A sociedade molda as nossas atitudes, crenças, moral, ideais e, por conseguinte, a personalidade do indivíduo. Com o decorrer da vida e com o processo de socialização, a personalidade do homem desenvolve-se e ele torna-se um indivíduo de pleno direito. O homem só adquire um Eu ou uma personalidade vivendo em sociedade. Mas, atenção! Todo o cuidado é pouco. Vamos entender porquê.
Da mesma forma que nos tornámos há milhares de anos um ser social, desenvolvendo padrões de convivência em comunidade, aprendemos a partilhar afectos e laços de união raciais e interraciais, também precisamos criar uma "nova cultura" para sobreviver a esta pós-pandemia, de recatamento, de confinamento, de comunicação e interacção à distância. O lar voltou a ser o centro das nossas vidas, a educação virtual ganhou força e praticidade.
A sociedade precisa compreender que há uma mudança e será necessário ao indivíduo criar um novo hábito e tentar compreender o que é adaptar-se ao novo estilo de vida. Já não há, talvez durante algum tempo, aquilo que chamamos socialização, ou melhor, o compartilhamento de afectos com os nossos amigos pessoalmente. Nos tempos hodiernos são as redes sociais que tomam conta e dominam a nossa vida pessoal, profissional e até emocional. Somos altamente influenciados pelas redes sociais!
Ora bem, isto tem um impacto crucial no nosso estado psico-emocional. Estamos à espera de muitos ‘likes’ para nos sentirmos felizes, a nossa felicidade se tornou virtual porque está afunilada num mero e muitas vezes banal post numa qualquer rede social. É a nova forma de nos sentirmos aceites na sociedade: amados virtualmente, enchendo o ego de ‘thumbs-ups’, mas esvaziando a alma, um sistema já incrustado no nosso quotidiano que abala a nossa estrutura emocional e afecta sobremaneira o nosso estado psicológico, com reflexos evidentes na saúde mental e física.
A dependência das redes sociais aumentou de forma exponencial a ansiedade de cada individuo. Quanto mais números de ‘amigos’ virtuais tivermos nas plataformas de encontro social na net, maior e mais elevada a nossa ansiedade emocional, porquanto vivemos ao sabor e ritmo dos vários e diferentes posts diariamente. Isto mexe com o nosso equilíbrio mental fazendo com que percamos a nossa paz e paciência, alterações essas que vêm desestruturando a relação do Homem com o meio, à medida que o poder das máquinas avança e a humanidade fraqueja.
Isto é o que tenho constatado durante as minhas pesquisas, conversando com pessoas de diferentes raças. Outros estudos também apontam aproximadamente para esta mesma direcção. Faço precisamente esta reflexão no meu livro ‘Educar durante a Pandemia’, aludindo aos trabalhos de Peter Adler (1972:8), ou Brown (1994). Eles descreveram “o choque cultural em mais termos psicotécnicos: o choque cultural reflete a sua ansiedade e nervosismo com diferenças culturais através de qualquer número dos mecanismos de defesa: repressão, agressão, isolamento e rejeição" (p. 171).
Com efeito, tivemos que nos adaptar a uma nova cultura dentro da pandemia e pós-pandemia. Andamos a tactear nossas relações humanas e inter-pessoais, numa espécie de montagem do puzzle social. Até quando?
Neste momento, com a inteligência artificial invadindo a nossa maneira de pensar e praticamente redefinindo o nosso comportamento, o puzzle complica, o grau de dificuldade para encaixarmos no meio e na nova cultura identitária que andamos a procurar tornou-se um desafio maior. Porque estamos perante uma nova ordem, ou, se se quiser, estamos a construir uma nova cultura, um novo estilo de vida, inclusive a nossa mentalidade.
Eu defino a cultura como parte do modo de vida de um indivíduo, incluindo a forma de falar, de agir e de se comportar numa sociedade. Digo também que a cultura tem a ver com a língua e a reintegração dos indivíduos numa sociedade estranha onde possam mudar a sua forma de pensar e, consequentemente, criar outro estilo de vida por causa do multiculturalismo e do multilinguismo existente em tal sociedade.
Concordo com Brown (1994) quando ele estabelece a cultura como "um modo de vida". “A cultura é o contexto dentro do qual nós existimos, pensamos, sentimos, e relacionamos com o próximo. É a 'cola' que liga um grupo de pessoas juntas" (p. 163). Verdadeiramente, quando Brown afirma que "a cultura é a cola que une um grupo de pessoas", quer dizer que o multiculturalismo começa quando a "cola" cria uma multiplicidade cultural e ambiente multilingue na sociedade.
Segundo a UNESCO, em 14 de abril de 2020, 188 países em todo o mundo fecharam escolas, afetando mais de 1,5 mil milhões de estudantes e representando mais de 91% do total de alunos matriculados. É verdade que o mundo nunca passou por algo com um impacto tão avassalador no comportamento psicológico, emocional e social das pessoas. A COVID-19 tem demonstrado o seu poder de mudar e desafiar o ser humano. Na minha opinião, para lidar com a COVID-19, o indivíduo tem de dominar o seu estado emocional. Porquê? Porque tem tudo a ver com os aspetos psicológicos e emocionais. O indivíduo tem de equilibrar e tranquilizar o seu ambiente, pensando criticamente
Preocupações Sociais
“A saúde é definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. A saúde é, portanto, o desenvolvimento equilibrado da personalidade e das atitudes emocionais do indivíduo”
“Em 1950, o comité de peritos em saúde mental da OMS reviu as várias definições de saúde mental e observou que esta é influenciada por factores biológicos e sociais.”
Assim sendo, eu diria que o ser humano deveria ter a capacidade de viver harmoniosamente uns com os outros para evitar transtornos emocionais que nos levem a transtornos psicológicos. Temos de mudar. É preciso mudar.
Estamos a enfrentar desafios e mudanças todos os dias que têm impacto directo no nosso estado emocional e psicológico. Como o filósofo Aristóteles destaca, isso tudo "tem a ver com as novas condições ambientais de um novo estilo de vida para a nova adaptação”.
Afinal, o que mais conjuga para haver essas alterações no comportamento/atitudes das pessoas? O crescimento e a composição da população, a cultura e a tecnologia, o ambiente natural e os conflitos sociais.
Esse cocktail de emoções interferem com indesmentível potência nas atitudes do indivíduo, muitas vezes sem o notar, seja a nível das alterações físicas endógenas, seja pelas influências exógenas impostas por este mundo pós-moderno.
Nesta ordem de ideias, podemos adicionar as conclusões de uma pesquisa de 2028 sobre como a sociedade e as suas frustrações mexem com a saúde das pessoas: “As consequências dos problemas sociais para o indivíduo podem incluir taxas mais elevadas de doenças crónicas, perturbações da saúde mental e diminuição da esperança de vida. Além disso, os indivíduos que vivem nessas condições podem enfrentar obstáculos no acesso à educação, às oportunidades de emprego e ao apoio social, o que conduz a um ciclo de pobreza e desigualdade” 28/8/2018
Tocando na ferida
Eu trabalho num ambiente com diversas raças e credos, tenho amigos que falam diversas línguas, viajo regularmente fazendo pesquisas dentro e fora do país, estabeleço contacto com inúmeras pessoas no intuito de perceber melhor, e com significativo grau de fidelidade, como é viver no pós-pandemia.
Esta inquietação moveu-me a escrever este artigo, através do qual quero compartilhar algumas ideias que podem ajudar o leitor a “reflectir acerca do mosaico que a pandemia nos deixou” como realço no meu livro ‘Educar durante a Pandemia’, publicado em 2021.
Uma investigação feita em 2023 dizia o seguinte: “cerca de 50 milhões de pessoas, 55% dos quais adultos com uma doença mental não receberam qualquer tratamento. 5,44% dos adultos sofrem de doenças mentais graves. Mais de 12,1 milhões de adultos (4,8%) relataram pensamentos graves de suicídio”. 7/11/2022
Um trabalho da bbc.com relatou que “a pandemia está a afetar-nos a todos, com 93% a reportar pelo menos uma mudança de comportamento desde o início do surto. Estes comportamentos podem levar a aumentos de doenças como a ansiedade, a perturbação depressiva grave, bem como consumo excessivo do tabaco, o abuso de substâncias psicotrópicas e a perturbação derivadas do consumo de álcool.”
“Muitas pessoas podem ter problemas de saúde mental, tais como sintomas de ansiedade e depressão durante este período. E os sentimentos podem mudar ao longo do tempo. Apesar dos seus melhores esforços, pode sentir-se desamparado, triste, zangado, irritado, sem esperança, ansioso ou com medo”, revelou, por sua vez, um artigo publicado no mayoclinic.org
Equilibrium
Para cuidar da nossa saúde mental, diria que teriamos antes que pensar no nosso dia-a-dia e no nosso modo de viver. Estudos comprovem que “um grande número de pessoas relatou sofrimento psicológico e sintomas de depressão, ansiedade ou stress pós-traumático. E houve sinais preocupantes de pensamentos e comportamentos suicidas generalizados, incluindo entre os profissionais de saúde. Alguns grupos de pessoas foram muito mais afectados do que outros”. (16/06/22)
Toda esta mixórdia psico-emocional parece transformar-se numa bomba-relógio instalada no nosso cérebro, pronta a rebentar com estilhaços de alcance imprevisíveis. Por isso, a pergunta que ecoa e merece feedback é se a covid-19 provoca alterações de personalidade?
“Uma investigação, publicada na PLOS ONE, por uma equipa da Florida State University College of Medicine, liderada por Angelica Suttin, PH D, descobriu alterações de personalidade causadas pela Covid-19. Os jovens adultos apresentaram um comportamento mais temperamental, mais estressado, menos cooperante e confiante”, informa, dissipando qualquer dúvida, esse estudo publicado pela fsu.edu / https:// med.fsu.edu-suttin-research (10/18/22)
Chegado a este ponto, fica evidente que precisamos de equilíbrio para enfrentar as vicissitudes do pós-modernismo, da floresta negra que se transformou o ambiente social tradicional.
Enfim, cuidar da nossa mente e cuidar da nossa alimentação são ensinamentos dos primórdios da civilização, que hoje faz-se cada mais mais juz e sensato. Ambos estão relacionados com o nosso comportamento e a nossa atitude.
Cuidados mentais
- Evitar traumas psíquicas
- Estar inserido numa sociedade onde pode praticar conversas saudáveis
- Evitar críticas negativas, principalmente as que vêm da sociedade
- Saber enfrentar as críticas negativas
- Ter sempre uma pessoa com quem desabafar os seus enigmas
- Equilibrar-se mentalmente para poder tomar decisões correctas perante a nossa própria maneira de pensar e agir.
A saúde mental é estar atento ao que se diz e ao que se faz
- Comer bem e de forma equilibrada
- Dormir bem (8h de sono)
- Fazer exercícios físicos
- Ouvir música/Meditar/Relaxar
Comentários