Sem uma reforma interna substancial e sem líderes capazes de desafiar o atual modelo de governança, o MpD continuará a perder relevância e a afastar-se de suas bases. O preço da inércia será alto, não apenas para o partido, mas também para a democracia cabo-verdiana, que carece de uma oposição vigorosa e genuína. A história cobrará seu preço daqueles que optaram pela complacência em detrimento da renovação. E, neste momento crítico, o MpD parece mais interessado em reafirmar o fracasso do que em reverter o seu destino.
É de se esperar que a reunião da Direção Nacional do MpD culmine com um comunicado de imprensa que reafirme o apoio incondicional a Ulisses Correia e Silva, com os argumentos de sempre: "as eleições autárquicas não refletem as legislativas" e "a liderança de Ulisses continua inquestionável". Esta narrativa, que ignora duas derrotas consecutivas avassaladoras, serve apenas para blindar uma liderança em crise, enquanto a realidade mostra um partido desconectado dos eleitores e atolado em erros estratégicos.
A direção deve, mais uma vez, culpar a escolha dos candidatos pelas derrotas recentes, desviando o foco da verdadeira raiz do problema: a falta de renovação, a incapacidade de promover reformas internas e a centralização autoritária do poder. Enquanto isso, a insatisfação cresce entre os militantes, que assistem ao declínio do partido sem qualquer perspectiva de mudanças significativas.
A Descaracterização de um Órgão Essencial
A Direção Nacional do MpD deixou de ser um espaço deliberativo para se transformar num palco de submissão e conformismo. Desde que Ulisses Correia assumiu a presidência do partido, o órgão foi progressivamente despojado de sua independência, tornando-se um mecanismo para validar decisões já tomadas pelo líder. Ao alterar o estatuto do MpD, Ulisses consolidou a figura presidencial como o centro incontestável de poder. Essa mudança não apenas enfraqueceu a pluralidade interna, mas também subverteu os valores democráticos que deveriam nortear um partido político. A inclusão de membros escolhidos por conveniência pessoal – e não por mérito ou representatividade – é uma afronta à legitimidade do órgão e uma demonstração de autoritarismo camuflado.
Um Discurso Desgastado e Ineficaz
As justificativas previstas para serem apresentadas na reunião já não convencem nem os mais fiéis militantes. As derrotas eleitorais são sistematicamente atribuídas a fatores externos ou a escolhas equivocadas de candidatos, ignorando a centralização do poder e a ausência de estratégias coerentes.
No entanto, a repetição desse discurso é um sintoma de uma liderança obstinada, que se recusa a reconhecer sua própria responsabilidade no colapso do partido. Este modelo de governança estático e autocentrado distancia o MpD dos eleitores e alimenta uma crise interna cuja resolução parece cada vez mais distante.
Um Partido Refém de sua Liderança
O MpD encontra-se numa crise estrutural que exige uma revolução interna. No entanto, o medo de represálias e a falta de alternativas viáveis perpetuam a estagnação. Os vice-presidentes, que deveriam representar um contrapeso à figura presidencial, não demonstram a coragem necessária para confrontar os erros evidentes da liderança atual. Ulisses Correia insiste numa gestão teimosa e isolada, resistindo a qualquer tentativa de renovação. A recusa em promover uma reestruturação significativa nas estruturas do partido ou no governo – substituindo ministros ineficientes por quadros qualificados – evidencia um desinteresse em corrigir os rumos. Essa obstinação só reforça a percepção de que o partido não está à altura dos desafios impostos pela realidade política e social do país.
Transparência e Credibilidade em Colapso
A falta de transparência é outro fator que agrava a crise do MpD. A opacidade na gestão financeira e na tomada de decisões internas mina a confiança dos militantes e gera descontentamento entre a base partidária. A concentração de poder no secretário-geral – uma figura escolhida pela lealdade ao líder, e não pela competência ou credibilidade – reflete a ausência de pluralidade e a manipulação dos mecanismos internos. O partido precisa urgentemente de uma liderança que valorize a transparência e permita que os militantes participem efetivamente dos processos decisórios. Somente assim será possível resgatar a confiança e reconstruir a identidade política que outrora caracterizou o MpD.
Uma Oportunidade Desperdiçada
A reunião da Direção Nacional poderia ser um momento de reflexão e ação transformadora. Contudo, tudo indica que será mais uma oportunidade perdida para enfrentar os problemas estruturais do partido. Ao insistir em manter o status quo, Ulisses Correia não apenas compromete o futuro do MpD, mas também reforça a percepção de que o partido está em declínio irreversível.
O Preço da Inércia
O MpD precisa urgentemente de uma liderança disposta a romper com os vícios do passado e a promover mudanças estruturais profundas. A centralização autoritária, o favoritismo nas nomeações e a resistência em adotar práticas transparentes são elementos que estão corroendo as bases do partido.
Sem uma reforma interna substancial e sem líderes capazes de desafiar o atual modelo de governança, o MpD continuará a perder relevância e a afastar-se de suas bases. O preço da inércia será alto, não apenas para o partido, mas também para a democracia cabo-verdiana, que carece de uma oposição vigorosa e genuína. A história cobrará seu preço daqueles que optaram pela complacência em detrimento da renovação. E, neste momento crítico, o MpD parece mais interessado em reafirmar o fracasso do que em reverter o seu destino.
Comentários
Domingos Cardoso, 3 de Jan de 2025
Os do MpD, todos, deviam ler este texto com muita atenção
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
Casimiro centeio, 2 de Jan de 2025
Mpd de Ulisses é um cadáver procrastinado. Procrastinou-se, adiou-se porque ainda consta-se da lista de espera para se sucumbir definitivamente !
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.