A recusa do Ministro do Mar em reconhecer a gravidade da situação demonstra não apenas ignorância, mas também irresponsabilidade. A crise ambiental que se desenha em Cabo Verde não será resolvida com discursos negacionistas, mas sim com a adoção de medidas concretas e comprometidas com a conservação da biodiversidade. Se nada for feito, a extinção dos tubarões será apenas o prenúncio de um colapso ecológico irreversível, com impactos devastadores para a economia, a segurança alimentar e o equilíbrio ambiental do arquipélago.
Os acordos de pesca firmados por Cabo Verde com a União Europeia e a China têm desempenhado um papel significativo na degradação do ecossistema marinho. Atualmente, cerca de 7 mil toneladas anuais de pescado são destinadas à União Europeia, incluindo espécies de tubarão. O Ministro do Mar, Jorge Santos, tenta defender a redução da captura do tubarão azul de 20% para 15% como uma solução, mas ignora um fato essencial: espécies de tubarão possuem taxas reprodutivas baixíssimas, tornando inviável qualquer modelo de exploração comercial sustentável.
As recentes declarações do Ministro do Mar de Cabo Verde, negando a iminente extinção de tubarões no arquipélago, revelam um preocupante desconhecimento sobre a ecologia marinha e os impactos da sobrepesca. Sua postura contraria evidências robustas provenientes de estudos acadêmicos e de instituições internacionais, ao mesmo tempo em que expõe a superficialidade das decisões governamentais em relação à preservação dos recursos naturais.
O Estudo Científico e as Evidências Irrefutáveis
Um estudo publicado na renomada revista Frontiers in Marine Science, conduzido por investigadores cabo-verdianos e portugueses, confirma que Cabo Verde é o arquipélago da Macaronésia onde os tubarões estão em maior risco de extinção, com 66% das espécies ameaçadas. Este estudo segue metodologias científicas reconhecidas internacionalmente, o que confere credibilidade aos seus resultados.
Além disso, instituições globais como a International Union for Conservation of Nature (IUCN) classificam espécies como o tubarão-martelo (Sphyrna lewini) e o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) como vulneráveis ou em risco crítico de extinção. Negar tais evidências não apenas demonstra negligência, mas também compromete a credibilidade de Cabo Verde no cenário internacional da conservação ambiental.
O estudo citado anteriormente revelou que menos de 1% da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Cabo Verde está protegida. Em vez de reconhecer esse déficit, o ministro desconsiderou as evidências e desafiou os cientistas a identificarem as espécies ameaçadas, um gesto de desrespeito à própria produção acadêmica do país.
Negacionismo e Consequências Ecológicas
A postura do governo cabo-verdiano segue um padrão recorrente entre administrações que priorizam interesses econômicos imediatos em detrimento da sustentabilidade. Negar a realidade da extinção dos tubarões pode evitar constrangimentos diplomáticos com parceiros comerciais, mas terá um custo ambiental e econômico altíssimo no longo prazo.
O colapso das populações de tubarões desencadeia um efeito cascata: a proliferação descontrolada de espécies menores, a degradação dos recifes de coral e, por fim, o declínio da própria pesca comercial. A ausência de predadores no topo da cadeia alimentar compromete a saúde dos ecossistemas marinhos, afetando negativamente as comunidades pesqueiras locais que dependem desses recursos.
Medidas Urgentes para Reverter o Quadro
Para mitigar os danos e garantir um futuro sustentável para a pesca e a biodiversidade marinha em Cabo Verde, é essencial adotar políticas públicas sérias e fundamentadas na ciência:
1. Criação de Áreas Marinhas Protegidas: Expandir significativamente a porcentagem da ZEE sob proteção, garantindo espaços seguros para a reprodução das espécies ameaçadas.
2. Fiscalização Rigorosa: Implementar mecanismos eficazes de controle sobre a pesca industrial e assegurar que os acordos internacionais respeitem limites sustentáveis.
3. Proibição da Pesca de Espécies Vulneráveis: Seguir recomendações de organizações internacionais e adotar medidas que impeçam a captura de espécies em risco.
4. Investimento em Pesquisa e Monitoramento: Ampliar os estudos sobre o ecossistema marinho e garantir que decisões políticas sejam embasadas por evidências científicas.
A recusa do Ministro do Mar em reconhecer a gravidade da situação demonstra não apenas ignorância, mas também irresponsabilidade. A crise ambiental que se desenha em Cabo Verde não será resolvida com discursos negacionistas, mas sim com a adoção de medidas concretas e comprometidas com a conservação da biodiversidade. Se nada for feito, a extinção dos tubarões será apenas o prenúncio de um colapso ecológico irreversível, com impactos devastadores para a economia, a segurança alimentar e o equilíbrio ambiental do arquipélago.
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