A Promessa Turística no Horizonte de Céus mais movimentados em Cabo Verde - I
Ponto de Vista

A Promessa Turística no Horizonte de Céus mais movimentados em Cabo Verde - I

É tempo de pensar e organizar Santiago como um destino turístico de qualidade, capaz de representar uma autêntica e contínua fonte de rendimento, em vez de reduzir o Estado de Cabo Verde a uma mera máquina de propaganda de companhias aéreas. É pois chegado o momento de conceber o turismo para além da simples taxa, mas sim como um ciclo virtuoso cujo rendimento circula, uma, duas, três vezes dentro do país. Somente assim caminharemos, de facto, para um país desenvolvido e próspero.

Cabo Verde vê no turismo uma importante fonte de rendimento. Pensar o setor nestas ilhas com maior profundidade, particularmente com as novas variáveis em jogo, leva-nos a refletir sobre o futuro do turismo em Cabo Verde, em particular na ilha de Santiago, perante a iminente revolução das companhias aéreas de baixo custo. É uma reflexão que se impõe urgentemente, um grito de urgência e, simultaneamente, um facho de esperança, num momento em que o país se encontra no limiar de uma nova era turística, ao ultrapassar o patamar de UM MILHÃO de turistas.

Outubro aproxima-se e com ele a promessa de céus mais democráticos e movimentados. A chegada da Transavia, com ligações de Marselha e Lyon, a juntar-se à sua já consolidada rota de Paris; a EasyJet a abrir caminho de Lisboa; e a Edelweiss Air a conectar Zurique a Praia, são mais do que meras novas rotas. São pontes que se lançam, convidando um novo perfil de viajante e desafiando Santiago a assumir o seu lugar de destaque no mapa turístico cabo-verdiano.

A Oportunidade Pós-Pandemia e a Saturação Europeia

Contrariamente ao que se temia, a era pós-pandemia da Covid-19, não só aumentou a procura por viagens, como abriu novas possibilidades para destinos mais autênticos e menos massificados. Simultaneamente, várias cidades europeias sinalizaram "lotação esgotada" – confrontadas com a degradação do património, a escassez de habitação para residentes devido ao boom do alojamento temporário, e o aumento do custo de vida.

Este contexto posiciona Cabo Verde como uma alternativa atraente. No entanto, para capitalizar esta janela de oportunidade, é imperativo que saibamos "arrumar a casa", organizar os nossos serviços de incoming e, definitivamente, diversificar e diferenciar a nossa oferta. Esta diferenciação, pautada pela originalidade e autenticidade, será o fator decisivo para atrair novas fontes de rendimento para as ilhas e para as famílias santiaguenses.

O Potencial Inexplorado de Santiago

Santiago, com a sua riqueza multifacetada, é, sem dúvida, uma das ilhas com maior potencial turístico de Cabo Verde. A ilha oferece um vasto leque de possibilidades: do turismo de montanha, com as suas trilhas desafiantes e paisagens raras, ao turismo religioso, com a sua profunda fé e igrejas históricas. O turismo cultural, que mergulha nas raízes do batuque, do funaná e da morna, que também já tem cá assento, e o turismo gastronómico, que celebra os sabores únicos da culinária cabo-verdiana, são tesouros à espera de serem plenamente explorados. E, acima de tudo, o turismo de experiências. Porque o viajante contemporâneo não busca apenas um destino; procura uma imersão, uma conexão profunda com a cultura local, com as pessoas e as suas vivências, desejando regressar à sua terra de origem com histórias autênticas e um conhecimento genuíno do lugar que visitou e das pessoas que o fizeram.

Preparar a Ilha para o Novo Turista

Compreender que o turismo é um "package" – uma fusão entre viagens e as atividades que o turista pode fazer no local – é o primeiro passo. O segundo, e mais complexo, é preparar Santiago para esta nova realidade. A lista de tarefas é vasta e urgente, mas o essencial é de fácil concretização: a organização e formação de taxistas para um serviço acolhedor, correto e eficiente; a qualidade e a morabeza na prestação de serviços na restauração, hotelaria e afins; a organização e regulação do setor dos transportes, desde o taxi, o rent-a-car, as viaturas de transporte público devidamente organizadas e seguras. A formação de guias de turismo, o reconhecimento e certificação de trilhas, e a segurança – tanto nas veredas naturais quanto nas avenidas e ruelas da ilha – são dimensões incontornáveis e inegociáveis.

A sensibilização da população para acolher o turismo com autenticidade e simpatia, a regulamentação dos alojamentos locais são igualmente cruciais para garantir uma experiência positiva e sustentável. Além disso, a segurança nas transações online com cartões de crédito, nível de saneamento básico adequado, um efetivo combate às doenças transmitidas por vetor, melhor organização da agenda cultural e de eventos da ilha, com melhor concertação entre os nove municipios, podem ser um atrativo adicional, facilitando o acesso e a permanência dos visitantes.

Em suma, é preciso preparar Santiago para receber:

              Turista de alto valor que gasta mais por dia em hospedagem, alimentação, experiências e compras.

              Turista de estadia prolongada que reduz custos com marketing e aumenta o retorno por visitante, caso dos Nómadas digitas, aposentados e intercambistas .

              Turista consciente/sustentável que respeita a cultura local, preocupa-se com a preservação do património e meio ambiente e busca experiências autênticas.

              Turista fora da alta temporada que viaja em períodos menos movimentados do ano visando acabar com a sazonalidade.

              Turista repetitivo ou fidelizado que volta regularmente, que cria vínculos e promove o destino em outras paragens, caso dos turistas nacionais frequentes, emigrantes de segunda e terceira geração, famílias que voltam anualmente, bem como casais com apego emocional ao local.

É tempo de pensar e organizar Santiago como um destino turístico de qualidade, capaz de representar uma autêntica e contínua fonte de rendimento, em vez de reduzir o Estado de Cabo Verde a uma mera máquina de propaganda de companhias aéreas.  É pois chegado o momento de conceber o turismo para além da simples taxa, mas sim como um ciclo virtuoso cujo rendimento circula, uma, duas, três vezes dentro do país. Somente assim caminharemos, de facto, para um país desenvolvido e próspero.

O que mais poderíamos fazer para impulsionar a experiência do turista em Santiago e garantir que os benefícios cheguem a toda a comunidade? Vale a pena refletirmos sobre os novos caminhos que hão de levar-nos ao futuro que queremos para Cabo Verde e para Santiago, em particular.

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