Há mais de seis anos, ela dedica-se à investigação da língua materna, trabalhando com recolha de dados orais em imersão linguística. Nas visitas às localidades ela conversa, escuta e grava os falantes, num registo real e atual da língua crioula. Karina Moreira, natural da ilha de Santiago, é jornalista, linguista e uma das grandes defensoras da definição de politicas linguísticas nacionais e do ensino da língua materna nas escolas do país. Trabalhando hoje como professora universitária da Língua Cabo-verdiana, Karina defende, o quanto antes, a Oficialização do Crioulo, esta língua falada em casa, nas escolas, nas ruas, entre amigos e familiares, nas festas, nos convívios... uma língua presente nas canções, nos poemas, nas histórias e lenga-lenga, nos sentimentos e emoções... presente hoje nas redes sociais e no dia a dia do povo das ilhas e até da diáspora. Esta língua, orgulho de todos os cidadãos, que une toda a nação cabo-verdiana.
A Constituição da República, no artigo 9, diz que é língua oficial o português. Mas, o Estado promove as condições para a oficialização da língua materna em paridade com a portuguesa. Além disso, todos os cidadãos nacionais tem o dever de conhecer as línguas oficias e o direito de usá-las.
Santiago Magazine - Quem é Karina Moreira. Apresente-se ao nosso leitor.
Karina Moreira - Sou jornalista e linguista, licenciada em Linguística e especializada em jornalismo, profissão que exerci desde o início do meu percurso profissional. Pelo meio, fiz um mestrado em Crioulística e Língua Cabo-verdiana na Universidade de Cabo Verde e concluí em dezembro de 2020, em França, um Doutoramento em Ciências da Linguagem e Didáticas das Línguas, durante o qual desenvolvi uma tese de Descrição Gramatical e Lexical do Crioulo falado na ilha do Fogo. Tenho, portanto, esses dois interesses. Quando estudava Linguística Românica e Portuguesa tinha sempre a questão do Crioulo na cabeça, pensava como eu poderia aplicar aqueles conceitos à nossa língua materna, porque foi sempre um tema que me interessou bastante. E foi assim que, tendo surgido esse mestrado na UNI-CV em 2011, acabei por voltar para a Linguística e concretizar essas aspirações de investigar mais sobre a língua cabo-verdiana.
Fala-nos um pouco da sua tese de doutoramento à volta do crioulo cabo-verdiano.
O meu objetivo foi contribuir para um melhor conhecimento da variação interna da língua cabo-verdiana. Até agora a maior parte dos estudos focou-se nas variedades de Santiago, desde mais antigamente, e de São Vicente. Há ainda todo um território por explorar. Já no mestrado desenvolvi uma monografia sobre o crioulo da ilha do Maio e no doutoramento escolhi a ilha do Fogo. Por ter sido a segunda ilha a ser povoada há ali um crioulo que é bastante antigo e que tem características muito interessantes quando comparadas com os crioulos do Continente (Guiné-Bissau e Casamansa) que fazem parte da mesma família linguística do crioulo cabo-verdiano. Ou seja, o crioulo do Fogo tem muito para nos dizer sobre a história de Cabo Verde, da nossa língua e da nossa cultura. Por ter sido povoada muito cedo, logo a seguir a Santiago, e apesar disso, possui uma variedade com características bastante diferenciadora, que valiam e valem a pena serem estudadas. Vem daí a escolha por essa variedade.
Apresentação no ciclo de conferências -Investigação Actual sobre a Língua Cabo-verdiana UNICV 2019
Como surgiu esse interesse pelo estudo do crioulo?
Além de cientificamente contribuir para um melhor conhecimento da nossa língua, penso que entender a nossa própria língua, nos ajuda a compreender melhor a nossa história, as nossas questões identitárias enquanto nação. A língua é também cultura e é um dos elementos mais importantes da nossa identidade. Tendo em conta que ela atrai tanto interesse científico pelo mundo afora e sendo o crioulo cabo-verdiano considerado um dos mais antigos deste mundo moderno, do pós-descobrimento, todos esses fatores acabam me atraindo ainda mais, porque também me interessa a nossa história e a nossa identidade, o contato linguístico e todas essas áreas de investigação.
Recentemente fez a entrega oficial da petição, assinada por 188 personalidades, para a oficialização do crioulo como a língua oficial. Em poucas palavras, porquê a oficialização do crioulo?
Um grupo de professores, investigadores da língua cabo-verdiana e da língua portuguesa, do ensino da língua portuguesa, historiadores, artistas e ativistas subscreveram esta petição para pedir a definição de uma política linguística no país. Porque nós não temos uma política linguística definida em Cabo Verde. Existe um cenário, onde temos duas línguas que vão sendo usadas. Não existe uma definição clara referente a políticas de ensino, por exemplo. É uma situação que não está a favorecer nenhuma das línguas presentes no país. Por isso o nosso intuito com esta petição é focar em quatro áreas essenciais. Primeiramente, dar à língua materna o estatuto que a nossa Constituição prevê, quando diz que todas línguas nacionais devem ter o mesmo estatuto. Isso quer dizer que se o português é a língua oficial, o crioulo também deve sê-lo. Exigir o reconhecimento do valor pleno do crioulo, em termos sociais e políticas legislativas. É preciso conferir esse estatuto oficial de maneira a viabilizar os processos que se seguirão, de forma a que haja uma base para, por exemplo, trazer a língua crioula para o ensino, viabilizar a criação de políticas de investimentos e criação de materiais didáticos. Consideramos essa questão do ensino como muito importante porque investigações científicas da área neurolinguística e psicolinguística já provaram que o estudo e a explicitação dos nossos conhecimentos na língua materna são a base fundamental para a aquisição de outras línguas. Ou seja, isto facilitaria a nossa performance no aprendizado de outras línguas. O que temos até o momento é uma situação em que vamos para a escola aprendemos uma língua que para alguns pode ser familiar, mas para a grande maioria das crianças cabo-verdianas, é uma língua estranha, logo no início do seu percurso educativo. Este fator prejudica o desempenho dos estudantes, não por não terem a capacidade cognitiva de compreender o conteúdo, mas por causa da língua em que este conteúdo é veiculado. É uma situação que viola os direitos linguísticos proclamados pela UNESCO, que diz que nos primeiros anos de escolarização, as crianças devem aprender na sua língua materna. Esta situação apenas se perpetua em países que têm passado recente de colonialismo, de dominação e que ainda não pararam para refletir na importância que realmente tem o investir nas suas línguas e potenciar ao máximo as capacidades cognitivas das suas crianças, para numa fase posterior introduzir as demais línguas que são vantagens também para os seus cidadãos. Nenhum país que esteja a direcionar os seus sistemas de ensino para o sucesso inicia o ensino que não seja na sua língua materna. É algo que não é natural. A nossa situação linguística não é de todo ideal e levanta diversas questões com as quais estes signatários se confrontam no dia a dia, trabalhando de perto com os alunos e com o ensino. Essas situações revelam que há necessidade de definir esse panorama linguístico, definir estratégias de ensino, definir metodologias claras para facilitar, tanto a preservação e a explicitação do conhecimento da língua materna como a aquisição do português, de forma mais efetiva do que aquela que tem sido prática até agora na nossa sociedade. Além da questão da legitimação do crioulo enquanto língua oficial no país, da sua inclusão no sistema do ensino e exploração das potencialidades do ensino bilingue, esta petição tem como outro ponto essencial a solicitação de uma política de incentivo à investigação e atividade editorial, com foco na língua cabo-verdiana, de modo a termos material, incentivar à leitura e produção para que a língua possa também ser transposta a esta outra esfera e para que a língua oral passe a ser usada com maior propriedade e de forma mais recorrente na escrita. Tudo isso, são coisas que para serem feitas precisam de uma base legal e de investimentos. E o primeiro passo é oficialização que vai permitir dar os passos seguintes.
Apresentação no ciclo de conferências -Investigação Actual sobre a Língua Cabo-verdiana UNICV 2019
Estão reunidas todas as condições para a oficialização do crioulo em Cabo Verde? Que caminhos Cabo Verde deve percorrer até chegar à oficialização do crioulo. Como deverá ser esse processo, efetivamente?
Não é algo que se faça do dia para a noite, mas é preciso que se inicie o quanto antes, justamente, por ser um processo moroso que vai exigir reflexões, reunir especialistas, pensar nas metodologias e rever as boas práticas, o que se fez noutras paragens com situações linguísticas parecidas ou até mais complexas. É necessário iniciar o processo e trabalhá-lo de forma séria, ouvindo quem realmente estuda e pode dar um contributo válido para que chegue à sua conclusão. Não seremos o primeiro país do mundo a oficializar a sua língua materna, não somos o único país com uma situação sociolinguística onde há uma língua materna que não tem estatuto oficial e há uma segunda língua como a língua do ensino, e que têm outros sistemas e políticas linguísticas em vigor. É fundamental vermos o que é efetivo para o cabo-verdiano, e claro só se consegue lá chegar trazendo o assunto à ordem do Dia para realmente promover uma reflexão séria a volta.
Desocultação da língua cabo-verdiana no sistema de ensino e ensino bilingue, plasmados na vossa petição. Como isso deve acontecer e que vantagens trarão para o ensino a nível nacional?
Eu não poderei responder de pronto a essa questão, porque não cabe apenas a mim. Isso resultaria da reflexão de várias cabeças e da análise de todo o processo. Mas eu gostaria de aqui frisar que é uma falsa questão dizer que por causa das variedades que não se pode oficializar, porque elas vão se perder. Nesse caso, a padronização tem que ser feita no sentido de ser favorável à língua e não para de reduzi-la. A escrita tem um papel muito importante na preservação e valorização linguística. Existem no mundo línguas orais em extinção e muitas que já se extinguiram e a cada vez que isso acontece é uma parte da história que se vai com essa língua. O nosso crioulo é bastante vital, felizmente, contrariamente a vários outros crioulos de base lexical portuguesa que já se perderam, mas não sabemos o que pode vir a acontecer daqui a um ou dois séculos, se não forem tomadas algumas atitudes agora, no tempo certo. Não podemos não fazer nada para preservá-la, por pensarmos que não há nenhum tipo de risco. A padronização e oficialização vão também nesse sentido de preservar a língua, um fator muito importante para a nossa identidade.
Apresentação aos alunos de Estudos Cabo-verdianos e Portugueses -UNICV
Como os professores/alunos vão lidar com a questão das variantes do crioulo?
Há uma falsa questão no que refere à variação como impedimento para a oficialização. Não existe nenhuma língua que não tenha variedades. Se pensarmos num país como a China, pela sua dimensão e pelo número de habitantes, podemos imaginar a variação interna que existe no mandarim. Mesmo assim, existe uma norma-padrão no mandarim. Se pensarmos no caso mais próximo como em Portugal, existem variedades do Sul, do Norte, do Centro. Contudo, existe uma norma-padrão do português. A variação que existe no seio da língua materna cabo-verdiana não é mais complexa da que existe noutras línguas. Portanto, não é um fator de impedimento. No que se refere aos alunos e professores, se se chegar a uma norma-padrão, é preciso lembrar que ela vai incidir mais sobre escrita e não na oralidade. Não há nenhum problema na questão das variedades orais, porque não será criada uma política linguística que vá aniquilar as variedades e ninguém vai ser proibido de falar a sua variedade. Isso não faz sentido. A norma é para uniformizar a língua escrita de modo a termos um instrumento unificador de produção de materiais etc. na língua oral essa mesma norma terá os seus lugares de aplicação, mas não deve representar um risco para a variação dialetal.
Fale-nos um pouco sobre o Alupec, esse alfabeto tão polemizado.
O Alupec surgiu do Fórum de Alfabetização Bilingue, que aconteceu em 1993, onde foi criado o grupo de padronização do alfabeto, o qual ficou com a incumbência de apresentar uma proposta. Antes disso tinha sido apresentada uma outra proposta no pós-independência, conhecida como o Alfabeto do Mindelo, para não falar das propostas mais antigas do século 19. Portanto, não é de hoje a discussão da oficialização da língua materna cabo-verdiana. O Alupec foi aprovado pela primeira vez a título experimental em 1998 e já sofreu atualizações. Existiram e ainda existem críticas à volta do Alupec, mas eu penso que isso deve-se mais ao desconhecimento. Trata-se de uma proposta, não é obrigatória, tanto é que as pessoas escrevem o crioulo como querem, há muitas variações. É claro, pode haver mais propostas. Há muitas críticas, mas não há novas propostas. Não é algo fechado ou acabado, mas é o que, por exemplo, os investigadores da língua cabo-verdiana usam, bem como alguns escritores, mas sempre com algumas ressalvas ou adaptações que se consideram necessárias, pelo que a qualquer momento ele pode ser melhorado. As críticas são muitas e não cabe a mim julgar, pois cada um tem as suas razões, mas o que eu gostaria de aqui sublinhar é que podem sempre ser apresentadas novas propostas. Mais do que criticar, devemos ser todos colaborativos nesta batalha e neste processo de valorização da nossa língua, falando abertamente sobre o que não concordamos, o que pode ser melhorado ou não ou então propondo outras soluções.
Boa parte dos cabo-verdianos sequer sabem como aplicar o ALUPEC. Quais as suas características fundamentais e como funcionam?
O Alupec é um alfabeto que tem uma preocupação de ter um princípio de bi-univicidade, ou seja, cada letra representando um som, para evitar a ambiguidade. Por exemplo, na língua portuguesa temos o som “se” que pode ser representado por um S, C, Ç. Já no alfabeto cabo-verdiano, a ideia é que cada letra corresponda a um som. Existe um conjunto de regras associadas ao alfabeto, mas no sentido de ser o mais fonológico possível, representando todos os sons que existem na língua. E contrariamente às inúmeras críticas, é possível escrever em todas as variedades do cabo-verdiano, usando o alfabeto atual, respeitando as regras de ortografia e acentuação inerentes ao mesmo.
Isso quer dizer que a padronização da língua cabo-verdiana exige que haja um alfabeto...
O Alupec é um alfabeto para escrever a língua cabo-verdiana. A padronização da língua exige, sim, a existência de um alfabeto que poderá ser o ALupec ou outro. Mas essa questão do alfabeto tem que ficar definida porque não será possível ter uma língua padronizada, para se usar na escrita e noutras instâncias se não definirmos a forma como escrevemos.
Com as redes sociais a escrita do crioulo tornou-se ainda comum. Entretanto, por ser uma comunicação informal, cada qual escreve o seu jeito e da forma como bem entende. Como isso pode refletir na massificação do uso do Alupec?
Para mim é muito positivo o uso da língua materna nas redes sociais. Antes era muito estranho para nós escrever e ler em crioulo porque somos alfabetizados em português, mas hoje já não. Apesar de as pessoas usarem as palavras maioritariamente na mesma forma gráfica que elas são escritas na língua portuguesa, fazem esse exercício, o que torna muito mais fácil escrever e ler em crioulo. Com a padronização deverão ser incluídas algumas regras para uniformizar aquilo que se achar que deve ser escrito de uma ou de outra maneira. Essa escrita informal pode constituir também um importante corpus de análise, para saber como as pessoas transferem para a escrita as representações mentais, os sons que têm na mente, e ajudar, por exemplo, em situações que podem haver dúvidas de como representar um ou outro som da língua. Penso que sim, esse uso nas redes sociais, na comunicação informal, pode ser um benefício, porque pode ser um campo de análise linguística e pode dar o seu contributo neste processo.
Em trabalho de campo no interior de Santiago com um grupo de linguistas Créditos- Franck Guillemain
O crioulo como toda a língua, está vivo. Evolui com o passar dos anos. Essa evolução constante está por detrás da defesa da sua oficialização?
A evolução não é necessariamente negativa. As línguas são vivas, como bem disse, e elas evoluem. Nós aqui temos uma situação particular. As línguas crioulas têm no seu processo de nascimento outras línguas envolvidas. Há crioulos que estão em contato com as línguas que lhes deram origem e há outros que não. Este contato pode ser positivo como negativo, pode introduzir interferências na língua, pode descaracterizar a língua, mas pode trazer também coisas boas e normais do contato, como os neologismos. De qualquer forma, nós temos que ter em atenção como é que se dá essa interação, para que ela não seja prejudicial para nenhuma das línguas. A maior parte daquilo que chamamos de erros que os falantes crioulos fazem em língua portuguesa é aquilo que os especialistas denominam de interferências. Justamente porque não há uma definição clara da fronteira onde acaba o crioulo e começa o português, e vice e versa. Por isso, as pessoas têm uma tendência a misturar e a cometer essas tais interferências por influência de uma e outra língua. Por isso é importante o ensino para explicitar o conhecimento por cada coisa na sua “gaveta”, saber que no crioulo é assim, mas que no português já não, para não estarmos constantemente a descaracterizar uma ou outra língua. Só para dar um exemplo, uma das interferências mais comuns cometidas pelos estudantes, crianças pequenas e adultos têm a ver com os erros de concordância em número e género, não fazer concordância do singular e plural ou masculino e feminino, quando falamos o português. Isso se deve à influência do crioulo, onde não existe este mecanismo. Apesar de o crioulo ter um léxico maioritariamente de origem portuguesa, tem uma estrutura sintática herdada das línguas africanas, que estiveram envolvidas no processo de sua formação, as chamadas línguas de substrato. Por isso o crioulo tem alguns mecanismos morfológicos e sintáticos que diferem do português. Por exemplo, para expressar o plural, em vez de ser uma marca morfológica de plural um “S” nós podemos recorrer a um outro mecanismo como o uso de quantificadores. Em vez de dizer ‘casas’, eu posso pluralizar dizendo ‘un munti di kasa’. Então, no crioulo, não há necessidade desse “S”, porque expressamos o plural de outra forma. Ou não há necessidade de concordarmos o substantivo e o adjetivo porque também expressamos o género doutra forma. Isso não é um erro, e sim, uma característica da língua crioula. Há línguas que possuem estas tipologias, nesta questão a língua crioula difere do português porque está inserida numa outra tipologia. No entanto, se o falante não sabe disso acaba por fazer essa transferência. Neste caso concreto, é preciso saber e deixar claro que o que no crioulo é correto, no português é considerado um erro. É preciso explicitar esses conhecimentos. Assim como prestamos muita atenção ao falar outras línguas como o inglês ou o francês para não cometermos erros, precisamos ter esse cuidado com a nossa língua e com o português e não andar nesta diluição de fronteiras entre as duas línguas e achar que está tudo bem.
O que poderá significar para a nação cabo-verdiana ter o Crioulo como a língua oficial?
Para a nação cabo-verdiana ter o crioulo com a língua oficial tem inúmeras vantagens. Primeiro, porque estaremos a valorizar a nossa língua e a criar um fator de autoestima e de unificação nacional. Somos um povo com uma história singular, mestiço, e a nossa língua é um testemunho vivo dessa mestiçagem. Ao valorizar a nossa língua estaremos a valorizar os próprios falantes, a estimular a autoestima nacional e estaremos a dar um passo em frente, conferindo à língua o valor científico que a língua ela tem. Estaremos também a dar o exemplo. Temos tanto orgulho em ser pioneiros em tanta coisa, de ser exemplo de democracia em África, de ser exemplo de boas práticas em vários sectores, portanto podemos ser exemplo também neste quesito para outros países que vivem esta mesma situação. O crioulo é hoje património nacional, mas penso que deve haver medidas mais práticas. Mais de que um património, algo estático que está ali para ser preservado e valorizado, a língua como um instrumento vivo, tem que ser praticada. É bom que ela receba esse estatuto de património, mas melhor ainda seria se recebesse o estatuto de língua oficial no país, tirar a nossa língua da informalidade, dando-lhe um estatuto pleno, fazer com que ela seja utilizada como qualquer outra língua no mundo em todas as instâncias de comunicação. Isso sim, seria um passo decisivo para a valorização, manutenção e preservação linguística.
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