A esquerda só conseguirá triunfar se apresentar propostas de bem-estar colectivo pragmáticas e exequíveis nas áreas do emprego, da saúde e da educação; assumir uma conceção do Estado que seja um suporte para o cidadão; e demonstrar que está em sintonia com essa grande reinvindicação das massas que é a eliminação de mordomias dos dirigentes - enquanto o povo está a sofrer vivendo situações de penúria, escassez e pobreza de toda a espécie. Estas respostas constituem a identidade da esquerda e eliminam aquilo que tem servido de alimento para a afirmação da direita. Por isso, hoje em dia, estou cada vez mais convicto de que o caminho da afirmação é outro: combatê-los e não juntar-me a eles!
É inacreditável haver dirigentes partidários que consideram que as mudanças no campo da política surgem de forma repentina! Nada mais falso. As mudanças na política, assim como em qualquer área social, vão-se formando lenta e gradualmente.
Há duas mudanças profundas que estamos a assistir hoje: (i) o declíneo dos partidos tradicionais, associado à descrença na política, nos partidos políticos e nos políticos e (ii) a ascenção de partidos extremistas, mais concretamente, da extrema direita. Aqui não deixa de ser curioso que não se verifiquem ascensões de partidos de extrema-esquerda no mundo;
Há um conjunto diverso de elementos que explicam estas mudanças, mas há um que considero fundamental, a identidade do partido. Ou seja, aquilo que caracteriza o partido, as bandeiras claras e diretas que defende; e, obviamente, aquilo que o separa dos outros partidos;
Nas sociedades contemporâneas - por incompetência da esquerda - os limites entre a "esquerda" e a "direita" têm-se esbatido de forma cada vez mais grave, a ponto de se tornar corriqueira a constatação popular de que "os partidos políticos são todos iguais";
É absolutamente nossa a decisão de tomar a sério esta constatação popular e trabalhar no sentido de demonstrar que nós, à esquerda, não somos nada iguais - nem parecidos - com a direita! Ou, pelo contrário, a decisão é nossa - também - de adotarmos práticas, comportamentos e propostas de governação que se confundem e se misturam com os da direita!
É óbvio que ao assumirmos "pactos públicos" e até partilharmos "actos políticos" com a direita, em nada estaremos a contribuir para o reforço da nossa identidade e, pelo contrário, estaremos a disponibilizar no espaço público elementos que vão reforçar aquela leitura popular de que "são todos iguais", ou indo até mais longe, numa linguagem vernacular, "farinhas do mesmo saco";
Mas, esta mistura entre a "esquerda" e a "direita" é algo que se enquadra, perfeitamente, nos avisos do sociólogo polaco, Zygmunt Bauman, que chama a nossa atenção para essa espécie de "liquidificação do mundo", uma espécie de mistura de tudo, um esbater de fronteiras a vários níveis, quer pessoais (jantares e lanches), quer institucionais entre os quais se encontram os próprios partidos políticos (pactos, listas e eleições);
Daí que, hoje em dia, seja normal encontrarmos dirigentes de partidos políticos de esquerda que, conscientemente ou não, analisam processos dos seus próprios partidos recorrendo a instrumentos elaborados e utilizados pela direita. Um exemplo: dirigentes de esquerda que consideram que a igualdade de oportunidades é uma falácia e que o Estado deve ser uma instituição lucrativa;
A esquerda só conseguirá triunfar se apresentar propostas de bem-estar colectivo pragmáticas e exequíveis nas áreas do emprego, da saúde e da educação; assumir uma conceção do Estado que seja um suporte para o cidadão; e demonstrar que está em sintonia com essa grande reinvindicação das massas que é a eliminação de mordomias dos dirigentes - enquanto o povo está a sofrer vivendo situações de penúria, escassez e pobreza de toda a espécie. Estas respostas constituem a identidade da esquerda e eliminam aquilo que tem servido de alimento para a afirmação da direita;
Por isso, hoje em dia, estou cada vez mais convicto de que o caminho da afirmação é outro: combatê-los e não juntar-me a eles!
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