Em tempo do debate sobre o Estado da Justiça, o advogado Amadeu Oliveira, um dos cidadãos mais críticos e lúcidos do sistema judicial cabo-verdiano, endereça uma extensa e pujante missiva aos deputados e dirigentes nacionais apontando anomalias várias e sugerindo acções para melhorar o funcionamento da Justiça em Cabo Verde.
Maniatado pela grande criminalidade, o simulacro de Estado (de Cabo Verde) não podia ter soberania nem Justiça, até que no dia 04.Set.2019, deu sinal de vida, depois de mais de 44 anos de não-Justiça, para a impunidade dos grandes malfeitores e altos mafiosos. A Justiça, que agora deu sinal de começar a nascer, não pode parar nem quedar pelo bom começo : estejamos atentos e vigilantes, para que não seja bloqueada !
Actual primeiro-ministro foi quem assinou, enquanto presidente da Câmara Municipal da Praia, o memorando de entendimento com o advogado da família Sousa, que estipulava a repartição a meias dos lucros pelas vendas das terras de Fernando Sousa. E Janine Lélis, actual ministra da Justiça, participou como sócia de Arnaldo Silva em celebrações de contratos de compra e venda dos terrenos que levaram à detenção do ex-bastonário na semana passada.
O País assistiu em 2014/15 ao desfilar de um cortejo de denúncias públicas, em catadupas, de escândalos e mais escândalos financeiros que envolviam figuras públicas de proa do panorama político cabo-verdiano, tendo como palco não só o Parlamento, mas também a sociedade civil, através de redes sociais, jornais, rádios e televisão da época. A celeuma à volta desses escândalos atingia, de forma inequívoca, membros do governo, deputados, autarcas e figuras políticas ligadas ao sistema PAICV.
A detenção do ex-governante e ex-bastonário da Ordem dos Advogados esta quarta-feira deixou o país inteiro em estado de choque. E não era para menos. Arnaldo Silva, uma figura bem conhecida e que até foi condecorado pelo presidente da República no passado 5 de Julho, está indiciado por burla qualificada, corrupção activa, falsificação de documentos, falsidade informática e lavagem de capitais. Crimes gravíssimos que dada a sua influência e pessoas com quem se relaciona levam a prever uma erosão grossa sobretudo na classe política.
A Procuradoria-Geral da República esclarece que para além de Arnaldo Silva, as diligências de instrução até agora realizadas permitiram a identificação de mais seis suspeitos, todos pessoas singulares. E, sim, os crimes estão relacionados com a venda de terrenos na Praia como Santiago Magazine tinha anunciado.
O Tribunal da Praia aplicou Termo de Identidade e Residência a Arnaldo Silva, como medida de coação por indícios de práticas ilícitas na compra e venda de terrenos da Praia. Silva fica também proibido de sair do país e está interditado de estabalecer qualquer contacto com os outros seis suspeitos deste processo cuja identidade ainda está sob segredo de justiça.