Quando interesses partidários ficam acima de Portugal
Ponto de Vista

Quando interesses partidários ficam acima de Portugal

O Governo do PSD, liderado por Luis Montenegro, caiu e Portugal deverá a ir a novas eleições menos um ano depois da demissão de António Costa. Mas era isso que o país precisava agora? Creio que não.

Luis Montenegro, até esta terça-feira, primeiro-ministro de Portugal, tentou evitar uma crise política no país avançando com uma proposta do Governo ao Parlamento para a aprovação de uma Moção de Confiança, que garantiria, até que fossem dissipadas todas as dúvidas e suspeitas que sobre si recaem, a estabilidade governativa, que o país muito necessita.

Ora, Montenegro fez muito bem. Independentemente de outros juízos, o presidente do PSD deu desde sempre sinais claros de que não queria e não quer empatar as investigações pelo escândalo da Spinumviva. O problema é que os partidos da oposição, PS e Chega, segunda e terceira forças políticas no Parlamento, perceberam uma brecha aproveitável para fazerem barulho e se revelarem verdadeiros oportunistas do sistema.

O Governo e o PSD pressionaram o PS até ao último minuto, sugerindo limites à comissão de inquérito em troca da retirada da moção de confiança. Porém, Pedro Nuno Santos esqueceu o país e só pensou em si próprio, ou seja, na possibilidade de chegar a chefe do Governo menos de um ano depois de o ter tentado e perdido precisamente para Luis Montenegro.

Se formos analisar bem, em onze meses Luis Montenegro teve um bom desempenho na governação do país, recuperando a confiança dos empresários, nas instituições da República. Nunca esteve envolvido em negócios obscuros até aparecer o caso Spinumviva, que, a nosso ver, não mancha a sua prestação no governo enquanto Primeiro-Ministro, porquanto mostrou estar nesse cargo por amor aos portigueses, às pessoas, e não atrás de tachos.

Aliás, nesse aspecto Montenegro difere como da água para o azeite dos nossos outros políticos pela sua confiabilidade. Não é difícil perceber que o ainda primeiro-ministro de Portugal foi um empresário que trabalhou para a família, e agora um político que coloca Portugal em primeiro lugar. Vejo semelhanças com Pedro Passos Coelho que foi sem dúvidas um dos melhores líderes do PSD e um grande primeiro-ministro – enquanto o deixaram trabalhar – governando o país na maior crise financeira (2008) e suportando todo o tipo de insultos, inclusive familiares e raciais por causa da esposa mestiça, mas se recusou a abandonar o barco.

Luis Montenegro tem exacta determinação a favor de Portugal. Assim que a Moção de Confiança do Governo foi chumbada no Parlamento, o que implicará a queda do Executivo e marcação de novas eleições, ele não escondeu o rosto, assumiu de peito aberto perante os jornalistas que será outra vez candidato do PSD a primeiro-ministro.

Agora a pergunta que não quer calar: quem perde com esta queda do Governo? É Portugal e os portugueses. Porque além de o ambiente político internacional não ser propício – a guerra na Ucrânia, o rearmamento da Europa na ordem do dia – nova ida às urnas implica avultadas despesas de dinheiro que tanto Portugal precisa. O mundo está apreensivo quanto ao seu futuro, mormente a União Europeia, que se vê afrontada com as duras políticas fiscais dos EUA, sem poder bélico e sem a energia da Rússia para incrementar a sua economia. A Europa precisa de coesão e ela (esta dura coesão) só acontecerá se cada país estiver estável, longe de questíunculas internas que só tendem a fragmentar Portugal.

Pior, o país está sem alternativa. O PS, de Pedro Nuno Santos, não demonstra preparo para liderar Portugal. Lembram-se de como, enquanto governante do governo do PAS derrotado há onze meses, desbaratou dinheiro público da TAP que distribuiu via WattsApp? E o Chega, com o seu radicalismo nacionalista, racista e xenófobo é uma bomba-relógio, numa Era que precisamos de ponderação.

Feitas estas equações, qual a necessidade de forçar a queda do Governo para obrigar o país a um lapso inestimável de tempo de ansiedade, mergulhado numa crise política sem boia de salvação?

Uma sondagem da Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo desta  terça-feira, 11, fez um raio-x detalhado da opinião dos portugueses nesta crise política: os eleitores não querem eleições antecipadas, ainda assim mostraram-se divididos quanto a se houve ou não falha ética de Luís Montenegro. Mas há mais, muito mais. Incluindo a penalização de quem censura (Chega e CDU) e valorização de quem chumba a censura (PS).

Dito de outro modo, “os portugueses estão contra eleições antecipadas, penalizam a CDU e o Chega por terem apresentado moções de censura e valorizam o facto de o PS ter votado contra; consideram aceitável que a empresa da família do primeiro-ministro tenha atividade privada e, mesmo se Luís Montenegro não deu ainda explicações suficientes, pode ter resolvido o caso com a venda da Spinumviva aos filhos”, observou a CNN Portugal.

O animador disto tudo é que as pessoas percebem o grau de gravidade que o PS, o Chega e a CDU meteram o país, colocando os seus intetresses – pessoais e partidários – acima de Portugal. E também sabem como cada recomeço dói e desespera. O erro de Portugal será não votar PSD outra vez.

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Comentários

  • Socrates, 12 de Mar de 2025

    Portugal tem instituições que podem funcionar sem governos. Não é como aqui que é como o faroeste que quem ganha fica com tudo e inclusive os negocios de
    Estado e privados é uma autentica orgia.

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  • mrvadaz, 12 de Mar de 2025

    Aff! Argh#&#! Como se já não bastasse o futebol português, agora temos que levar com o "politiquez" português. Quero mas é saber se os acordos que se fazem cá no burgo interessa aos cabo-verdianos.

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