O director nacional da Polícia Judiciária reiterou hoje que dispõem de “pistas que estão a ser seguidas” sobre o desaparecimento de pessoas nos últimos meses na Cidade da Praia e que não descoram a “possibilidade de pedir ajuda internacional”.
“Já foi criada uma equipa de investigação conjunta e caberá a esta equipa determinar se há ou não esta necessidade (de solicitar apoio internacional) e em tempo certo faremos a solicitação desta ajuda, se for necessário”, precisou o director nacional da Polícia Científica cabo-verdiana, António Sousa, numa conferência de imprensa realizada na tarde desta quarta-feira na Cidade da Praia, para dar conta dos trabalhos de investigação em curso sobre o desaparecimento de pessoas nos últimos meses na capital do país.
Por despacho do procurador geral da República, foi criada uma equipa conjunta, composta por elementos da PJ e da Polícia Nacional, coordenada por um procurador da República, para trabalhar exclusivamente nos casos de desaparecimento de pessoas, envolvendo uma adulta e quatro crianças.
Num curto período de tempo contabilizaram-se cinco pessoas desaparecidas, cujo paradeiro ainda é desconhecido. A 28 de Agosto, Edine Jandira Robalo Lopes Soares, 19 anos, deixou a casa alegando que ia levar o bebé para o controlo no PMI (Programa Materno-Infantil), na Fazenda, Praia. Mãe e filho continuam desaparecidos.
A 14 de Novembro, Edvânea saiu de casa para fazer um recado da mãe, a menos de 100 metros da residência, e até agora não foi vista. Todos estes casos aconteceram em 2017.
A última ocorrência relativa ao desaparecimento aconteceu no passado dia 03 deste mês. Clarisse Mendes (Nina), de 9 anos, e Sandro Mendes (Filú), de 11, saíram de casa por volta das 17:00, em Achada Limpo, para ir comprar açúcar, em Água Funda, na Cidade da Praia, e não regressaram.
Segundo António Sousa, a PJ está a fazer todas as investigações “que sejam necessárias” e que estão ao seu alcance.
“No terreno, o pessoal (da PJ) está em todas as áreas em que houve denúncia do desaparecimento das pessoas”, indicou o primeiro responsável da PJ, acrescentando que os seus homens estão a trabalhar dia e noite.
Instado se o facto de a PJ sair para o terreno só depois de 24 horas dos acontecimentos relacionados com o desaparecimento de pessoas não prejudicar a investigação, disse que a partir do momento que tomam conhecimento destes casos fazem deslocar-se ao local do crime uma equipa.
“Temos uma brigada disponível e que trabalha 24 horas, se for necessário”, afirmou António Sousa.
Questionado se a PJ dispõe de meios adequados para investigação, disse que a Polícia Científica “possui meios para a fazer a investigação”, mas que os casos de desaparecimentos são “complexos” e, logo, “requerem uma aturada investigação”.
António Sousa admitiu que a situação de desaparecimento de pessoas, “em qualquer parte do mundo são de difícil investigação”.
No concernente ao desaparecimento de dois menores em S. Vicente, há alguns anos, não quis responder, alegando que nessa altura “ainda não estava na Polícia Judiciária”.
“São casos que desconheço em que tempo aconteceram e até já podem ter prescrito”, lançou o director nacional da PJ, adiantando que quem tem a competência de investigação é o Ministério Público que “delega à Polícia Judiciária estes casos de investigação”.
Perguntado sobre o facto de o desaparecimento de pessoas ter acontecido sempre nas zonas periféricas da cidade, esclareceu que os habitantes dessas localidades “vivem numa situação de muito mais vulnerabilidade, em que os pais vão para trabalho e as crianças ficam sob o cuidado de terceiros ou ficam nas ruas e têm muito mais possibilidades de serem elas as vítimas”.
Segundo ele, nessas zonas, por vezes a presença das forças de segurança “não é tão frequente como nas zonas mais próximas da cidade”.
Para António Sousa, nos casos em apreço não se pode falar em sequestro, uma vez que “não há nenhum pedido de resgate”.
“Os processos estão a decorrer os seus trâmites legais e por força do dever de segredo de justiça, é tudo quanto podemos informar de momento”, concluiu o director nacional da PJ que apela aos pais no sentido de estarem “mais atentos aos filhos, acompanhando-os sempre à escola e outros locais onde possam frequentar e a não falarem com estranhos”.
O desaparecimento misterioso de pessoas na capital tem inquietado a sociedade civil.
Para o Cardeal Dom Arlindo Furtado, a situação é “muito preocupante, grave e chocante” e, segundo ele, há “qualquer coisa que está a acontecer que não dá para entender”.
Por sua vez, líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde, Janira Hopffer Almada, também se manifestou preocupada com a situação e pediu à comunicação social para não deixar que estes casos caiam no esquecimento.
Em declarações também à imprensa esta terça-feira, o director nacional das Aldeias SOS de Cabo Verde, Dionísio Pereira, declarou-se “preocupado e indignado” com os casos de desaparecimento de crianças em Cabo Verde e defendeu o reforço dos mecanismos de controlo e de intervenção.
“Desde logo, nós temos de dar atenção ao que vem previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e que prevê a criação de comités de protecção infantil em todos os municípios”, disse aos jornalistas, explicando que esses comités devem ser constituídos por jovens, adolescentes, famílias autoridades locais, organizações da sociedade civil, no sentido de se criarem redes.
Ainda hoje, em declarações à imprensa à margem de cerimónia de empossamento dos novos membros da Cruz Vermelha de Cabo Verde, o Presidente da República exprimiu também a sua inquietude a esse respeito, tendo afirmado que a situação “exige resposta por parte das autoridades” e que, caso for necessário, devem solicitar apoio a nível exterior.
Apesar de ter lançado esse repto, Jorge Carlos Fonseca apelou, no entanto, à “serenidade” para que não haja situações de pânico.
“Todos devem estar unidos nesta hora e temos de encontrar respostas com a rapidez possível, eficiência e esperar que as autoridades competentes, possam desenvolver o seu trabalho de investigação”, enfatizou Jorge Carlos Fonseca.
Com Inforpress
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