líder e estratega principal, Amílcar Cabral, tendo ademais publicado a primeira versão dessa sequência poética em 1972 na revista caboverdiana Nôs Vida, de Roterdão, ainda era Amílcar Cabral vivo e muito activo em todos os planos da sua vida de combatente da liberdade.

A morte de Amílcar Cabral foi outrossim assinalado por inúmeros músicos caboverdianos e bissau-guineenses, os quais hastearam e acenderam o facho para o prantear em luto, mas também para cantar em revolta e determinação a  inquebrantável vontade de prosseguir a obra sempre exemplar e exaltante de Amílcar Cabral. De entre esses músicos, merecem especial destaque o Daniel Rendall da morna “Kabral ka morri” e o Tony Lima do Grupo Kaoguiamo da faixa “Amílkar Kabral” do disco Korda Skrabo. 

Outros poetas e escritores seguiriam igualmente os passos de Timóteo Tio Tiofe, com destaque para os caboverdianos Kaoberdiano Dambará (pseudónimo de Felisberto Vieira Lopes), Corsino Fortes, Tacalhe (pseudónimo de Alírio Vicente Silva) e Emanuel Braga Tavares, com poderosos ecos em outros poetas afro-lusófonos, com realce para a santomense Alda do Espírito Santo e dilectos seguidores literários nas novas gerações pós-coloniais, com relevo para a santomense Conceição Lima, os bissau-guineenses José Carlos Schwarz, Helder Proença, Agnelo Regala, Ernesto Dabó, Tony Tcheka e Odete Semedo e os caboverdianos Tomé Varela da Silva, Manuel Veiga, Tony Lima, José Luís Hopffer Almada e o próprio Mário Lúcio Sousa, aditando-se-lhes uma numerosa plêiade de estudiosos caboverdianos,bissau-guineenses e estrangeiros que se têm debruçado sobre o poder fecundo da prática revolucionária e da arma da teoria lavrada, esculpida e benzida por Amílcar Cabral para ajudar a parir um mundo de liberdade, democracia, progresso social, paz e dignidade para todos os filhos dos povos da Guiné e de Cabo Verde e para os filhos de todos os povos da África e do mundo numa Terra liberta do medo, do obscurantismo, da ignorância, da opressão, da discriminação, da pobreza e da miséria. Cabe neste preciso contexto sublinhar a especial relevância, e para só me referir a obras escritas em língua portuguesa, dos trabalhos de Mário Pinto de Andrade, Julião Soares Sousa e António Tomás para a abordagem ensaística biográfica e de Gerald Moser e Oswaldo Osório para a recolha (num verdadeiro labor de redescoberta!) e o estudo da poesia de Amílcar Cabral e que tão fecundos parecem ter sido para a elaboração literária do livro, ora em apresentação e análise, de Mário Lúcio Sousa! 

2. Como o próprio Mário Lúcio confessa em vários depoimentos vazados em entrevistas (com destaque para as mais recentes concedidas à Agência Lusa e ao programa Mar de Letras, da RDP-África) e em livros de ficção (com destaque para o seu romance Vidas Paralelas), é com Emanuel Braga Tavares que Amílcar Cabral penetra definitivamente no coração, na alma e no rebelde âmago do povo das ilhas como Morto Imortal, ele que já era considerado a um tempo como i. um Moisés negro prestes a pisar a Terra Prometida da Guiné e de Cabo Verde totalmente libertada do jugo colonial, desígnio tão almejado e sonhado, mas infelizmente não cumprido porque abruptamente coarctado com o seu bárbaro e insano assassinato, e ii. um Cristo e Messias negro, por isso, fadado para a paixão, consubstanciado no infausto evento acabado de referir, e destinado à ressurreição, a partir do momento em que Inocêncio Kani, tal Kaifás Pilatos, irrompeu na noite de Conacri do aziago dia 20 de Janeiro de 1973 para fazer cumprir, nas suas vestes de criminoso preter-intencional e de autor mediato enquanto muito provável mandatário do general do bengalim e do monóculo e da famigerada PIDE-DGS, o que o próprio Amílcar Cabral predisse na sua dissecação em Março de 1972 do traiçoeiro plano colonial-fascista para decapitar por dentro o PAIGC e fazer soçobrar a gloriosa luta de libertação bi-nacional dos povos da Guiné e de Cabo Verde, a acrescentar ao numeroso rol de macabras tentativas de rapto e de assassinato do Secretário-Geral do PAIGC e aos avisos e alertas vários oriundos de personalidades amigas de todo o mundo, com realce para Ahmed Sékou Touré, Presidente da República da Guiné (Conacri), Samora Moisés Machel, Presidente da FRELIMO e os serviços secretos soviéticos e checoslovacos.

Peço, nesta circunstância, que se tenha o obséquio de ler aqui e agora o poema (quando puderem, oiçam-no na voz do próprio Emanuel Braga Tavares, integrado no grupo Nova Aurora, o qual contou com a colaboração de importantes músicos caboverdianos como Henrique (Djick) Oliveira e Renato Cardoso), que, tendo ajudado através da sua força poética para a imortalização de Amílcar Cabral, contribuiu grandemente para a produção da catarse cultural de dimensão afro-crioulista e pan-africanista, tão indispensável para o resgate identitário do povo das ilhas e das diásporas e para o seu reencontro com a sua História total até então asfixiada, para a irrupção da co-dimensão africana da sua identidade de povo crioulo afro-atlântico e para a retomada, sem quaisquer complexos e pruridos de teor assimilacionista, dos caminhos ascendentes da sua cultura durante séculos sujeita a um processo imparável de exaurimento e exaustão mimético-coloniais:

POEMA KABRAL KA MORE (1)

(PRIMEIRA VERSÃO TRANSCRITA SEGUNDO

A ESCRITA ORIGINAL DE EMANUEL BRAGA TAVARES

PUBLICADA NO JORNAL INDEPENDENTISTA ALERTA)

 

Na flor fumado di fumo sagrado

Na libri`l noti mistério di Áfrika

na mê di floresta

lumi di ôro faiska strela

fumo di prata subi d’insenso

fiticero labanta tam

 

Na si odjo, si rosto

e-â um kussa galanti di konta

má na si mo si mo n'dreta

sustedo ko sustento d'ódio-l bingansa

staba um lansa rixo di fero preto

ponta d'asso, oro fino-l marfim

na si boita staba buitos

di tudo fantasma ta bádja

 

Ti kanto luminar pága

nton na mato obido un djáto:

 

Kabral ka more!

 

Lânssia na mato nobidadi-l bu nomi

lânssia na mar lágua burmedjo`l bu sangui

lânssia na céu strela nos luz

 

Arvi, kutelo, planta, tudo treme

na seti kredo seti banda´l mundo

stribilim kunsa inda simé

bem rátxa txon na pé di kruz

Txoro, sofrimento, suparason,

osénsia,

 

Ah! distánsia!

 

Ma korneta dja pupa

dja pupa sangui`l bingansa

ki kudi na monti, na lém, na kobom,

pa tudo banda:

 

Ah! Kabral!...

 

Konberso d'ora é bó na boka

alebo firmi na kada noris

 

nton bu sta bibo

 

Kabral ka more!

 

Kabral é noti!

Kabral é konsénsia!

Kabral é bandera!

Kabral é liberdadi!

 

Djassi é noti-l sono ki áta korda

na sussego turbulénsia d`Áfrika

pa pusento d'aima sima nha sonho

na labada libri ta kori agu......

III

CARACTERIZAÇÃO SUMÁRIA DE UM ROMANCE NOTÁVEL

Lido e/ou ouvido o impressionante, poderoso e sempre cativante poema “Kabral ka more”, de Emanuel Braga Tavares (o saudoso Xanon), debrucemo-nos agora e mais detalhadamente sobre o livro que aqui nos traz e que certamente teve a sua génese mais remota nessa primeira vez que Mário Lúcio Sousa resolveu, ainda menino e por inexcedível curiosidade infantil, espicaçada pelos tempos de festiva ruptura com o statuo quo colonial-fascista, copiar (e, certamente, decorar) o poema de Emanuel Braga Tavares e fazê-lo ressoar entre os colegas meninos e os mais adultos da sua vila natal do Tarrafal, poema esse que para sempre mudou a vida dele e de todos nós, crescidos e amadurecidos nesses férteis e irruptivos tempos pós-1 de Maio de 1974 (dia da festiva libertação dos presos políticos caboverdianos e angolanos do campo de concentração do Tarrafal).  

1. Ressalta no livro um amplo domínio da História do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde) e dos movimentos nacionalistas da Guiné dita portuguesa, de Cabo Verde e de todas as antigas colónias portuguesas e da própria história da resistência antifascista em Portugal, em que os subsídios fornecidos por  historiadores e por outros intelectuais cultores de ofícios similares, com destaque, segundo creio, para os livros Um Ensaio Biográfico de Amílcar Cabral, de Mário Pinto de Andrade, Amílcar Cabral (1924-1973) -Vida e Morte de um Revolucionário Africano, de Julião Soares Sousa, O Fazedor de Utopias- Uma Biografia de Amílcar Cabral, de António Tomás, e Quem Mandou Matar Amílcar Cabral?, de José Pedro Castanheira (acrescidos de um profundo conhecimento da História do anti-colonialismo oitocentista latino-americano e caribenho, propiciado pelo facto de o autor ter estudado na Universidade de Havana, onde foi certamente um assíduo frequentador das bibliotecas e das obras literárias latino-americanas nelas disponibilizadas), alimentam e delimitam a veia literária do romancista Mário Lúcio Sousa, tomado da sua habitual possessão criativa, a que, neste caso, não é alheia a sua inexpurgável dimensão de cabralista convicto e de crioulo africano das nossas ilhas sahelianas profundamente identificado com o ideário humanista e progressista de Amílcar Cabral, mesmo quando o mesmo se vê enredado e encurralado no seu labirinto de génio-inventor da estratégia vencedora da unidade Guiné-Cabo Verde, aliás, profusamente evocada e ilustrada no romance ora em análise, e de que ele, Homem Grande, foi a mais relevante e a mais chorada vítima. 

2. Impressiona outrossim no romance um avassalador e mágico domínio da língua portuguesa, quer pela escorreita, e bastas vezes inusitada e surpreendente fluência na prosódia do romance, quer mediante a utilização de um rico e diversificado léxico, por vezes tomado emprestado à astronomia, à agronomia e a outras ciências naturais, quer pela criativa irrupção, tal autêntica poesis, de trocadilhos e neologismos, arte de que Mário Lúcio é um excelente cultor, a par do seu amigo e confrade Vadinho (nominho do cronista Valdemar Rodrigues Velhinho Rodrigues que é também o poeta Valentinous Velhinho Rodrigues), com quem, aliás, andou a divertir-se em humor, ironia e sarcasmo na folha praiense Pirilampo (do nome de uma célebre taberna de inveterados noctívagos localizada em Tira-Chapéu, nos arrabaldes da cidade da Praia ) e no G3 (grupo de recital poético constituído esporádica e informalmente por Mário Lúcio, Vadinho e Zé Hopffer nos inícios dos idos anos noventa do século passado e que cedo se extinguiu, mas que quis levar a poesia aos pré-adolescentes e aos adolescentes das escolas secundárias do interior da ilha de Santiago). Acrescente-se a título de curiosidade que com o malogrado Fernando Monteiro, o José Vicente Lopes, o Danny Spínola, o Jorge Tolentino e comigo próprio (grupo a que mais tarde se veio juntar o António Leão Correia e Silva), Mário Lúcio Sousa teve tempo e arte para participar na fundação da Spleen-Edições, depois de ter sido representante informal do Movimento Pró-Cultura em Cuba.

Uma suplementar fonte de inspiração do escritor Mário Lúcio Sousa são certamente alguns escritores lusógrafos sumamente inovadores, com destaque para José Saramago (muito visível, por exemplo, no seu romance O Novíssimo Testamento) e Mia Couto. Diga-se ademais que a essa prosa assaz criativa e imaginativa do autor de A Última Lua de Homem Grande nem sequer faltam crioulismos típicos e característicos do chamado português literário caboverdiano inventado pelo autor de Chiquinho, Baltasar Lopes, e pelos demais ficcionnistas claridosos, como Manuel Lopes e António Aurélio Gonçalves, e prosseguido pelos ficcionistas neo-claridosos, com especial destaque para o romancista e contista Henrique Teixeira de Sousa e o contista Virgílio Pires, tais: convido (de cunbidu), de vez (de dibés), levantar aleive (de labanta alebi), fechar coragem (de fitxa coraji) ou sabe direito (de sabe dretu), acudir (de cudi), tudo inimigos (de tudu indimigu  ou tudu inimigu). Afinal, essas palavras e expressões idiomáticas incorporaram-se no crioulo, desde aquando da formação do mesmo pela adopção do léxico do português arcaico chegado às ilhas no século XV pela mão dos colonos brancos e de uma gramática (morfossintaxe) essencialmente africana, também chegada às nossas ilhas por essa altura através dos escravizados negro-africanos num total de pelo menos vinte e sete etnias, segundo dados credíveis fornecidos por António Carreira na sua monumental Cabo Verde-Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460-1878) e em outras valiosas obras historiográficas da sua valiosa e produtiva lavra. Deste  modo, Mário Lúcio Sousa devolve ao português o que o português nos deu emprestado para a construção e a consolidação da língua materna caboverdiana.

Aos crioulismos que perfazem o português literário de Mário Lúcio Sousa acrescem variados espanholismos, tais aboiz, rascar-se, guineano, trunco, pojar, vaguemestria, e frases em crioulo (de Cabo Verde e da Guiné-Bissau), diga-se que assaz aportuguesadas, quiçá para a sua melhor e mais fácil compreensão da parte de leitores lusófonos. 

Vejam-se ainda, e a título meramente ilustrativo, os seguintes exemplos de palavras e expressões idiomáticas de teor neologista:

Longemundo, seu arrepio é de tal morto que, catassol, data cruxada, desmentiras, deslembrança, estremerecimento, sacris-tão bom e sacris-tia Andreza, bocafé, eram um apaixonado e uma amãexonada, amalgamor, analfaberta, os três Reis Magros magrinhos, fomegerados, clariaudiência, gentelemesmo, azulescência, singultos, negrócio à parte, vodkabulário, aiaram os camaradas, farsas declarações, por ordem alfabética e analfabética, malparidos, ponto finado, negrócios à parte, desespero de casa, vice-versos, novidoso, furimundo, tintim por tostão, farsas declarações, abendiçou, marefícios de guerra, foi pior a ementa que o proveito, ouvição do finado, farsa modesta, analfabeta aberta, analfapreto, nenessidades, Alice no País das Buganvílias, assassinantes de punho e letra, dilatantes, despanto, sem anos de rancor, reverberância, fato-camarada, saltarilhou, eis que já estão, é de péssimo Agosto, malemolência, tristura, minimagem, Ana Maria de céu nome, guardamentos, Ghandiosa comparação, Amilcareca, genra, com digna mente, etc., etc..

Realce-se neste contexto o notável trabalho de revisão a que foi sujeito o romance ora em análise, o que, a contrario de uma lamentavelmente demasiado numerosa quantidade de títulos postos a circular por editoras caboverdianas, portuguesas e outras de língua portuguesa, deixou subsistir um número muito escasso e residual de gralhas no corpo do texto do romance, de que são os raríssimos exemplos detectados por mim: cáqui em vez de caqui; desaire nacional ultramarina e metropolitana em lugar de desaire nacional ultramarino e metropolitano; quezilhas (será um neologismo?) em vez de quezílias; cúpulas paradísicas em vez de cúpulas paradisíacas, os cavalo de raça em vez de os cavalos de raça, vai para a casa em lugar de vai para casa.

Também de se assinalar são alguns lapsos e/ou erros factuais, quiçá deliberadamente cometidos pelo romancista para melhor servir a urdidura da intriga do romance, destacando-se dois casos:

a)     A datação do poema “Regresso” (popularizado como “Mamãe-Velha”), quando no romance se escreve que foi escrito por Amílcar Cabral quando tinha vinte anos de idade e começara a namorar a sua segunda namorada, a praiense Carla, depois de ter regressado à cidade-capital de Cabo Verde, na sequência da conclusão do ensino liceal na cidade do Mindelo, onde manteve um namoro e um amor platónico, longo de quatro anos, com Carmelita, a primeira namorada que o apresentava como “o meu badizinhe”. Na verdade, o poema “Regresso” foi escrito e publicado por Amílcar Cabral em 1949,  quado choveu copiosamente na ilha de Santiago e  por todo o Cabo Verde, depois de longos anos de secas e mortandades pela fome delas advenientes.

b)    A data da morte de Juvenal Cabral, que, segundo o romance ocorreu a vinte de Março de 1952 (sendo o vinte um número fétiche para Amílcar Cabral), na sequência de um ataque cardíaco fulminante sofrido pelo mesmo quando soube que o filho Amílcar Cabral, analfabeto até aos dez anos na versão acolhida no romance, tinha concluído em Lisboa o curso superior de agronomia. Ora bem: segundo a versão dominante, constante dos livros ensaísticos acima referenciados, Juvenal Cabral morreu efectivamente na sequência de um fulminante ataque cardíaco, mas em 20 de Março de 1951, quando pensou que o filho Amílcar Cabral, e não o angolano Agostinho Neto, tinha sido preso pela polícias política portuguesa numa acção de recolha de assinaturas contra a entrada de Portugal na NATO, ainda Amílcar Cabral não tinha concluído o curso completo de agronomia.    

3. A intriga do romance inicia-se exactamente no momento, às 22, 05 do dia 20 de Janeiro de 1973, em que ao regressar à sua residência na companhia da esposa Ana Maria depois de ter participado numa recepção na Embaixada da Polónia em Conacri, Amílcar Cabral constata que foi baleado:

“Apagão.Curto pareceu, mas longo como a treva. Por isso, ele não sabe direito quem é, onde está, há quanto tempo está, o que aconteceu antes de estar, o que está a acontecer, enfim, desapercebe-se diante do breu donde um longemundo devagar a vir vem, vem, toca o dia e abre no céu um grande fogo dilatado de lua. Deram-me um tiro, confirma”.

Fazendo recurso à figura da estilística literária denominada prolepse, esse momento final dos tempos terrenos e fisicamente presentes de Amílcar Cabral, esse momento crucial constituído como o início absoluto do romance transfere-se de imediato para a descrição do decurso da jornada de Amílcar Cabral durante todo o dia 20 de Janeiro de 1973, das 6h43 até ao momento do início do seu passamento para a eternidade.

Neste interim, o enredo do livro constrói-se, com a devida marcação das horas e dos minutos relevantes da fatídica jornada do morto auto-anunciado, da interacção de Amílcar Cabral com personagens várias da sua vida privada e profissional, com personalidades políticas presentes em Conacri e com quem se vai cruzando durante essa aziaga jornada, e de outras individualidades históricas diversamente evocadas e invocadas.

Primeiramente, consigo próprio e com a sua imagem reflectida no espelho, ambos obcecados e obsidiados por um sonho anterior, em que pela primeira vez lhe aparece a figura de Selenãoverá, a personagem que viria a dirigir o traiçoeiro atentado contra a sua vida.

Habituado desde a infância a encetar e manter diálogos com o invisível, a que ele afortunadamente tem a pressaga sina de ter acesso, Amílcar Cabral pré-figura no espelho, mesmo se em imagens assaz difusas, os vultos que vão acabar com a história terrena de que ele, segundo o escritor Mário Lúcio Sousa, embora protagonista primacial, não foi o autor, para iniciar uma outra, de que a sua presença física estará irremediavelmente arredada.

Atente-se na acusação formulada por esse tal Selenãoverá contra Amílcar Cabral:

“Há um mês, lembra, sonhou que o matavam, e o seu assassino era o camarada que lhe chama cabriano, pronúncia dúplice para designar os cabo-verdianos no crioulo da  Guiné. A figura imputava-lhe o defeito de ordenar e não recuar nos mandos, de só ver o caminho da sua única perspectiva e, o mais grave, de pretender substituir na Guiné portuguesa uma colonização por outra, a bem desentender, a dos portugueses pela dos cabo-verdianos sobre os guineenses.Quando acordou, lembra, não teve tempo de afastar o sonho, como costuma fazer narrando o sonhado à esposa, porque antes de se sentar à mesa para o quebra-jejum, o vizinho que tratava dos pães, seu principal colaborador, Aristides, bateu à porta de sua casa e deu-lhe um recado que mais parecia um réquiem:

“-si ê ca na obi i na odja, si ê ca na odja i na obi”, se ele não ouve, verá, se ele não vê, ouvirá,

Ou como ele, Homem Grande, encripta na agenda: Selenãoverá”.

Feitos e cumpridos a rotina e os rituais matutinos de higiene pessoal e de envergamento da indumentária que tornaram reconhecível a sua pessoa e fizeram mítica a figura da luta de libertação bi-nacional dos povos da Guiné e de Cabo Verde e, como era seu hábito, depois de ter estado a escrever no seu gabinete e a fazer ginástica com as crianças do internato da Escola-Piloto, Amílcar Cabral toma o pequeno-almoço de sábado na intimidade da vida familiar, com a amada esposa Ana Maria, a filha, Indira Abel, o  enteado Raúl (fruto do anterior relacionamento afectivo de Ana Maria com um estudante universitário angolano e que ele, Amílcar Cabral, trata como seu filho biológico), como se fosse a última manhã da sua vida passada no aconchego protector da família.

Nessas macabras premonições, Amílcar Cabral tem pela primeira vez acesso ao invisível não pela visão, como habitualmente, mas pela audição de uma voz expansiva a sussurar-lhe factos, datas, gentes, locais encavernados na memória, como se escutasse a própria história a ser narrada pela sua própria cabeça mas por outra pessoa, no caso um desses velhos mensageiros e contadores africanos de histórias chamados griots.

É nesse ambiente de intimidade familiar que lhe perpassam pela memória a casa da sãotomense Tia Andreza, na Lisboa dos seus tempos de demanda da sua identidade de negro mestiçado africano, onde ele e Ana Maria se conheceram e foi fundado o Centro de Estudos Africanos para a consubstanciação através de aturados estudos e pesquisas da propugnada reafricanização dos espíritos dos seus jovens integrantes, todos na altura estudantes universitários, à excepção de Francisco José Tenreiro, já então um prestigiado geógrafo e (re)conhecido poeta santomense.

Reafricanização dos espíritos é uma consigna entranhada por tal forma por Amílcar Cabral que à armadilhada e provocadora pergunta “E tu és caboverdiano ou guineense?”, responde tão só e acutilantemente “Africano!” (página 29).

Africano é ainda a palavra que lhe vem à mente quando constata que “ironicamente, se morrer neste dia 20 de Janeiro, como lhe predizem os sinais, ele, Homem Grande, vai finar sem uma cidadania que o naturalize, sem uma terra certa que o ampare, sem uma pátria para legar aos filhos; e , pior, como súbdito da única soberania que renegou, a portuguesa” (página 30).

4. Como ocorre com todos os seres humanos prestes a encetar a sua derradeira viagem terrena que representa a sua iminente passagem para o outro mundo, ou, como dizemos com base no crioulo da ilha de Santiago (falsamente, aliás, para o caso de Amílcar Cabral) para o mundo-do-nunca-mais, o Homem Grande é revisitado inevitavelmente e inexoravelmente, até ao derradeiro momento, ou, como se escreve no romance, até à sua última lua, por regressões (e que em teoria literária se designa contraditoriamente por prolepse e analepse), isto é, pelas memórias da sua vida toda e inteira, desde a sua primeira infância em Bafatá e em Geba; o seu baptismo na Igreja de Nossa Senhora da Graça da cidade da Praia; a sua passagem enquanto conviva das suas duas mães (na verdade, da sua mãe Iva e da sua madrasta Adelina- a quem passa a chamar tia por sugestão da mesma - na Bissau dos seus verdíssimos anos; a sua vivência longe da adorada mãe Iva com o pai, a madrasta e as irmãs gémeas em Achada Falcão do concelho de Santa Catarina; o seu resgate pela mãe Iva e a vivência na cidade da Praia com alegado início da frequência da escola primária conjuntamente com o irmão Ivo; o seu trânsito enquanto aluno liceal pelo Liceu de S. Vicente, onde também se narra a sua vida amorosa, um tanto e compreensivelmente platónica, com a primeira namorada Carmelita;  a sua subsequente estadia na cidade da Praia, onde a sua segunda vida amorosa com Carla adquire feições nitidamente carnais com suspeita até de uma gravidez que muito o atarantou e o levou, na companhia do irmão Iva à velha casa de Achada Falcão onde descobre os empregados Bronze e Tolete e as esposas Santa e Tilinha, a cuja festa de casamento tinha assistido ainda criança, pejados de crianças-nove para cada casal- sendo que dois deles-um para cada casal - respondiam pelo nome Amílcar; a sua vida de estudante universitário em Lisboa; o seu regresso a Bissau já como engenheiro agrónomo e nacionalista africano propugnador da unidade Guiné-Cabo Verde; a sua passagem por Dacar e Acra e a sua radicação definitiva em Conacri, onde passa a ser conhecido por Homem Grande, com múltiplas estadias nas cidades-capitais e em outras importantes urbes dos mundos africano, europeu ,americano e asiático.

É nessa hora fatal, num total de vinte longos minutos que se alongam pelas quatro partições em que se estrutura o livro, designadamente o Apogeu, o Perigeu, o Plenilúnio e o Ocaso, e a significar a maior ou menor aproximação da lua em relação à terra e àquele que, impotente e moribundo, jaz ante os seus desvairados matadores (ou matantes, ou ainda assassinantes, como escreve o autor, mais uma vez inovando nos seus muitos e preciosos neologismos), para depois irremediavelmente se finar, que Amílcar Cabral começa por relembrar alguns episódios marcantes da história do seu namoro seguido de enlace matrimonial e da correlativa e consequente vida conjugal com a sua primeira esposa, a portuguesa transmontana Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues, antecedendo-os de todo o seu percurso pessoal como aluno distinto tanto da Escola Primária António de Oliveira Salazar da Riba`l (expressão crioula para designar o Planalto que perfaz o núcleo histórico da cidade-capital de Cabo Verde, agora comummente conhecido pelo termo francófono Platô da) Praia como também do Liceu Infante Dom Henrique/Gil Eanes na ilha de São Vicente; do seu regresso à cidade da Praia, onde concluíra o ensino primário, para trabalhar como ajudante de tipógrafo na Imprensa Nacional de Cabo Verde com o declarado fito de ajudar no sustento da família materna e, segundo o romance, para garantir os meios suficientes para custear a sua viagem para Lisboa; da obtenção da bolsa de estudos para ingressar no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa; do seu almejado regresso à África continental com a sua radicação na Guiné dita portuguesa; do nascimento em Bissau do seu primeiro rebento, a filha Iva Maria; da realização com a colaboração/ajuda da esposa ou, melhor ainda, conjuntamente com a esposa, do primeiro Recenseamento Agrícola da Guiné dita portuguesa; das atribulações com a tentativa de fundação de um grupo nativista sob a capa de agremiação desportiva e recreativa; do convite-expulsão da sua Guiné natal com a prerrogativa de todavia a visitar uma vez por ano para ver a família, designadamente, além do irmão Luís, a mãe Iva, as irmãs ( gémeas) Armanda e Arminda, os irmãos Ivo e Tói (António da Luz) que com ele, Amílcar, se perfilaram como ”os Três Reis Magros, magrinhos”, quando a família materna desembarcou no cais de Bissau chegada de Cabo Verde, mais uma vez flagelada pelas secas periódicas, contrastando com o verde úbere e exuberante da sua terra natal, a tropical húmida Guiné dita portuguesa. 

No que se refere à tentativa de fundação e oficialização de um clube desportivo e recreativo restringido aos naturais da Guiné dita portuguesa independentemente do seu estatuto de assimilado a cidadão português ou de indígena, o que afrontava directamente a lei vigente, convém precisar que nessa parte inicial do percurso cívico-político de Amílcar Cabral no seu país natal se trata de um expediente  semi-legal no quadro das suas actividades clandestinas assumidamente nacionalistas e pan-africanistas, o qual se esbarra inevitavelmente com o necessário fracasso, comprovativo dos estreitos limites nos quais se podiam mover os africanos, em especial os sujeitos ao estatuto do indigenato. É nesse contexto, que nos deparámos com o governador Alvim que, embora em modos cordiais, aconselhou/ordenou o engenheiro agrónomo Amílcar Cabral a deixar Bissau em razão das suas alegadas actividades subversivas em prol dos indígenas guinéus (diga-se que num período em que a família restrita de Amílcar Cabral- isto é, a esposa, a filha Iva e ele próprio- estava padecendo de paludismo).

É nesses cenários telúricos e cosmopolitas, marcados pela temporalidade, retirada, como já referido, dos movimentos de rotação da lua para definir a estrutura do romance, e acompanham Amílcar Cabral na sua maturação como ser humano habituado às agruras de uma vida humilde amenizadas pelo infinito amor e a resiliência sem medida da sua mãe Iva, que desfilam personagens diversas da sua vida privada e personalidades várias da nossa História recente e das Histórias africana e universal, tais a mãe Iva; o pai Juvenal Cabral; o irmão Ivo (aquele que, após um tragicómico incidente com um cutumbembem da floresta do Taiti na cidade da Praia, não foi denunciado pelo irmão mais novo à mãe Iva, diz do mesmo. “ Tu és alguém em quem o mundo pode confiar”), o meio-irmão Luís e o irmão codê António da Luz, as irmãs-gémeas Armanda e Arminda; a madrasta Adelina Correia de Almeida Cabral (“a Portuguesa”, na designação de mãe Iva, ao tempo esposa e terceira companheira conhecida de Juvenal Cabral e sobrinha da sua madrinha Simoa dos Reis Borges Correia, com quem se comprometeu a casar para poder ser constituído administrador e herdeiro universal dos bens da mesma madrinha); as suas duas sucessivas esposas Maria Helena de Ataíde Vilhena Rodrigues e Ana Maria Voss de Sá; as filhas Iva Maria, Ana Luísa e Indira Abel; o enteado Raúl; a sogra Alice (que mora com o casal Amílcar e Ana Maria e à qual Amílcar Cabral amiúde se dirige como Alice no País das Buganvílias); a tia Andreza e os “bons amigos” (na terminologia das missivas políticas a eles dirigidas) Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Alda do Espírito Santo, Viriato de Cruz, Guilherme do Espírito Santo (curiosamente, nunca são mencionados os nomes de Francisco José Tenreiro, de Agostinho Neto, da poetisa moçambicana Noémia de Sousa, todavia colegas imprescindíveis de Amílcar Cabral na fundação, na dinamização e na operacionalização do Centro de Estudos Africanos, propulsor da almejada reafricanização dos espíritos); a farmacêutica portuguesa exilada e líder do grupo antifascista de Bissau, Sofia da Pomba Guerra; os companheiros de luta Aristides Pereira, Rafael Barbosa, Abílio Duarte (curiosamente chamado “o Rouxinol” pelo modo como compunha as suas músicas por meio de assobios); Lilica Boal, directora da Escola-Piloto; Nino Vieira e Osvaldo Máximo Vieira (tratado simplesmente por Máximo); o jornalista britânico Basil Davidson; os recentes Presidentes africanos Sékou Touré e Kwame Nkrumah, respectivamente da Guiné-Conacri e do Gana, bem como o Presidente-poeta Leopold Sédar Senghor, do Senegal; os Reis marroquinos Mohamed V e Hassan II; o Presidente do Conselho de Estado da RDA (República Democrática Alemã) Erich Honecker; o Primeiro-Ministro sueco Olof Palme; os Presidentes da Finlândia, da Jugoslávia, da Roménia, da União Soviética, da República Popular da China, da Coreia do Norte, entre outros; os Embaixadores soviético, cubano, polaco e senegalês colocados em Conacri; o Guerrilheiro Heroico Ernesto Che Guevara (evocando-se também o Apóstolo da Independência cubana José Marti - precursor/defensor/combatente, segundo o romance, da independência de dois países submetidos ao colonialismo espanhol, designadamente Cuba e Porto Rico, e no qual, segundo o autor do romance, “o Homem Grande encontrou a salvadora e decisiva resposta para o dilema Guiné ou Cabo Verde. Dois corpos, um coração, diria mais tarde”); o activista e músico afro-americano Amiri Baraka (com inevitável referência ao assassinato do líder afro-americano Malcom X); os (im)prescindíveis ditadores fascistas Salazar e Caetano; o General António Sebastião Ribeiro de Spínola; o Major Alpoim Calvão, comandante no teatro de guerra da operação Mar Verde, de assalto a Conacri para a libertação de prisioneiros de guerra portugueses, o assassinato e/ou rapto de Amílcar Cabral e de outros altos dirigentes do PAIGC e a destituição do Presidente da Guiné-Conacri Sékou Touré com a participação cúmplice de exilados e mercenários conacri-guineenses treinados secretamente sob os auspícios do General Spínola e do Major Alpoim Calvão na ilha de Soga no arquipélago dos Bijagós e integrantes de uma auto-denominada Front de Libération Nationale de la Guinée; o General Humberto Delgado, assassinado pela polícia política portuguesa em Espanha e cujo ajudante de campo Henrique Cerqueira (sobre o qual, aliás, recaem, segundo o romance, fortes suspeitas de ter sido um infiltrado da polícia política portuguesa no meio dos portugueses exilados no Marrocos e na Argélia) se casa com Maria Helena, a primeira mulher de Amílcar Cabral; o director da PIDE-DGS Silva Pais (e a indispensável referência à filha única Annie que se apaixonou perdidamente por Che Guevara e, abandonando o seu privilegiado lugar de esposa de diplomata suíço, colocado em Havana, desertou para a comunista Cuba de Fidel Castro e Che Guevara, para se entregar de corpo e alma aos afazeres da revolução cubana), para além de uma lista de numerosos líderes africanos, num total de vinte, assassinados entre Maio de 1960 e 20 de Janeiro de 1973 e inúmeras personagens secundaríssimas por vezes nomeadas pelo nome, e, finalmente, os monstros imortais Inocêncio Cani, Mamadu Indjai e Bacar Cani, os conspiradores mais directamente envolvidos na inopinada e irracional execução sumária de Amílcar Cabral.

Interessante é o facto de ter sido no diálogo que encetou com Che Guevara em Conacri sobre o encetamento futuro da luta armada em Cabo Verde, questão sobre a qual havia nítidas divergências entre o mítico criador da teoria do foco guerrilheiro e o líder caboverdiano-guineense da luta de libertação bi-nacional mais voltado para as realidades muito específicas de Cabo Verde e mais afeito a uma estratégia de implantação político-militar do PAIGC em Cabo Verde que Che Guevara considera ser influenciada pelo estratega maoísta Lim Piao (e, assim, indirectamente pela teoria da guerra popular de longa duração de Mao Tsé Tung), que Amílcar Cabral evoca as muitas revoltas conhecidas havidas em Cabo Verde, em quase todas as ilhas, tanto as de povoamento antigo (tais as ilhas de Santiago, Santo Antão, Boavista e a Brava, como as de povoamento mais recente, tais as ilhas de São Vicente e do Sal), omitindo-se todavia a revolta dos Valentes de Julangue, em Fonteana de Santa Catarina - ou, quiçá, de São Domingos - e a revolta contra a fome de Nho Ambrósio, em São Vicente), proferindo as seguintes palavras para justificar o direito dos caboverdianos em tomar nas suas próprias mãos o seu destino político: “O cabo-verdiano é um povo futurível e com um pendor de insubordinação bravio para a sua idade, disse ao Che, (...) Nós somos um povo usucapião, nossas ilhas não tinham população autóctone. Foram os escravos, muitos desta costa da Guiné, que araram, domesticaram e geraram o caboverdiano”.  

5. Através dos expedientes técnico-literários da prolepse e da analepse e do consequente excurso memorialístico que enceta e aprofunda sobre o percurso de vida de Amílcar Cabral, logra o autor, Mário Lúcio Sousa, contar quase toda a história conhecida do PAIGC e, ademais, narrar, ainda que em largas pinceladas, vários acontecimentos relevantes para a mesma história político-partidária e para a história pessoal de Amílcar Cabral, diga-se que com grande mestria e certamente fundado numa aturada leitura e confrontação dos livros e de outros documentos disponíveis sobre a vida e a obra do excepcionalmente dotado homem político caboverdiano-guineense.

E nessas incursões ressalta nítida uma frase atribuída a Amílcar Cabral em face das poucas ou nulas referências escritas que o mesmo e os livros sobre a sua vida e a sua obra fazem em relação à sua primeira infância na Guiné dita portuguesa, e que, aliás, é por várias vezes realçado por Julião Soares Sousa no seu magnifico livro Amílcar Cabral (1924-1973)-Vida e Obra de um Revolucionário Africano.

Reza assim a frase: “Hoje, ele, Homem Grande, diria que é triste ter uma infância pendular, mas mais triste é não ter memórias dessa infância. Dó de lar dói doido”. 

Felizmente que Amílcar Cabral, ou o romancista Mário Lúcio Sousa por ele, mantém intactas todas as memórias, incluindo as da primeira infância pendular até aos oito anos de idade e passada entre a Guiné e Cabo Verde, quase sempre na companhia da mãe Iva, do irmão materno mais velho Ivo e das irmãs “de pai e mãe” mais novas Armanda e Arminda.

É nessa parte da obra literária que vem à tona toda a força e a imensa riqueza de afectos que unem Amílcar Cabral à mãe Iva e que fê-lo dedicar-lhe a sua página no Livro de Curso de Agronomia e descrevê-la como “a estrela da minha infância agreste”. Ligação afectiva assaz estreita com a mãe Iva e que contrasta com aquela que mantém com o pai Juvenal e indiciadas no seguinte trecho do romance ora em estudo:

“Papa, foi murmurando pelo caminho, com ou sem acentos, apesar da persistência de Mãe Iva, ele, Amílcar, sempre teve dificuldades em associar o nome de Juvenal Cabral, homem a quem tentou chamar babá, papé, nha pai, meu pai, papá, pai, senhor, sempre um trava-língua forçado, instável, consoante o humor e o entendimento, a idade e a matéria, pronúncias vindas apenas para responder quando era chamado. Um dia, em Achada Falcão, Juvenal chamou o filho em português, língua de autoridade, disse-lhe que em Cabo Verde, principalmente em Santa Catarina, a criança devia chamar seu pai pelo nome de pai, primeiro porque não eram colegas, segundo, para que não houvesses dúvidas e boatos, terceiro, deixar aquelas derivações das línguas da Guiné para a Guiné.

Ele, Amílcar lembra até hoje o desfecho daquela situação.

Perguntou com inocência:

- O Ivo também vai chamar o senhor de pai?

Juvenal olhou-o sem justificativas, apertou o cinto e foi-se embora. Ivo era o herói de Amílcar Cabral, com ele tinha aprendido as palavras”.  

Colmatando o que nem os ensaios científicos e de história, nem os testemunhos dos colegas, companheiros e camaradas de luta podiam lograr cabalmente, o autor Mário Lúcio Sousa consegue preencher essas páginas até então em branco da infância de Amílcar Cabral, fazendo-nos embrenhar por peripécias várias, todas premonitórias do humanista e do líder político-militar exemplar que viriam efectivamente a ser Amílcar Cabral.

A este propósito, faz o autor que Amílcar Cabral relembre, na hora fatal da sua morte iminente, os doze ciclos apostólicos da sua vida, designadamente: doze na Guiné portuguesa; doze em Cabo Verde; doze em Lisboa e doze na Guiné-Conacri.

E é ainda o autor que faz Amílcar Cabral concluir:”Isto é apenas a visão final, ou inicial, sobre como se lhe urdiram os dias, embora ciente de que, indo por esse caminho, vai esbarrar-se no dia em que o espírito se manifestou na matéria e se fez este mundo material, como dizem os antigos”. Os antigos certamente, que não o convicto e abalizado materialista dialéctico e materialista histórico Amílcar Cabral, que, mesmo não sendo idealista no sentido filosófico do termo, não deixa de se impregnar pela cultura animista negro-africana envolvente, denotando uma notável tolerância e capacidade de convívio com as crenças que impregnam as sociedades tradicionais das duas Guinés (e certamente a considerada pelo próprio Amílcar Cabral africaníssima co-dimensão - porque igualmente impregnada de animismo mágico, a par de fetichismo católico- da cultura crioula de Cabo Verde) e segundo as quais Amílcar Cabral seria certamente um grande bruxo capaz de escapar a todos os atentados e armadilhas de que foi alvo predilecto durante todos os seus anos de luta. Curiosamente, é o próprio Amílcar Cabral que, pela pena de Mário Lúcio Sousa, cogita que, para grande azar seu, não trazia consigo nessa noite aziaga de Conacri, nem a sua súmbia, nem o seu jaquetão, ambos abençoados e devidamente consagrados como talismãs protectores designadamente por um ancião de uma aldeia remota e por uma mulher dotada de poderes sobrenaturais.

Dizíamos que o romancista histórico Mário Lúcio Sousa consegue trazer para o corpo do seu romance o essencial da panóplia de factos e acontecimentos políticos que perfazem a história do PAIGC, e cremos não ter exagerado.

Senão, vejam-se as referências a eventos relevantes ocorridos antes da morte de Amílcar Cabral e que de algum modo habitam o corpo do livro: a fundação do PAI (Partido Africano da Independência); o massacre de Pidjiguiti; a fundação do MLG/MLGC (Movimento de Libertação da Guiné/Movimento de Libertação da Guiné e de Cabo Verde); a mudança de nome do partido fundado por Amílcar Cabral pela adição à sigla inicial de GC (Guiné e Cabo Verde), daí resultado a sigla final PAIGC; as reuniões multipartidárias de Dakar para a criação da FUL (Frente Unida de Libertação); a fundação do MAC (Movimento Anti-Colonial); a transformação do MAC (Movimento Anti-Colonial)em FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência); a denúncia anti-colonial de Londres com o apoio de Basil Davidson; a definitiva radicação em Conacri e a chamada Batalha de Conacri de neutralização dos movimentos independentistas fantoches e de criação do MLGCV (Movimento de Libertação da Guiné e de Cabo Verde); a criação do Lar dos Combatentes que acolheu os primeiros jovens recrutados e preparou-os para a mobilização política dos camponeses e para a luta político-militar; a chegada de armamento marroquino a Conacri com o devido relato de alguns dos episódios mais marcantes e caricatos, sob ameaça de prisão e fuzilamento dos protagonistas por alegado contrabando de armas; o início da luta armada na Guiné dita portuguesa; a Conferência dos Povos Africanos de Casablanca com incursões à vida privada dos apaixonados Amílcar e Maria Helena; a passagem de Che Guevara por Conacri e as suas conversas com Amílcar Cabral sobre as suas diferentes estratégias de luta político-militar; a preparação de combatentes caboverdianos em Cuba para o programado desembarque em Cabo Verde; a chegada de Spínola (sempre referido como General António Sebastião Ribeiro de Spínola) a Bissau para assumir as funções de Governador da Guiné e Comandante-Chefe das Forças Armadas Portuguesas na Província da Guiné; a libertação por iniciativa do General Spínola dos presos políticos guineenses anteriormente encarcerados no Tarrafal e nas prisões políticas da Guiné dita portuguesa e o discurso proferido nessa solene ocasião por Rafael Barbosa, até então Presidente do Comité Central do PAIGC, na presença do General Spínola, e imediatamente considerado de “alta traição” pela Direcção Superior do PAIGC e as dificuldades de Amílcar Cabral em conviver com esse inaudito facto praticado pelo grande mobilizador e seu amigo, Rafael Barbosa, em quem parece confiar até aos derradeiros minutos da sua vida; a audiência concedida aos líderes independentistas africanos Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos pelo Papa Paulo VI; o reconhecimento do PAIGC pela ONU como único e legítimo representante do povo da Guiné dita portuguesa na sequência da visita de uma Missão Especial da mesma organização universal às zonas libertadas da Guiné-Bissau.

A esses eventos relevantes ocorridos ainda em vida de Cabral e que tornaram plenamente legítima a utilização pelos seus companheiros e por ele próprio do agnome Homem Grande (do crioulo Homi Grandi, na escrita tradicional, dita etimológica, de Mário Lúcio Sousa) para se caracterizar e se fazer afirmar, acrescem outros eventos ocorridos já depois da morte de Amílcar Cabral, que, aliás, curiosamente continua a comparecer regularmente na intriga do romance, quer em razão das saudades que deixa e da (in)visível falta que faz junto dos camaradas, compatriotas, patrícios e entes queridos, quer mediante as suas numerosas aparições ante várias estirpes de africanos e em centros do racionalismo cristão frequentados por caboverdianos das ilhas e diásporas, onde sintomaticamente é tido por um grande espírito de luz, aparições essas convocadas para finalmente ele, Amílcar Cabral, esclarecer pela sua própria boca omnisciente a questão que nunca se calou urbi et orbe e que é: quem afinal mandou matar Amílcar Cabral?

Sejam referidos a título ilustrativo os seguintes importantíssimos eventos ocorridos no período pos-mortem de Amílcar Cabral: a batalha de Guiledje denominada Operação Amílcar Cabral e realizada no dia 25 de Maio de 1973 (Dia de África) e que determinou o início da definitiva derrocada do aparelho militar colonial-fascista português na Guiné e seria reforçado com a utilização dos mísseis strela pelas forças militares do PAIGC que ditariam o fim da supremacia aérea portuguesa na Guiné-Bissau; a realização do II Congresso do PAIGC para a escolha do sucessor de Amílcar Cabral com relato de alguns dos seus bastidores (aliás, tratados com mais pormenores tanto na obra, bastas vezes referida, de Julião Soares Sousa, como igualmente no também icónico livro Cabo Verde- Os Bastidores da Independência, de José Vicente Lopes, bem como nos livros anteriormente referidos de Aristides Pereira, Luís Cabral e José Pedro Castanheira) e tomada de medidas para concretização do seu Testamento Político exarado na sua última Mensagem de Ano Novo, com destaque para a proclamação unilateral do Estado soberano e independente da Guiné-Bissau e o seu maciço reconhecimento internacional; a proclamação, já depois do golpe de Estado do 25 de Abril de 1974 e em resultado da aceleração do processo histórico por ele desencadeado, da República de Cabo Verde no dia 5 de Julho, nosso maior ourgulho de caboverdianos, momento-chave a que Amílcar não podia deixar de estar presente, designadamente sob a forma de ventania que naquele dia se fez sentir quando se arriou a bandeira colonial portuguesa e se içou a bandeira ouro-rubro-verde munida das competentes estrela negra e concha marítima do Cabo Verde independente e soberano; e, finalmente, o golpe de estado de 14 de Novembro de 1980 liderado por João Bernardo (Nino) Vieira (então, depois da estranha e prematura morte de Francisco Mendes (Chico Té), Presidente do Conselho Nacional da Guiné do PAIGC e Comissário Principal - equivalente ao cargo de Primeiro-Ministro num regime de partido único e num sistema de governo de assembleia semi-presidencialista) e que destituiu Luís Cabral (então exercendo o cargo de Secretário-Geral Adjunto do PAIGC e as funções de Presidente do Conselho de Estado - equiparável a Presidente da República num regime de partido único e num sistema de governo de assembleia semi-presidencialista - da Guiné-Bissau, assim inaugurando um longo ciclo de golpes de estado no pais africano irmão e de que o próprio Nino Vieira seria uma vítima maior, quando no decurso de um desses golpes de estado foi barbaramente assassinado (no sentido mais literal do termo, pois que o mesmo foi barbaramente esquartejado pelos seus executores alegadamente para exorcismar toda a sua matchoandade, isto é, as suas qualidades de masculinidade/virilidade, segundo crenças muito difundidas na chamada África Negra). Praga de finado!, repetir-se-á por várias vezes no romance, a assinalar a omnipresença do Morto Imortal ainda a muitas vezes determinar (ou, pelo menos, a condicionar) o desfecho das coisas terrenas, mesmo depois do seu finamento, como, aliás, acreditam firmemente as mentalidades mágico-animistas e católico-supersticiosas, ainda muito correntes, senão dominantes, nas nossas sociedades africanas e afro-descendentes. Relembre-se neste contexto que, aquando da realização do II Congresso do PAIGC, em Julho de 1973, para a designação do sucessor de Amílcar Cabral no cargo de Secretário-Geral desse movimento de libertação bi-nacional, o nome de João Bernardo (Nino) Vieira, então um mítico comandante militar, foi indicado pelo alto dirigente bissau-guineense do PAIGC Fidélis Cabral de Almada, alegadamente para se prevenir a ocorrência de eventos futuros similares ao assassinato de Amílcar Cabral com o quiçá falacioso argumento da predominância de dirigentes caboverdianos (ou de dirigentes de origem caboverdiana, quando nascidos na Guiné portuguesa) nos mais altos cargos executivos do PAIGC. Como é sabido, o II Congresso do PAIGC optou pelos nomes de Aristides Pereira (antigo Secretário-Geral Adjunto de Amílcar Cabral e Secretário-Geral interino após a morte de Amílcar Cabral) e de Luís Cabral (meio-irmão e antigo membro da muitíssimo restrita Comissão Permanente do PAIGC, anteriormente constituída pelo triunvirato formado por Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral, os quais, com os comandantes Osvaldo Vieira, João Bernardo (Nino) Vieira e Francisco Mendes (Chico Té) compunham o Conselho de Guerra - o mais alto órgão político-militar do PAIGC), respectivamente como Secretário-Geral e Secretário-Geral Adjunto do PAIGC. Teve-se todavia nessa ocasião o bom senso de alargar e integrar na Comissão Permanente do PAIGC os comandantes Chico Té e Nino Vieira, ficando de fora desse muitíssimo restrito alto órgão executivo do movimento de libertação bi-nacional o comandante Osvaldo Vieira (substituído no Conselho de Guerra por Pedro Pires), sobre o qual, para além dos graves problemas de alcoolismo de que padecia, recaíam fortes suspeitas de envolvimento na conspiração para a eliminação política/para o assassinato do Homem Grande Amílcar Cabral. Aquando das realização, em 1977, do III Congresso do PAIGC (o único e derradeiro depois das independências nacionais), a Comissão Permanente do PAIGC passou a integrar, além dos quatro altos dirigentes supra-referenciados, os nomes de Pedro Pires, Abílio Duarte, Umaro Djaló e Tchutchu Axon, sendo que Francisco Mendes viria a falecer, em circunstâncias um tanto misteriosas antes da consumação do golpe de estado de 14 de Novembro de 1980, liderado por Nino Vieira.

Segundo o romance A Última Lua de Homem Grande existiria na Guiné e entre os guineenses o chamado síndroma do caboverdiano, circunstância essa fundada no modo específico como o colonialismo português se serviu dos caboverdianos na colonização da Guiné dita portuguesa e que levou René Pelissier a

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