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A Idiossincrasia sociocultural africana-ocidental arquipelágica
Colunista

A Idiossincrasia sociocultural africana-ocidental arquipelágica

...para vencer esta época da pandemia que nos assola, socioeconómica e culturalmente resta-nos a “esperança” como motivação prioritária para continuarmos a lutar para salvar vidas e evitar a proliferação de Covi19 efec

Cabo Verde enquanto colónia, subiu quinhentos anos de rígida estratificação social: o “colono”, classe dominadora, mais a classe intermediária denominada ”morgado” e a classe trabalhadora “aqui sublinhamos, especialmente o “camponês”. A economia de subsistência, o social e o cultural ficaram, também, “viciados” pela visão paternalista e feudal e eram sempre caracterizados e marcados pelo pesado centralismo burocrático uma verdadeira simbiose entre Estado Novo Colonizador e a Igreja, dentro da qual esta última desempenhava o papel todo-poderoso de inquisidor e crítico, sobretudo em relação à inovação e ao conhecimento.

Entretanto, somos verdadeiras ilhas africanas da “periferia”. A própria metrópole colonizadora era também "excêntrica" ​​(longe do centro) em relação aos padrões centrais da civilização ocidental, porque nunca se enraizou-se, formalmente com o “Renascimento e o Iluminismo”, como fizeram a França, a Inglaterra, a Itália, a Alemanha ou a Holanda..., talvez (isto é uma conjectura), em virtude da aculturação e da miscigenação racial…

A metrópole, colonial experimentou, os dois movimentos, acima mencionados, apenas para fazê-lo em seus próprios termos. O Renascimento português não se assemelha ao do italiano, nem ao do francês ou ao do inglês e não é um produto relacionado á intersecção de influências. A metrópole colonial assumiu tanto o Iluminismo e o Renascimento com um caráter autônomo enriquecido com o florescimento das suas próprias expressões artísticas, humanísticas e científicas. Em essência, o resultado foi o produto da chamada “Era dos Descobrimentos”, caracterizando a metrópole como potência marítima que foi, abrindo suas mentes e enriquecendo-se pelo contacto com diversas civilizações africanas...

Cabo Verde ficou situado, culturalmente entre as fronteiras que delimitam a civilização ocidental, mas ocupando ao mesmo tempo e na mesma área maior proximidade, naturalmente, com a cultura africana manifestada globalmente, graças á nossa autenticidade universal que denominamos de cabo-verdianidade e ou morabeza, a não confundir com a ocidentalização.

Como habitantes ilhéus atlânticos da periferia, temos a capacidade de nos movimentarmos livremente no interior da cultura ocidental e na da africana tendo ao mesmo tempo a possibilidade de atravessá-las e olhar para elas de fora com um olhar crítico e às vezes ficamos surpresos. Acredito que poucas outras regiões têm essa capacidade com a certeza porém de sermos caso único no atlântico médio! Como resultado, dessa misciginação, somos excelentes no desenvolvimento do pensamento “transversal”. Não é em vão que o realismo mágico é a nossa marca registada. Criatividade, imaginação e improvisação nos distinguem sobretudo nas nossas várias áreas musicais autóctones distintas.

Porém, se nos destacamos em áreas que requerem um certo talento, obtemos mesmo assim, ainda, uma pontuação baixa em sistematização, disciplina e método. Não é novidade que somos reconhecidos mundialmente através da música e também detentor de uma literatura de qualidade, dentro do mundo lusófono, a “CPLP”. Infelizmente, a falta de método, disciplina e vontade politica pesou, fazendo-nos continuar a ser, vai fazer neste ano de 2021, 46 anos um país socioeconómico ainda por desenvolver, marcada por uma profunda assimetria social.

Os tempos que virão, entretanto, podem aumentar nossas virtudes e diminuir o significado das nossas limitações. Temos o dever em relação á juventude cabo-verdiana de tudo fazer para vencer as incompatibilidades e sobretudo o desemprego jovem efectuando o salto para frente virado para o tecnológico, inteligência artificial e robótica forjando, novas soluções orientadas rompendo com o quotidiano da dependência, acreditando que a resposta é politica e é possível que o que consideramos moderno hoje, será obsoleto em uma década e não estamos na linha da frente. A educação continuada se tornará, portanto, o eixo central do processo educacional. No entanto, a capacidade de desaprender o que foi aprendido será a peça central dessa educação e temos que mudar. Devemos necessariamente crescer e na justiça social em todas as nove ilhas habitadas. Entramos na décima legislatura

A fixação nos paradigmas será, com efeito, a maior limitação que se irá enfrentar. Só a capacidade de poder abandonar o que até ao dia anterior parecia uma sabedoria aceite, permitirá adaptar-se à velocidade das mudanças, senão ficaremos continuadamente para trás. Mas com as várias crises e dificuldades vividas durante anos e anos tendo muitas delas vencidas, estamos hoje na democracia vivendo na estabilidade política, mas temos de inventar um processo adaptativo, se necessário for. O método e a disciplina irão, inevitavelmente, atuar como âncoras aos conhecimentos adquiridos, dificultando a adaptação e aumentando resistências às mudanças e mesmo inovações, como acontece naturalmente, mas “mudança de facto“ necessita-se, nestas dez ilhas…

Criatividade, pensamento lateral, imaginação e capacidade de improvisar serão os elementos mais valorizados nesta era e tempos que se aproximam. As características que derivam da nossa condição de ilheus da “periferia” terão de se adaptar perfeitamente as demandas dos novos tempos para transformarmos este arquipélago sem recursos

E para vencer esta época da pandemia que nos assola, socioeconómica e culturalmente resta-nos a “esperança” como motivação prioritária para continuarmos a lutar para salvar vidas e evitar a proliferação de Covi19 efectuando a vacinação massiva da população em todas as ilhas habitadas para realizarmos a retoma económica e recuperar o turismo.

miljvdav@gmail.com

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