A Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) enviou uma carta aos organismos internacionais da liberdade de imprensa denunciando aquilo que considera um “ataque grave” à liberdade de imprensa em Cabo Verde.
No final da audiência de ontem foi bom ter ouvido o Minho, como é conhecido em alguns círculos da sua amizade, afirmar que não se calará. Uma declaração que encerra uma dose de benévola “fanfarronice”, mas no fundo é possível que se se trate apenas disso. E se não fosse um atentado contra a minha natureza intrínseca, até era capaz de dar ao Hermínio Silves um conselho que nunca esperei dirigir a um jornalista: “fica calado, sim, não te exponhas porque ninguém virá em tua ajuda”. Mas isto é apenas uma hipótese.
Revelou-se o enigma. Santiago Magazine e Hermínio Silves foram responder à notificação do Ministério Público, hoje, 26, e acabaram sendo constituídos arguidos por alegadamente terem violado o segredo de justiça com a publicação de um artigo sobre um processo criminal onde há indícios do envolvimento de Paulo Rocha, ministro da Administração Interna, no assassinato de um cidadão, no bairro de Cidadela, Praia, em 2014.
O Comité de Proteção de Jornalistas (CPJ) pediu às autoridades cabo-verdianas que desistam da investigação ao jornalista Hermínio Silves e ao Santiago Magazine que publicou uma notícia sobre a investigação do Ministério Público ao ministro da Administração Interna.
O advogado Silvino Fernandes disse hoje à Inforpress que tem uma “dúvida grande” sobre em que qualidade o último despacho da Procuradoria Geral da República (PGR) notifica o jornalista Hermínio Silves, do “Santiago Magazine”.
A imprensa cabo-verdiana está sob ataque e se calhar muitos não perceberam o tamanho da bomba. Não é este jornal, nem eu, que o sistema atenta, com texto solene e surdino aviso. É contra si mesmo, quando, encavalitado na sua própria trama, procura cercear a liberdade de expressão e de informação, princípios consagrados na Constituição da República de Cabo Verde do meu país.
A Procuradoria-geral da República (PGR) voltou hoje à carga com mais um comunicado em que faz entender que afinal não houve um volta-face no caso de acusação de violação do segredo de justiça contra o jornal online Santiago Magazine e o seu jornalista e redator Hermínio Silves por causa da publicação da notícia “Narcotráfico: Ministério Público investiga ministro Paulo Rocha por homicídio agravado”. Afinal os mesmos podem, segundo a PGR, responder por crime de desobediência qualificada.