Cabo Verde viveu cinco séculos de colonização com a condição de povo da periferia ocidental com herança e cultura africana mais que evidente e esta condição, dotou-nos de uma forma particular de pensar e viver a nossa própria capacidade de sobrevivência (verificou-se e provou-se, que estávamos abandonados á nossa própria força cultural e inteligência humana) conseguindo movermos-mos dentro da lógica convencional, de criarmos como povo e nação, um importante reservatório de intuição e imaginação com o qual impregnamos o nosso existencialismo como país nação uno e indivisível sob a sigla e marca cultural que identificamos como: caboverdianidade e ou morabeza.
“... para Bruna Lopes e suas onze primaveras ...”
Uma das consequências da globalização é, sem dúvida, colocar em contacto pessoas de diferentes origens. Para que exista um processo de comunicação, é necessário utilizar uma linguagem conhecida por ambas as partes, ou as duas pessoas veiculam uma segunda língua que lhes permita comunicar, ou uma das partes conheça a língua do seu interlocutor, sem que isso seja recíproco...
No nível linguístico, não há língua mais globalizada do que o inglês; isso porque os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e todos os países previamente colonizados que preservaram a língua anglo-saxônica constituem a maior concentração do poder econômico mundial. Além disso, um dos componentes-chave para tornar isso possível é o facto de o inglês ser uma língua gramaticalmente simples, com um pequeno número de formas verbais e estruturas sintáticas curtas e concisas.
Cabo Verde para sobreviver, neste mundo de incertezas, deve pensar o “multilinguismo” e não dormir á sombra do “bilinguismo”: a nossa lingua nacional e o português; a imensa maioria do povo crioulo cabo-verdiano nas ilhas e sobretudo na diáspora, tem um conhecimento informal da lingua portuguesa e pressupostamente boa percentagem pratica no quotidiano da sua existencia a lingua materna.
A lusofonia é um campo cultural, intercontinental de cooperação entre povos de varias culturas, heterogénea que apagou as cicatrizes colonialistas, onde não se consegue identificar um pais matriz, federador de ideias aspirando unir simbolicamente todos os membros do clube, transformando todas as potencialidades dos nove países membros em uma comunidade intercontinental de trocas e de facilitação de circulação de pessoas, bens e serviços o “isolamento” reina de maneira, quase que endémica independentemente da excepcionalidade de encontros cimeiros, “Convívios Jogos” e se calhar algumas mais excepcionalidades culturais raras…num vasto mercado intercontinental...
É verdade que, no campo literário a lusofonia produziu uma literatura de excelência e boa colaboração; Cabo Verde teve recentemente a honra de receber dois prémios “Camões”. Prova que a língua portuguesa não está ameaçada pelo facto de em 2019 a oficialização-protecção da língua materna cabo-verdiana pela sua elevação á consideração justa de património nacional. A Dra. Ana Josefa Cardoso, reconhece, e é verdade que as duas línguas têm ocupado “lugares distintos”(… artigo no Inforpress de 22-04-22 …)
Como a ciência não para, independentemente de conhecimentos e diplomas, o constrangimento de actualizarmos às últimas invenções e progressos é real e imperativo, os países mais desenvolvidos transmitem seus conhecimentos e resultados de pesquisas, na língua mais falada do mundo, o inglês, língua que concentra o essencial do património científico e tecnológico da humanidade e vivemos uma civilização de comunicação e informação (… e de consumo …) O mercado da nossa sub-região africana pratica o inglês e o francês como línguas oficiais.
Temos um “gap” a resolver e indicadores económicos e turísticos, indicam-nos que devemos revalorizar o ensino de inglês, no sistema educativo nacional, a partir do ensino básico, sem subestimar a língua francesa, nem tão pouco o português, Cada língua abre-nos para um novo universo de ideias e valores, que nos cultiva mais e os reflexos serão sempre positivos e nos ajudará a fazer uma melhor integração no espaço económico e político do continente africano, e bom ingresso, no grupo económico da África de Oeste de que fazemos parte integrante.
Com o surgimento das novas tecnologias, surge um espaço de comunicação menos hierárquico, mais horizontal, o que permite o surgimento de uma nova variação linguística. Com isso é possível dizer, que a realidade da qual todas essas tecnologias estão em alta, faz com que exista uma nova configuração dos espaços comunicativos.
Voltando ao espaço linguisto lusófono, verificamos que é uma comunidade heterógena, deste planeta Terra e a diversidade em vários aspectos, do grupo nos impede de falar de cultura comum, apesar da centralidade que marca Portugal, do ponto de vista linguístico, mas que embora todas as hipóteses especulativas, fica relativamente distante dos mais actores do clube. Nove países unidos por um passado histórico colonial paternalista e linguístico, espalhados pela África, América do Sul, Asia e Europa, com pesos económicos desequilibrados, entre eles, ocupando, desmesuradamente e em destaque, sozinho, o Brasil, 85% da produtividade do conjunto no seu todo…
A língua e os valores ocidentais que nos legaram a colonização, que identificam-se culturalmente com a civilização greco-romana e com o cristianismo-judaísmo, não tinham outros propósitos que conquistas e explorações e não eram claros, porque desde o início o mundo ocidental que nos colonizou teve problemas de identidade não resolvidos. Sua longa coexistência com muçulmanos e judeus e a reação de um fundamentalismo católico que se fechou ao “Renascimento” e ao “Iluminismo” tornaram aquele mundo, num componente complexo, amalgamado em circunstâncias cheias de dramas como o vergonhoso negócio de “esclavagismo africano” e muitos outros traumas ainda por estudar ou esclarecer... O resultado foi uma identidade plural forçada e complicada. Uma identidade sujeita a conflitos sociais, morais, religiosos, económicos e pressupostamente psicológicos, fazendo emergir a busca de uma raiz conciliadora que foi permanentemente esquiva, sobre a pressuposta ideia de “trazer a civilização” a outros mundos...”os menos cultivados”.!!
Devemos proteger sem reservas a nossa língua materna, não subestimando o papel da língua portuguesa que independentemente de ser “língua oficial destas ilhas”, faz também, funcionar a administração pública e empresarial e para a maioria dos cabo-verdianos, foi e é a língua de aquisição de conhecimentos académicos…
Cabo Verde viveu cinco séculos de colonização com a condição de povo da periferia ocidental com herança e cultura africana mais que evidente e esta condição, dotou-nos de uma forma particular de pensar e viver a nossa própria capacidade de sobrevivência (verificou-se e provou-se, que estávamos abandonados á nossa própria força cultural e inteligência humana) conseguindo movermos-mos dentro da lógica convencional, de criarmos como povo e nação, um importante reservatório de intuição e imaginação com o qual impregnamos o nosso existencialismo como país nação uno e indivisível sob a sigla e marca cultural que identificamos como: caboverdianidade e ou morabeza.
miljvdav@gmail.com
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