O que não podemos ignorar é que, enquanto a história de Carlos Santos é tratada como uma narrativa de defesa de honra e integridade, Amadeu Oliveira já se prepara para mais um round, com mais uma acusação a marcar a sua trajectória. A seletividade da opinião pública em Cabo Verde é clara, e a forma como esses dois casos estão sendo tratados evidencia um profundo desequilíbrio na maneira como duas figuras públicas são apreciadas, não pelo que fazem, mas pelo que representam.
O caso de Carlos Santos, ex-ministro de Transportes e Turismo de Cabo Verde, e o novo processo envolvendo Amadeu Oliveira, ex-deputado e advogado, têm exposto uma desigualdade gritante na forma como a justiça e a opinião pública lidam com figuras públicas envolvidas em suspeitas criminais. Se o afastamento de Carlos Santos do governo foi retratado como um gesto de integridade, o silêncio que recai sobre os defensores de Amadeu Oliveira, perante novas acusações, lança uma sombra de hipocrisia sobre todo o processo.
Quando falamos em lavagem de dinheiro, entramos num campo nebuloso onde a linha entre o legal e o ilegal nem sempre é clara. A pergunta que surge é: existe um tecto acima do qual uma transação se torna suspeita ou qualquer valor pode levantar dúvidas? A lavagem de dinheiro não se resume apenas a transações vultuosas, mas a movimentos financeiros que têm o objetivo de ocultar a origem do dinheiro. Se a transação dos ditos 25 mil euros, for analisada no contexto de seu fluxo, ou se houver envolvimento de recursos que não possam ser claramente justificados, isso poderá configurar uma irregularidade, ainda que o valor por si só não seja tão elevado.
Carlos Santos alegou ter agido de boa fé ao ajudar um amigo, ex-colega de faculdade… A sua versão parece querer suavizar o impacto das acusações, talvez numa tentativa de evitar a mancha que paira sobre a sua imagem.
A dúvida que tenho é: sendo ele advogado, ao aceitar o pagamento de honorários de outro advogado na sua conta bancária (segundo as suas declarações na conferência de imprensa), será ele assim tão ingénuo de desconhecer que poderia ser um acto ilegal? O comportamento de um advogado deve ser sempre regido pela ética profissional, e o facto de um pagamento em dinheiro ser feito desta forma já deveria ser indicativo de que algo não estava certo. A questão não é apenas sobre a transação em si, mas sobre a forma como ela foi realizada, sem a devida transparência que a lei exige. Sendo um pagamento de honorários de outra pessoa, numa moeda diferente, a meu ver, não é um empréstimo, como o Dr. Carlos Santos veio dizer… bsot tchmal o que bsot quiser.
Se fosse pago directamente na conta do Dr. Amadeu, o valor estaria sujeito às taxas legais de câmbio. Ao facilitar esta transacção, não é o Estado quem sai lesado? Um advogado não devia ter isso em consideração, mais do que um qualquer mortal?
O ex-ministro, advogado de profissão, desconhecia que poderia estar, sim, facilitando a lavagem de dinheiro? Mesmo que não tenha tido necessariamente intenção directa de cometer um crime, a lei é clara ao exigir que qualquer transação financeira seja transparente e passível de justificativa.
Agora, quanto à ingenuidade do Dr. Carlos Santos: será que ele foi realmente tão inocente quanto deseja parecer? A versão de que ele "ajudou um amigo" e não sabia da irregularidade da transação soa quase como uma tentativa de proteger a sua imagem.
Talvez esteja a jogar uma carta de "ingenuidade" para reduzir os danos colaterais à sua carreira política. Mas essa ingenuidade pode ser percebida, na melhor das hipóteses, como uma forma de se distanciar da responsabilidade ou, na pior, como uma estratégia para escapar de uma acusação grave.
A boa fé ou a ingenuidade não parecem ser argumentos suficientemente fortes para limpar o nome de ninguém neste jogo, independentemente da versão que se tente vender ao público.
Outra grande questão que paira é relativamente à imagem pública de Amadeu Oliveira e a sua postura diante destas novas suspeitas. Como fica a sua imagem com mais um processo, desta vez de suspeita de lavagem de capitais?
Para um homem que está preso por crimes de ofensa a juízes e por ajudar um condenado a fugir, cada novo escândalo alimenta ainda mais a ideia de que sua conduta é, no mínimo, questionável.
Se antes era visto por alguns como uma vítima de um sistema injusto, agora, com essas novas alegações, fica mais difícil sustentar a imagem de "herói" ou "injustiçado" que muitos tentaram construir ao seu redor.
O que realmente chama atenção é o facto de que a sua situação, ao invés de gerar indignação pública, parece estar a ser tratada com mais cautela, e os seus defensores parecem mais afastados ou mudos. Onde estão as vozes de solidariedade que apareceram na sua primeira condenação?
E, já agora, o pedido de indulto como é que fica?
E aqui está a grande ironia: enquanto Carlos Santos vê-se condenado e insultado na praça pública, com a sua imagem marcada pela suspeita, o foco nas redes sociais recai sobre ele, enquanto Amadeu Oliveira, igualmente implicado nesta acusação, escapa das críticas.
Enquanto um se apresenta como uma vítima do sistema, o outro aparece como alguém que agiu de boa fé. A realidade é que ambos têm as suas imagens marcadas por atitudes que podem ser questionadas.
O que não podemos ignorar é que, enquanto a história de Carlos Santos é tratada como uma narrativa de defesa de honra e integridade, Amadeu Oliveira já se prepara para mais um round, com mais uma acusação a marcar a sua trajectória.
A seletividade da opinião pública em Cabo Verde é clara, e a forma como esses dois casos estão sendo tratados evidencia um profundo desequilíbrio na maneira como duas figuras públicas são apreciadas, não pelo que fazem, mas pelo que representam.
Comentários
pedro amado, 1 de Fev de 2025
Sà quatro cado paicvndidatos que os militantes do p esculheraicv vào para o
cargo do presidente do partido.Devemos estar orguliozos de partencer um partdo
onde tem a voz de eo direiro de esculher qu«uem é melhor candidatto.
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Pedro Cruz, 1 de Fev de 2025
A sra. articulista, Any Delgado, deveria se informar melhor. O Dr. Carlos Santos não é jurista, muito menos advogado de profissão. A ilação que retira da afirmação do Dr. Carlos Santos “somos amigos desde o tempo da faculdade” é errada. Eles foram colegas, como terão sido vários outros, mas em cursos diferentes.
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