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"O Príncipe de Cabo Verde: Ulisses Correia e Silva e a Arte da Política"
Colunista

"O Príncipe de Cabo Verde: Ulisses Correia e Silva e a Arte da Política"

A estratégia de Ulisses Correia e Silva é um exemplo notável de manipulação política e controle de poder. Ao eliminar opositores dentro de seu próprio partido, aproximar-se dos descontentes da oposição e implementar medidas econômicas estratégicas, ele conseguiu consolidar seu poder de maneira eficiente. Seu foco em objetivos pessoais, muitas vezes à custa dos interesses partidários e nacionais, levanta questões importantes sobre a ética e a moralidade na política. No entanto, sua capacidade de manobra e adaptação às circunstâncias demonstra uma inteligência política brutal e uma compreensão profunda do jogo de poder tornando-lhe o Principe da capital.

Ulisses Correia e Silva, líder do Movimento para a Democracia (MpD) em Cabo Verde, emergiu como uma figura de proeminente astúcia e perspicácia política. A primeira vista, ele pode parecer desprovido de intelectualidade. Muito calmo e sereno, frequentemente ostenta um sorriso cínico, com as mãos cruzadas e os olhos focados nas câmaras, para passar a imagem de um bom líder. No entanto, estamos perante um dos políticos mais sagazes e ardilosos que este país já teve em sua história. Desde que assumiu a liderança do MpD, sua abordagem tem sido caracterizada por uma estratégia meticulosa e, por vezes, maquiavélica, destinada a consolidar seu poder pessoal e político, à custa da integridade partidária e do bem-estar nacional. Esta análise busca explorar as táticas de Ulisses, contextualizando suas ações à luz de teorias políticas clássicas e modernas.

A Purificação Interna: Eliminação dos Dissidentes

Quando Ulisses Correia e Silva assumiu a liderança do MpD, uma das suas primeiras medidas foi eliminar do partido aqueles que criticavam ou escreviam negativamente sobre a oposição. Esta ação pode ser interpretada através do prisma da teoria do poder de Michel Foucault, que argumenta que "o poder não é uma instituição, nem uma estrutura; é uma relação de forças" (Foucault, Vigiar e Punir). Ao silenciar as vozes dissidentes, Ulisses não apenas consolidou seu controle interno, mas também fortaleceu a coerência e a disciplina partidária, elementos essenciais para a manutenção do poder.

Aproximação com os Descontentes do PAICV

Ulisses reconheceu que, para enfraquecer a oposição, era crucial ganhar o apoio daqueles que estavam insatisfeitos com a liderança do PAICV. Esta manobra pode ser analisada sob a ótica de Antonio Gramsci e sua teoria da hegemonia, onde o poder não é apenas mantido pela força, mas também pelo consentimento obtido através da construção de alianças e concessões estratégicas (Gramsci, Cadernos do Cárcere). Ao se aliar com figuras influentes do PAICV, Ulisses conseguiu não apenas minar a oposição, mas também ampliar sua base de apoio fora do quadro partidário tradicional. Volta e meia, ele manda publicar de forma premeditada fotografias ao lado de pessoas da oposição para passar essa ideia e consolidar o princípio de ser um homem bom e admirado até por pessoas de partidos diferentes.

Manipulação Eleitoral: O Caso dos Estados Unidos

Um exemplo notável da eficácia desta estratégia foi observado nas eleições para o círculo eleitoral dos Estados Unidos. Tradicionalmente, o PAICV tinha uma forte presença e poderia facilmente garantir dois deputados. No entanto, faltavam cerca de 60 votos para alcançar este objetivo nas últimas eleições. A influência de alguns dirigentes do PAICV, combinada com a estratégia de Ulisses de desencorajar a participação eleitoral entre os militantes da oposição, resultou em uma baixa participação. Este movimento permitiu que Ulisses garantisse um deputado, salvando sua vida política neste importante círculo eleitoral.

Reformulação politica do MpD

Internamente, Ulisses também implementou várias movimentações para reformular o MpD. Muitos críticos dentro do partido acreditavam que ele estava destruindo a estrutura tradicional do MpD. No entanto, sua estratégia pode ser vista como uma tentativa de renovar o partido, mantendo a mesma nomenclatura, mas com personalidades diferentes que poderiam oferecer uma sustentabilidade política a longo prazo. Ulisses parece mais focado em alcançar seus objetivos pessoais, independentemente das consequências para o MpD ou o PAICV.

Controvérsias e Conspirações

A estratégia de Ulisses sempre levantou suspeitas e teorias de conspiração entre os membros do MpD. Muitos ferrenhos do partido negaram a ideia de que Ulisses estava manipulando o cenário político para seu ganho pessoal. No entanto, os sinais de sua estratégia começaram a ficar mais evidentes com o tempo. Um exemplo claro disso foi quando Ulisses visitou Boston e organizou uma comitiva luxuosa, enquanto a comunidade local planeava uma homenagem ao Dr. Carlos Veiga, uma figura emblemática do MpD. Ulisses ordenou que todos os membros do governo não participassem do evento, mostrando sua lealdade a uma certa elite do PAICV e buscando apagar a figura de Veiga como líder emblemático do partido. Se Veiga tivesse vencido as eleições presidenciais, a equação política para a ambição presidencial de Ulisses não passaria de uma quimera. Diante desse cenário, Ulisses não teve outra alternativa senão proceder com a eliminação estratégica e calculada do Dr. Carlos Veiga, esperando pacientemente que o tempo dissipasse as mágoas e ressentimentos dos seus seguidores.

A aliança estratégica entre Ulisses e Olavo Correia pode ser vista como um exemplo de "homicídio político". Este termo refere-se à eliminação sistemática de opositores e críticos dentro do partido para consolidar o poder. Ulisses ordenou a eliminação de um grupo de apoiantes de Carlos Veiga que já tinham tudo preparado para controlar as eleições presidenciais nos EUA, substituindo-os por pessoas de credibilidade duvidosa para prejudicar intencionalmente a imagem de Veiga.

Manipulação Econômica e Eleitoral

A aproximação das eleições viu Ulisses adotar medidas econômicas impopulares, como o aumento do preço de produtos de primeira necessidade e a criação de novos impostos. Essas ações, embora prejudiciais para a população, foram estratégicas para criar um ambiente de descontentamento que ele poderia explorar a seu favor. Após criar esse cenário desfavorável, Ulisses aparecia ao lado dos militantes do MpD, fingindo estar alheio aos problemas criados, enquanto, nos bastidores, continuava a manter alianças com figuras proeminentes do PAICV.

Resumindo:

A estratégia de Ulisses Correia e Silva é um exemplo notável de manipulação política e controle de poder. Ao eliminar opositores dentro de seu próprio partido, aproximar-se dos descontentes da oposição e implementar medidas econômicas estratégicas, ele conseguiu consolidar seu poder de maneira eficiente. Seu foco em objetivos pessoais, muitas vezes à custa dos interesses partidários e nacionais, levanta questões importantes sobre a ética e a moralidade na política. No entanto, sua capacidade de manobra e adaptação às circunstâncias demonstra uma inteligência política brutal e uma compreensão profunda do jogo de poder tornando-lhe o Principe da capital.

Em última análise, Ulisses Correia e Silva emerge como uma figura polarizadora na política cabo-verdiana. Sua abordagem implacável e estratégica pode garantir sua posição de poder no curto prazo, mas a longo prazo, a verdadeira sustentabilidade de suas ações será testada pelo tempo e pela reação dos eleitores e membros do partido. A história de sua liderança é um estudo fascinante de como o poder pode ser conquistado e mantido através de uma combinação de carisma, manipulação e cálculo estratégico. 

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Comentários

  • Domingos Ramos Cardoso, 8 de Jul de 2024

    Uma leitura muito bem conseguida do carater político do atual Primeiro Ministro