A notícia é do New York Times e revela que esta terá sido a derradeira tentativa de Donald Trump para, no pós-eleição, tentar desferir o seu maior e derradeiro golpe contra Nicolás Maduro, seu "inimigo de estimação", e que acredita estar por detrás das acções de Alex Saab, o empresário visto pelos Estados Unidos como o arquitecto dos negócios que mantém o presidente venezuelano no poder. Qual era a missão? Impedir uma hipotética fuga de Saab da prisão onde se encontra na ilha do Sal.
Na verdade, conforme relata o NYT, o mais prestigiado jornal do mundo, esta "missão secreta" com o navio de guerra San Jacinto estava para acontecer desde Junho, quando o empresário colombiano ao serviço da Venezuela foi detido na ilha do Sal para reabastecer seu jacto privado na sua viagem para o Irão, outro país inimigo declarado dos EUA.
Entretanto, a missão militar sigilosa de Washington seria colocada em prática em Novembro, na mesma altura em que Donald Trump decidiu demitir o secretário de Defesa, Mark Esper, que era contra a ideia - chegou até a chamá-la de ridicula, descartando ao mesmo tempo a possibilidade de fuga do empresário colombiano -, e nomear Christopher Miller, antigo conselheiro de contraterrorismo, que não pensou duas vezes para autorizar a saída do San Jacinto em direcção a Cabo Verde, onde teria como único objectivo "manter olho vivo" em Alex Saab, cidadão que os EUA exigem a sua extradição para o julgar por lavagam de crime e outros crimes alegadamente cometidos.
Esper, segundo o New York Times, consideou no Verão ser a favor da extradição, mas que tal teria de ser realizada sem navios de guerra da Marinha.
Em vez disso, prossegue o NYT, a administração Trump despachou em Julho o cortador da Guarda Costeira Bear para Cabo Verde em Agosto, tendo o Comandante Jay W. Guyer, porta-voz da Guarda Costeira dos EUA, afirmado que o Bear conduziu uma patrulha conjunta com a Guarda Costeira de Cabo Verde “para combater a pesca ilegal, não regulamentada e não declarada” e que também participou num treino de busca e salvamento perto de Cabo Verde, uma versão que também foi avançada pelas autoridades cabo-verdianas na altura.
E foi já com Esper fora do baralho, em Novembro, que a administração Trump decide enviar o navio de guerra San Jacinto para estacionar nas águas de Cabo Verde, o que, na óptica do NYT, é a última viragem ou um golpe nas relações entre os EUA e a Venezuela uma vez que Trump havia garantido em 2017 que a opção militar estava fora de questão no seu conflito com Maduro, que não reconhece como presidente da Venezuela e sim Juan Guaidó. Mas, recorde-se, em 2018, o agora presidente cessante do EUA reuniu-se com militares rebeldes venezuelanos para afastar Maduro. E em Agosto interceptou, com recurso navio militar, mais de um milhão de barris de petróleo da Venezuela que tinham como destino o Irão.
Daí que, para Eric Schmitt e Julie Turkevitz, os autores do artigo, "não foi surpresa que os assessores do governo tenham ficado exultantes quando as autoridades em Cabo Verde prenderam o Sr. Saab em sua parada de combustível, em resposta a um alerta de procuração da Interpol conhecido como aviso vermelho, que estava em vigor devido às acusações americanas de lavagem de dinheiro".
O Governo da Venezuela, através do seu ministro dos Negócios estrangeiros, Jorge Arreaza, negou essas acusações e disse que tudo irá fazer para "proteger os direitos humanos" de Alex Saab, pois estava em missão diplomática e fez escala na ilha do Sal para reabastecimento.
Ora, esta reacção e pronto apoio do executivo liderado por Nicolás Maduro a Saab, preocupou os conselheiros do departamento de Estado norte-americano, que rapidamente, segundo o NYT, cogitaram a possibilidade de a Venezuela e o Irão colocarem seus operacionais em Cabo Verde para resgatar Alex Saab.
Foi, na versão do NYT, esta ideia ou desconfiança que fez Trump optar pelo envio de um navio de guerra para as águas de Cabo Verde em Novembro.O San Jacinto já regressou aos EUA depois de mais de mês e 52 mil dólares de custo diário, de modo a permitir que os 393 membros da tripulação pudessem comemorar o Natal com a família. Entretanto, o Pentágono negou ao New York Times que o navio tenha estado em Cabo Verde para vigiar Alex Saab, mas sim para ajudar na luta contra o tráfico internacional e outros ilícitos.
Seja como for, o certo é que este "folhetim" Alex Saab está a repercutir um pouco por todo o lado. Segundo o NYT, depois de Cabo Verde deter o empresário colombiano que estaria em escala no Sal no caminho para o Irão, mais dois outros países africanos (não revelam o nome) recusaram a escala de aviões da Venezuela com destino ao Irão porque estariam a transportar espiões iranianos, comandantes ou até advogados que tentam impedir a extradição de Alex Saab. Isso porque receiam estar no meio de uma luta político-ideológica que não lhes interessa, de todo, interferir para não sairem "esmagados".
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