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A Educação como Motor do Desenvolvimento
Colunista

A Educação como Motor do Desenvolvimento

Infelizmente, a comunidade internacional não ajuda os países a se tornarem desenvolvidos. O esforço terá de ser feito, de forma endógena, até para dar sustentabilidade ao processo! É aqui que o reforço do capital humano e do capital social ganham valor e peso, como incontornáveis, e a educação se afirma como o motor do desenvolvimento. Dar corpo a esse desiderato, passa, seguramente, por uma forte aposta naquilo que se convencionou chamar de indústria do conhecimento e esta passa, necessariamente, por uma forte aposta numa educação inovadora e de excelência em Cabo Verde.

Os desafios da vida individual e coletiva impõem-nos perante necessidades de aprendizagem e desenvolvimento de competências e habilidades indispensáveis à nossa pessoa e à vida coletiva em que nos inserimos. Nesta perspetiva, é inquestionável o valor da educação na nossa qualificação e no garante da promoção do nosso bem-estar individual e coletivo.

É assim que, desde meado séc. XVIII, no quadro da reconfiguração e afirmação do Estado, como o conhecemos hoje, a educação foi assumida como um assunto do Estado, ciente do seu valor na construção da nação; na governança nacional; e no garante do bem-comum. Desta forma, os Estados, a partir da iniciativa francesa, no séc. XIX, deram início à estruturação da educação escolar num sistema educacional formado por subsistemas básico, secundário e superior, com a preocupação de cobrir todo o território nacional, numa perspetiva de investimento.

Passada a era da revolução industrial em que o carvão e, depois, o petróleo constituíram-se nas principais fontes de riqueza e do desenvolvimento das nações, mas também de consequências adversas como guerras e, sobretudo, os seus impactos ambientais, desde os finais dos anos quarenta, o mundo inteiro vem tomando consciência da necessidade de valorizar e investir na educação, como fonte do conhecimento; de valorização do homem; e do progresso das nações.

O saber conhecer, saber fazer, saber viver juntos e o saber ser foram apresentados pela UNESCO, nos finais dos anos 90, como os quatro pilares que devem orientar o desenvolvimento dos sistemas educacionais, visando um mundo melhor. Países que muito cedo assumiram essas preocupações, hoje, ocupam a linha da frente nos indicadores internacionais como: o Índice de Desenvolvimento Humano, o Índice da Democracia, o Índice da Felicidade, o Índice de Desenvolvimento Económico, etc.

Regiões do norte da Europa, Estados Unidos, Canadá e alguns países da Ásia dominam, por exemplo, os Índices do Desenvolvimento Humano e o Económico, sugerindo quase que uma ligação direta entre um e outro.

A educação, ou seja, os investimentos no capital humano e no capital social, é reconhecido por todos, como os melhores investimentos para se garantir o progresso das nações. Hoje, para muitos especialistas em economia e desenvolvimento, o que alimenta e dá pujança à economia de um país, não é mais o petróleo e nem os demais recursos naturais tradicionais, mas sim o conhecimento, como resultado dos investimentos no capital humano e no desenvolvimento deste em capital social.

Importa realçar que o capital social de um país se constrói e se desenvolve nas dinâmicas de “construção” e desenvolvimento institucional das suas organizações, como organizações aprendentes, no cumprimento das suas missões. Para o efeito, as lideranças organizacionais são cruciais, aspetos ainda pouco cuidados em Cabo Verde, particularmente no domínio da educação.

No centro de todo o sistema educacional estão as escolas. A qualidade das suas organizações e administrações determina a qualidade educacional e esta, por sua vez, determina a qualidade de uma nação.

A compreensão da escola como um constructo social permanente dos seus atores, particularmente dos professores, e que ela não existe fora deles, é essencial para se compreender o valor do professor na afirmação do valor da escola. É isso que vários países vêm fazendo, no exercício de definição e execução das suas políticas e administrações educacionais, investindo fortemente nos professores, na certeza de que não há qualidade educacional fora da qualidade dos seus professores. O professor é o fator-chave na educação!

A qualidade dos professores determina a qualidade das escolas e a qualidades das escolas determina a qualidade da educação que os alunos e a comunidade serão beneficiários. Deste ponto de vista, dois aspetos são essenciais a considerar: por um lado, a concepção e o papel da escola, e, por outro, a sua administração.

O rigor, a responsabilidade, a responsabilização e a qualidade do funcionamento das escolas dependem, em grande medida, da forma como estas são concebidas e do papel que lhes são atribuídas, no âmbito de todas as políticas e administração educacional.

A autonomia, a participação democrática, o projeto educativo, a liderança distribuída e empoderadora, com ênfase na escola e entre escolas, têm-se constituído nas principais “tecnologias” para as políticas e administração educacionais, por este mundo fora, acompanhadas de fortes medidas de investimentos na qualificação, no incentivo e, sobretudo, na valorização do status social dos professores.

O pressuposto é claro. Não há bons cidadãos, bons engenheiros, bons economistas, bons advogados, bons médicos, bons professores, enfim, bons profissionais e com capacidades produtivas no futuro, sem que hajam excelentes professores e a excelência na educação!

É assim que, em países como Finlândia, Singapura e Coreia do Sul, os professores ocupam o topo da hierarquia das profissões, por se considerar que constituem a classe profissional que maior contributo dá ao país. São exemplos que Cabo Verde, num exercício de benchmarking, pode tirar ilações e aprender.

Vivemos num mundo globalizado, de rápidas mudanças e muitas incertezas que exigem reformas abrangentes nas estratégias, nos sistemas e nas práticas, em todos os domínios das nossas vidas. De entre os profissionais que devem estar na linha da frente para fazer face a esses desafios, são seguramente os professores com a sua nobre função de preparar as novas gerações para enfrentar este mundo complexo e desafiador. É o entendimento que muitos países, como Coreia do Sul e Singapura, por exemplo, vêm tendo e que, hoje, estão a colher frutos.

Para o renomado economista indiano, Kaushik Basu, “a Coreia do Sul deu passos importantes para solucionar uma falha de mercado que assola quase todos os países: a seleção de professores”.

Uma maior e mais competente aposta na educação, em Cabo Verde, precisa-se para que ela se efetiva como o motor do desenvolvimento do país! O Estado, os dirigentes, os professores, os técnicos e as famílias, todos, devem passar a refletir mais sobre a educação e os seus benefícios para todos nós. Mais e melhor educação significa, mais cidadania, mais saúde, mais educação, mais patriotismo, mais segurança, mais produtividade, mais economia, mais felicidade  e mais progressos para todos nós!

Em quase cinquenta anos, depois, da independência nacional e face aos inúmeros exemplos de sucessos por este mundo fora, por parte de países que não dispõem dos tradicionais recursos naturais, à semelhança de Cabo Verde, e com os quais se pode aprender, não faz sentido continuarmos com o discurso, sempre presente, de que “o país é pobre” e que “o país não dispõe de recursos naturais”.  Isto, até parece um paradoxo, quando o homem cabo-verdiano foi identificado como o principal recurso, desde as primeiras horas da independência nacional!

Ora, a riqueza mais valiosa de qualquer país são as pessoas, a sua população! De resto, é a consciência de nação ou de unidade nacional, o patriotismo e a vontade de realização pessoal e coletiva, ingredientes que não faltaram e nem faltam aos cabo-verdianos e que foram construídos durante os quinhentos longos anos de muita miséria, fomes, sofrimentos, torturas, mortes e de sonhos adiados.

É reconhecido os avanços significativos conseguidos por Cabo Verde, nesse percurso de meio século, pós-independência, nos mais variados domínios da nossa vida coletiva, fruto dos investimentos que os sucessivos governos tiveram a coragem de fazer na educação. Como consequência, parece evidente que o país venceu a batalha de luta pela sobrevivência.  O desafio que se enfrenta, hoje, é o de se tornar num país desenvolvido para poder assegurar, de forma sustentável e inclusiva, o bem-estar à sua população.

Desde de 2007, Cabo Verde foi graduado pelas Nações Unidas como país de rendimento médio. Se a “batalha” para vencer a luta pela sobrevivência não foi fácil, mas lá se conseguiu, com muitos esforços de todos os cabo-verdianos e de significativos apoios internacionais, trabalhar para se transformar num país desenvolvido é tarefa muito mais complexa.

Infelizmente, a comunidade internacional não ajuda os países a se tornarem desenvolvidos. O esforço terá de ser feito, de forma endógena, até para dar sustentabilidade ao processo! É aqui que o reforço do capital humano e do capital social ganham valor e peso, como incontornáveis, e a educação se afirma como o motor do desenvolvimento. Dar corpo a esse desiderato, passa, seguramente, por uma forte aposta naquilo que se convencionou chamar de indústria do conhecimento e esta passa, necessariamente, por uma forte aposta numa educação inovadora e de excelência em Cabo Verde.

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