O COVID-19 apresenta desafios sociais, económicos e médicos significativos e tem desencadeado uma série de problemas mentais, daí a importância da psicologia em exercer um papel de liderança na orientação de uma resposta nacional a esta crise secundária que são os problemas da saúde mental.
Com o aparecimento do Covid-19, o modo de vida dita “normal” foi suspenso indefinidamente, tudo mudou drasticamente e entramos num "território desconhecido” marcado por dúvidas e inquietações e uma acentuada mudança na vida de todos. É de realçar que neste artigo, COVID-19 é conceituado como sendo um stressor único, composto e multidimensional, que criará sem dúvida uma vasta necessidade de intervenção e novos paradigmas para a prestação de serviços de saúde mental e treinamento.
Na tentativa de reduzir a disseminação da infeção do Sars-Cov-2, estratégias de quarentena modernas foram impostas globalmente, incluindo limitações de circulação a curto e médio prazo, toque de recolher obrigatório, restrição na aglomeração de pessoas, nos eventos sociais, nas viagens, entre outras, isto porque até agora o isolamento tem sido uma das mais eficientes formas de controlar a propagação da infeção.
Vale ressaltar que apesar do seu efeito positivo no combate à pandemia, essas medidas têm causado perturbações significativas em todo o mundo e afetam grande parte (senão toda) da população mundial.
Impacto na saúde mental
Como se sabe, durante qualquer surto de uma doença infeciosa, as reações psicológicas da população desempenham um papel crítico em moldar a propagação da doença e a ocorrência de sofrimento emocional e distúrbio social durante e após o surto. Apesar desse fato, normalmente não são fornecidos recursos suficientes para gerenciar ou atenuar os efeitos das pandemias na saúde mental e no bem-estar, embora isso possa ser compreensível na fase aguda de um surto, quando os sistemas de saúde priorizam os testes, reduzindo a transmissão e o atendimento aos pacientes críticos, as necessidades psicológicas e psiquiátricas não devem ser negligenciadas durante qualquer fase do controlo da pandemia.
O distanciamento social pode levar a aumentos substanciais da solidão, ansiedade, depressão violência doméstica, abuso álcool e de substâncias, ideação suicida, perturbações de Stress Pós-traumático, distúrbios emocionais, irritabilidade e mudanças de comportamento no geral (Galea et al., 2020; OMS, 2020). De acordo com Brooks et al, (2020) esses impactos psicológicos podem durar meses e/ou até anos após o período de isolamento/pandemia.
Para pessoas com uma condição de saúde mental pré-existente, o isolamento apresenta problemas mais graves e pode agravar sentimentos de ansiedade e raiva (Jeong et al., 2016). Além disso, eles têm um risco maior de desenvolver perturbação do Stress Pós Traumático (Goodman et al., 2001).
Não podemos esquecer do bem-estar mental e psicológico dos agentes da saúde que estão a trabalhar em situações de insegurança e ameaças contínuas, com recursos limitados, ambiguidade sobre a trajetória da pandemia e preocupações sobre os resultados a curto e longo prazo. Em tal condição, a saúde mental e o bem-estar psicossocial dos profissionais de saúde, são tão importantes quanto gerenciar a saúde dos infetados pelo Covid-19. A OMS emitiu uma orientação de trinta e um pontos para mitigar esses problemas, isso inclui diretrizes para salvaguardar a saúde mental da população de diferentes faixas etárias afetadas com Covid-19, com foco especial em crianças, mulheres e prestadores de serviços, sugerindo medidas para mitigar a ansiedade, depressão e estigma, etc.
Recomendações
O COVID-19 apresenta desafios sociais, económicos e médicos significativos e tem desencadeado uma série de problemas mentais, daí a importância da psicologia em exercer um papel de liderança na orientação de uma resposta nacional a esta crise secundária que são os problemas da saúde mental.
Devido as previsões altamente alarmantes de aumentos na prevalência de perturbações psiquiátricas, torna-se imprescindível o melhoramento do acesso aos serviços de saúde mental, incluindo a aderência e normalização de consultas psicológicas/psiquiátricas quer presencialmente quer online, de forma a acelerar o processo de avaliação precoce, tratamento e apoio psicossocial, triagem e apoio para grupos específicos e quando possível implementar medidas ao longo prazo para mitigar o impacto da recessão económica na saúde mental e lidar com o estigma durante a pandemia.
Durante este período de pandemia global, é tão importante continuar a defender aqueles grupos que são particularmente vulneráveis - que estão enfrentando esta pandemia com todo o stress e incertezas em torno dela, é crucial continuar a trabalhar de forma colaborativa e com determinação para garantir que todas as pessoas sejam mantidas o mais “seguro possível” dentro das limitações da situação atual.
*Psicóloga Clínica e da Justiça
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