Jurgen Lang, linguista estudioso do crioulo cabo-verdiano, defendeu hoje à margem de uma conferência, na Praia, que a aprendizagem sólida de uma língua materna, na escola, é a melhor base para aprender outras línguas.
“Para as crianças é um problema: entram na escola, cai-lhes o português em cima quando acabaram de aprender a língua materna e têm de encontrar o seu caminho numa língua estrangeira”, referiu o académico alemão aos jornalistas, em crioulo.
“É uma decisão que a sociedade cabo-verdiana deve tomar”, acrescentou.
“Eu, como linguista, acho que uma base solida na língua materna é o melhor ponto de partida para aprender outras línguas estrangeiras”, indicou.
Jurgen Lang abriu um dia de reunião de investigadores na edição de 2025 do Fórum da Língua Materna Cabo-Verdiana, organizado anualmente pela associação Alma-KV/CV, no âmbito do Dia Internacional da Língua Materna – que se assinala a 21 de fevereiro – e associado aos 50 anos da independência do arquipélago, que se celebrará a 05 de julho.
O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, tem defendido que a efeméride deveria servir para oficializar o crioulo como língua oficial, a par do português.
Questionado sobre o assunto, Jurgen Lang escusou-se a responder: “Isso não cabe a um estrangeiro dizer, mas, se for oficializado, deve ser ao lado do português, porque essa possibilidade de comunicar com todos os países lusófonos é uma grande vantagem que não se deve perder”.
Apesar da predominância do inglês, com ajuda das novas tecnologias, o linguista aponta para a prevalência da diglossia – coexistência de duas línguas ou dialetos numa comunidade – em redor do globo e mesmo em países europeus, como a Alemanha, França ou Reino Unidos.
O crioulo cabo-verdiano é a língua materna em Cabo Verde, embora com variantes nas diferentes ilhas e nos últimos anos intensificou-se o movimento da sociedade civil a pressionar a sua elevação a língua oficial.
O artigo 9.º da Constituição da República de Cabo Verde, de 1992, define apenas o português como língua oficial, mas também prevê que o Estado deve promover "as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa".
Um grupo de quase 200 personalidades cabo-verdianas lançou em 2022 uma petição nesse sentido e pediu apoio do chefe de Estado para a promoção da língua.
No mesmo ano, vários ativistas criaram a Associação da Língua Materna Cabo-verdiana para impulsionar uma "voz cada vez mais ativa" e uma "mudança" de política linguística no país.
Comentários
Gisela, 17 de Fev de 2025
Respeito a opinião do senhor investigador.
No entanto.desejaria , sem muitos floreados, ne explucasse a habilidade que os meus avós e paus, com 4 anos de escolaridade, tinham em dominar o português e o criolo ( 8 horas de utilização cada uma por dia) o que hoje nao acontece .
É ver a dificuldade que um aluno do 12/o
ano tem em escrever e ler duas linhas do português.
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