Os jovens de Cabo Verde não precisam de palmas e aplausos em eventos. Precisam de capacitação em áreas estratégicas como tecnologia, energias renováveis, línguas estrangeiras, empreendedorismo digital, entre outras. Precisam de acesso a crédito para iniciar pequenos negócios, apoios a startup, mentora e redes de apoio.
Nos dias 8 e 9 de maio, decorre na ilha de São Nicolau o Fórum Regional de Juventude da região do Barlavento. À primeira vista, poderia parecer um momento importante de escuta, reflexão e criação de oportunidades para os jovens cabo-verdianos. No entanto, ao olharmos com atenção, torna-se evidente que o evento, tal como muitos outros promovidos nos últimos anos, é mais um espetáculo vazio do que uma verdadeira plataforma de transformação.
Durante dois dias de discursos, fotografias e promessas, pouco, ou nada se resolve. O problema do desemprego jovem, que continua a crescer em ritmo alarmante, não será resolvido com fóruns de boas intenções, mas vazios de ações concretas.
As necessidades reais da juventude vão muito além de um auditório cheio. Os jovens não precisam de palcos para ouvir o que já sabem. Precisam de oportunidades reais de emprego, de acesso à formação técnica e superior, de capacitação contínua para enfrentarem os desafios de um mundo em constante transformação.
Os fóruns tornaram-se uma forma de disfarçar a incompetência governamental na criação de políticas eficazes de empregabilidade juvenil. Enquanto se multiplicam eventos e discursos, os jovens continuam à margem do progresso: enfrentam desemprego, a taxa de desemprego na faixa etária 15 a 34 a rondar os 24%, falta de transporte regular entre as ilhas, deficiências graves nos sistemas de saúde e educação, e ainda precisam lutar diariamente para serem ouvidos. Como construir uma juventude conectada se um jovem em São Nicolau, Santo Antão ou Maio não consegue viajar com regularidade para outras ilhas? Como garantir acesso a oportunidades nacionais se a mobilidade é um privilégio de poucos? A falta de transporte é mais do que um problema logístico, é uma barreira à equidade e à cidadania plena.
O problema não está no conceito do fórum em si, mas no seu esvaziamento. O que deveria ser um espaço de mobilização e ação, transformou-se num palco de encenação política.
O futuro exige mais do que fóruns. Exige investimentos concretos no desenvolvimento das competências do século XXI, como a inteligência emocional, o pensamento crítico, as habilidades digitais e a capacidade de aprender continuamente. Exige também que os jovens tenham voz ativa na sociedade e as suas ideias não sejam apenas ouvidas, mas respeitadas e implementadas.
Os jovens de Cabo Verde não precisam de palmas e aplausos em eventos. Precisam de capacitação em áreas estratégicas como tecnologia, energias renováveis, línguas estrangeiras, empreendedorismo digital, entre outras. Precisam de acesso a crédito para iniciar pequenos negócios, apoios a startup, mentora e redes de apoio.
É urgente criar condições estruturais para que a juventude cabo-verdiana possa crescer num ambiente que lhe garanta dignidade, segurança e esperança. O que se ganha em dois dias de fórum, se a vida fora dele continua estagnada? A juventude precisa de um país que a prepare e acompanhe, e não de mais promessas vãs. Sem ação concreta, um fórum não é solução, é apenas distração.
Este será, infelizmente, apenas mais um fórum que não agrega nada ao País. Um evento que termina sem legado, sem resultados, sem impacto. E a juventude, mais uma vez, ficará a aplaudir promessas, enquanto continua à margem do progresso. Chega de fóruns sem conteúdo. O tempo de espera já passou, o que os jovens precisam é de ação. E agora.