A carga de pressão que é colocada sobre os alunos, no dia-a-dia, com os trabalhos nas escolas e os TPC, muitas vezes, como forma de acelerar o cumprimento dos programas (que são demasiadamente extensos) é insuportável. Privilegia-se o cumprimento dos programas e a quantidade, ao invés de alunos e a qualidade de respostas para as suas necessidades educativas. O que conta é quantidade de aprovação, mesmo que, de ponto de vista de desenvolvimento educacional para a formação cidadã (a preparação para a vida), os resultados sejam nulos. Aliás, estes nem são tidos em conta nas nossas escolas.
De alguns anos a esta parte, tem sido recorrente a notícia de meninas que se desmaiam nas escolas. Mas mais, tem havido casos de automutilação e de tentativas de suicídio. Já houve vários ensaios de explicação e as causas podem ser várias, pois são fenómenos de difícil explicação. No entanto, estudos recentes, feitos nos Estados Unidos, Japão, Reino Unido, ilustram que uma grande parte de alunos passam a vida escolar cansados, estressados e com tédio e, em muitos casos, estes têm-se resultado em depressões incapacitantes. Por exemplo, nos EUA, sete em cada dez adolescentes (entre 13 e 17 anos) relataram sofrer a ansiedade ou a depressão por causa da escola e 75% de alunos expressaram sentir o tédio, a tristeza, o medo e o stress por causa da escola. No Japão, cerca de 500 estudantes cometem o suicídio, todos os anos (Fonte: 50 Current Student Stress Statistics: 2022 Data, Analysis & Predictions | Research.com).
Em Cabo Verde, ainda, não temos estudos. De todo modo, não me parece inadequado, estabelecer alguma ligação entre o que anda a acontecer, um pouco por todas as escolas secundárias, com dados apontados em cima. Alguns países como a Finlândia, a Suécia e, sobretudo, a Islândia, vêm apostando seriamente no desenvolvimento de um modelo escolar que proporcione a felicidade aos alunos, desde o básico ao superior, e, não é por caso que, associado a outras medidas de políticas, são dos países onde as pessoas vivem mais felizes. Mas um pouco por todo mundo tem surgido escolas inovadoras que se configuram num conceito completamente diferente das escolas comuns que conhecemos e que devem merecer atenção das autoridades cabo-verdianas e de nós todos.
O nosso modelo escolar, a forma como concebemos a educação e todo o processo educativo estão ultrapassados e, por conseguinte, inadequados para essa nova geração, a geração nativa digital. São pessoas que já nascem a lidar com a tecnologia e, consequentemente, os seus neurónios se desenvolvem de forma diferente e os seus processos de aprendizagem é diferente. A neurociência tem ajudado nesse aspeto.
É preciso reconceptualizarmos, na prática, a missão da escola em Cabo Verde. Sublinho, na prática, porque um dos nossos maiores problemas, do meu ponto de vista, é a adequação daquilo que defendemos nos discursos políticos e nos normativos a aquilo que praticamos. Há uma grande discrepância! Por exemplo, quando olharmos para o artigo 11º da Lei de Bases do Sistema Educativo, o artigo que define o que deve ser a Escola cabo-verdiana, e olharmos para a realidade quotidiana das escolas, a diferença é abismal.
Tenho chamado atenção para a necessidade de pararmos para refletirmos a nossa Educação que é, demasiadamente, centralizada e burocrática, baseada no modelo de prática pedagógica tecnicista e não serve aos interesses do país. É basta olharmos para a nossa realidade social, nos seus diferentes domínios!
Recentemente, fez-se um conjunto de reformas nos domínios da organização e administração das escolas; reformou-se os planos curriculares e os sistemas de avaliação. Gastou-se fortuna, para complicar ainda mais o inadequado sistema educativo. O bizarro, em tudo isso, é que, por exemplo, um aluno que estuda 9º ano passou a ter 12 disciplinas, por conseguinte, 12 professores para responderem (quando a média internacional é de 7-8 disciplinas, por ano).
A quantidade de disciplinas, o processo pedagógico tecnicista, o modelo de avaliação e a forma como as provas decorrem, constituem-se em verdadeiros atentados à saúde mental dos adolescentes e, sobretudo, das meninas, pois estudos indicam que, nessa fase, têm menos capacidade para lidarem com a pressão e o stress.
A carga de pressão que é colocada sobre os alunos, no dia-a-dia, com os trabalhos nas escolas e os TPC, muitas vezes, como forma de acelerar o cumprimento dos programas (que são demasiadamente extensos) é insuportável. Privilegia-se o cumprimento dos programas e a quantidade, ao invés de alunos e a qualidade de respostas para as suas necessidades educativas. O que conta é quantidade de aprovação, mesmo que, de ponto de vista de desenvolvimento educacional para a formação cidadã (a preparação para a vida), os resultados sejam nulos. Aliás, estes nem são tidos em conta nas nossas escolas.
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