Onde estão as homenagens aos heróis da nossa cultura? Onde está o agradecimento por tudo o que nos deram? A verdade é que a responsabilidade não é apenas do Estado, mas de todos nós. Somos nós que nos refugiamos na desculpa de que a morte não vai chegar e acreditamos piamente que serão eternos. Somos nós que ignoramos aqueles que, um dia, foram os pilares da nossa cultura. A velhice não deveria ser uma sentença de isolamento, e o respeito pelos mais velhos não deveria ser opcional. Porque um dia, seremos nós… E quando chegar a nossa vez, será que alguém virá?
Os anos chegam como marés teimosas, um ciclo inevitável que desgasta o corpo e curva as costas. O tempo pesa nos ossos, na pele que enruga, na voz que treme e nas pernas que já não têm a firmeza de antes. Envelhecer é natural, mas a forma como tratamos os nossos idosos é uma escolha.
Foram eles que levantaram este país com as suas mãos, com o seu suor e as suas lutas. Foram eles que deram alma à nossa cultura, que transmitiram valores e histórias de gerações passadas. Mas hoje, muitos vivem na solidão, esquecidos em casas onde o silêncio se impõe. As suas cadeiras vazias são um reflexo de um abandono que vai além da falta de dinheiro. É a falta de presença, a falta de cuidado, a falta de humanidade.
Recentemente, foi noticiada a morte de Gene Hackman, um actor icónico que, aos 95 anos, perdeu-se no labirinto do Alzheimer e morreu sozinho, desorientado, sem saber o que estava a acontecer ao seu redor. O homem que, em sua época, foi aplaudido e admirado, morreu sem a presença dos que lhe deviam carinho e respeito. A sua morte não foi marcada pela doença, mas pela ausência: a falta de memória, de atenção, de reconhecimento. O eterno “Lex Luthor” teve um fim triste, sem as homenagens que a sua carreira e talento mereciam.
Esta história, embora dolorosa, não é única, e muito menos distante da nossa realidade. Quantos dos nossos, os que deram tudo pela nossa cultura, pela nossa história, partem em silêncio, sem que ninguém se lembre deles? Quantos dos nossos músicos, por exemplo, que um dia foram o coração da nossa música, agora vivem em esquecimento? Gente que embalou gerações, cujas mãos tocaram mornas, coladeiras, e que hoje, não encontram mais palcos, já não são convidados, e não recebem os aplausos que merecem.
Onde estão as homenagens aos heróis da nossa cultura? Onde está o agradecimento por tudo o que nos deram?
A verdade é que a responsabilidade não é apenas do Estado, mas de todos nós. Somos nós que nos refugiamos na desculpa de que a morte não vai chegar e acreditamos piamente que serão eternos. Somos nós que ignoramos aqueles que, um dia, foram os pilares da nossa cultura.
A velhice não deveria ser uma sentença de isolamento, e o respeito pelos mais velhos não deveria ser opcional.
Porque um dia, seremos nós…
E quando chegar a nossa vez, será que alguém virá?
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