José Luís Rocha: O Embaixador Entre a Ironia e a Tempestade
Ponto de Vista

José Luís Rocha: O Embaixador Entre a Ironia e a Tempestade

"A ideia de integração regional na CEDEAO pode ser tão atraente quanto um oásis no deserto, na prática, ela se revela muitas vezes uma miragem. Para Cabo Verde, talvez seja hora de ajustar as velas e buscar novos horizontes, onde as águas sejam mais calmas e as parcerias mais frutíferas. Afinal, em um mundo de escolhas infinitas, por que se limitar a um menu que já se provou insatisfatório?"

O inimitável José Luís Rocha, cuja habilidade para o cinismo rivaliza com a de um macaco altamente treinado em artes de palco, no Expresso das ilhas de 19 de Fevereiro do corrente ano, aconselha Cabo Verde a “acertar ponteiros de vez” com a CEDEAO. Este distinto cavalheiro, após uma estadia glamorosa em Nova York, desfrutando das delícias da representação cabo-verdiana com o que podemos imaginar ser um ar de sofisticação digno de um filme, subitamente desenvolveu um peculiar interesse meteorológico pela CEDEAO. Como um noviço fantasioso e entusiasta da previsão do tempo, ele nos adverte, com um sorriso torto de ironia, sobre a iminente tempestade que, segundo ele, ameaça desabar sobre a região. E’ difícil não admirar a súbita transformação de nosso estimado diplomata, de socialite nova-iorquino a profeta das chuvas africanas.

Como não se encantar com essa tentativa de dançar ballet em um campo de batalha? A CEDEAO, com suas intenções mais puras que o coração de um recém-nascido, infelizmente, tropeça em seus próprios pés, mostrando-se tão eficaz quanto um guarda-chuva em um furacão.

E então temos Cabo Verde, essa pérola insular, tentando nadar em águas turbulentas com a esperança de que a CEDEAO seja seu salva-vidas. Ao invés de nadar, parece mais que está sendo levado pela correnteza, direto para o abismo da irrelevância. A experiência europeia de integração, frequentemente citada como um farol de esperança, brilha tão intensamente para a África Ocidental quanto uma vela em plena luz do dia. A tentativa de imitar esse modelo, ignorando as particularidades locais, é como tentar vestir um elefante com a roupa de um gato. Sim, ambos são animais, mas as semelhanças param por aí.

Quanto às crises políticas e de segurança, a CEDEAO tem se mostrado tão competente em lidar com elas quanto um elefante em uma loja de porcelanas. Golpes de Estado, instabilidade política, violações dos direitos humanos, enfim a lista de sucessos é tão vasta quanto o deserto do Saara. Para Cabo Verde, esse cenário é menos uma oportunidade e mais um lembrete de que, às vezes, é melhor navegar sozinho do que em má companhia.

E não nos esqueçamos das relações de Cabo Verde com a Europa e as Américas, tão ricas e profundas quanto uma novela de época. Em comparação, a sua relação com a CEDEAO parece mais um flerte de verão, passageiro e sem substância. Afinal, por que se contentar com um cardápio limitado quando se pode ter um banquete à disposição?

A argumentação a favor da integração na CEDEAO frequentemente parece desconectada da realidade, como se estivesse flutuando no espaço, longe das preocupações terrenas. Os defensores dessa causa, possivelmente sonhando com dias de glória que só existem em suas cabeças, parecem esquecer que as estratégias eficazes são forjadas na fornalha da realidade, não na névoa dos ideais.

A ideia de integração regional na CEDEAO pode ser tão atraente quanto um oásis no deserto, na prática, ela se revela muitas vezes uma miragem. Para Cabo Verde, talvez seja hora de ajustar as velas e buscar novos horizontes, onde as águas sejam mais calmas e as parcerias mais frutíferas. Afinal, em um mundo de escolhas infinitas, por que se limitar a um menu que já se provou insatisfatório?

E assim, ao final de nossa epopeia, não podemos deixar de lançar um último olhar, meio incrédulo, meio divertido, sobre o espetáculo de um só homem: o incomparável José Luís Rocha. Após uma temporada deslumbrante nos palcos nova-iorquinos, onde desfrutou do fino néctar da diplomacia com o esmero de um epicurista, nosso herói retorna, transformado não pela sabedoria, mas pela inesperada paixão pelas previsões climáticas da CEDEAO. É como se, em meio ao brilho e glamour da Grande Maçã, ele tivesse esquecido de provar o mais essencial dos frutos: o da humildade e do aprendizado genuíno. Em vez disso, prefere agora adornar-se com o manto do cinismo, tecido com fios de ironia tão finos que quase poderíamos perdoá-lo por pensar que é invisível.

Sim, caros leitores, José Luís Rocha, com a pompa de um aristocrata renascentista que descobriu que pode, afinal, prever o tempo, nos oferece sua visão — uma visão tão clara quanto a lama — sobre os perigos e tempestades que a CEDEAO enfrenta, como se ele próprio não tivesse se banhado nas águas tranquilas de um sistema que agora parece desdenhar com a delicadeza de um elefante numa loja de cristais.

E que dizer de Cabo Verde, essa joia insular arrastada para o turbilhão das suas retóricas? Seria cômico, se não fosse trágico, que nosso estimado visionário não veja que, ao apontar para a tempestade com uma mão, com a outra segura um guarda-sol furado, oferecendo soluções que se desmancham ao primeiro sinal de vento.

No fim das contas, o que José Luís Rocha nos oferece não é um mapa para navegar pelos mares tempestuosos da integração regional, mas uma bússola que aponta invariavelmente para o Norte de seus próprios interesses, uma direção que, por coincidência, converge com o brilho e glamour de sua temporada em Nova York. Se há algo a aprender aqui, é que, em um mundo onde as escolhas são infinitas, nosso querido embaixador escolheu a ironia como sua bússola, uma escolha que, embora faça rir, pouco faz para iluminar o caminho a seguir.

 

Djuse D’erriba. March 2024, USA

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