O crescimento do fluxo turístico na Ilha do Sal tem evidenciado a ineficácia da classe política na gestão da indústria turística. Embora a prioridade continue a ser apenas o aumento do número de visitantes para arrecadar mais impostos, os problemas nas ilhas mais turísticas, como o Sal, só tendem a agravar-se. A falta de planeamento e medidas sustentáveis demonstra a incapacidade das autoridades em acompanhar este crescimento de forma equilibrada, comprometendo, assim, o futuro do destino.
O crescimento do fluxo turístico na Ilha do Sal tem evidenciado a ineficácia da classe política na gestão da indústria turística. Embora a prioridade continue a ser apenas o aumento do número de visitantes para arrecadar mais impostos, os problemas nas ilhas mais turísticas, como o Sal, só tendem a agravar-se. A falta de planeamento e medidas sustentáveis demonstra a incapacidade das autoridades em acompanhar este crescimento de forma equilibrada, comprometendo, assim, o futuro do destino.
O governo tinha como meta atingir 1,2 milhões de turistas até 2026, mas antecipou este objetivo para 2024. Aproximadamente 60% desse número (720.000 turistas) terão como destino a Ilha do Sal, evidenciando a sua importância na contribuição para o PIB nacional. No entanto, a rápida expansão não tem sido acompanhada por investimentos adequados em infraestruturas e serviços essenciais, o que resulta na degradação da ilha, com impactos negativos nas infraestruturas, no meio ambiente e na sociedade.
Infraestruturas em Declínio
Em termos de infraestruturas, destacam-se a Estrada de Santa Maria, a Estrada da Palmeira, a Avenida dos Hotéis e o Pontão de Santa Maria, o ponto turístico mais visitado do país. A requalificação da Estrada de Santa Maria segue a um ritmo lento, e a única certeza é que a sua inauguração ocorrerá antes das próximas eleições legislativas. Já a Estrada da Palmeira e a Avenida dos Hotéis continuam a aguardar futuras intervenções, deixando a desejar em termos de acessibilidade e conforto para os turistas.
Além do abandono destas infraestruturas, o governo e a Câmara Municipal não conseguem resolver um dos maiores problemas da ilha: a lixeira municipal, que teimosamente chamam de aterro, que representa um grave risco à saúde pública. Esta situação tem deixado uma imagem negativa da ilha, com turistas frequentemente expressando a sua insatisfação nas redes sociais e noutras plataformas. A crítica mais comum refere-se ao problema das moscas, especialmente no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, o que prejudica ainda mais a reputação da ilha e do país. Este cenário levou a um encontro entre a AAC e a Câmara Municipal, mas a questão permanece sem solução eficaz. Enquanto as soluções para a lixeira demoram a aparecer, a câmara continua a apontar o dedo aos incêndios provocados, apresentando três versões distintas para a resolução do problema, o que revela um claro desnorte nas tentativas de encontrar uma solução.
A Falta de Planeamento Social
As consequências sociais da incapacidade de adaptar a ilha às dinâmicas do turismo têm gerado problemas cuja magnitude futura é difícil de prever. A falta de estudos adequados e a ausência de ações preventivas agravam a situação. Por exemplo, o atraso na construção do novo Complexo Educacional, somado à falta de pressão dos representantes municipais e nacionais da ilha, resultaram em salas de aula sobrelotadas, afetando a qualidade do ensino. Em 2017/2018, muitos alunos foram deslocados para a Escola Ramiro Alves devido à insuficiência de salas, refletindo a falta de planeamento para a crescente demanda educacional enquanto que não sabemos quando iniciarão as aulas no novo complexo.
Crise de Água e Cancelamento de Voos
Recentemente, a ilha enfrentou uma grave crise de abastecimento de água que durou aproximadamente duas semanas, durante as quais a falta de água foi tão severa que diversos voos foram cancelados e vários hotéis ficaram sem o abastecimento necessário, prejudicando diretamente o turismo e a experiência dos visitantes. Esta crise não só evidenciou a falha na gestão de recursos essenciais, colocando em risco a qualidade de vida dos residentes e a imagem da ilha como destino turístico, como também levantou preocupações sobre o impacto a longo prazo.
O cancelamento de voos por falta de água pode ter consequências profundas, levando turistas a reconsiderar Cabo Verde como destino e optarem por alternativas mais estáveis, como as Canárias, os Açores ou a Madeira. Situações semelhantes já ocorreram no passado, como quando muitos turistas trocaram o Egito por Cabo Verde durante a Primavera Árabe, e agora corremos o risco de ver esse fluxo migrar novamente para outros destinos turísticos mais confiáveis.
Conclusão: A Necessidade de Ação Proativa
Se queremos melhorar a Ilha do Sal, tanto o governo quanto a Câmara Municipal não podem continuar a trabalhar de forma reativa. É essencial que antevejam os problemas e apresentem soluções a curto prazo. A falta de antecipação e planeamento para o crescimento do turismo está a contribuir para a degradação da ilha, que representa uma importante fonte de receita, apenas com o IVA dos hotéis, a taxa turística e a taxa aeroportuária, gerando cerca de 100 milhões de euros anuais.
Assim como os hotéis não sobrevivem permitindo a degradação dos seus quartos e infraestruturas, também a Ilha do Sal não pode continuar a permitir a degradação das suas infraestruturas e recursos naturais. Se a gestão continuar no modo reativo, o destino turístico perderá o seu brilho, prejudicando tanto a economia local quanto a imagem do país a nível internacional.
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