Quinquagésimo aniversário da independência nacional. 1975-2025. Um país em debandada. Muita descrença. Muita frustração. Um país desigual. Uma democracia de fachada. Sem emprego, sem rendimento, sem habitação condigna, salário de miséria e uma democracia reduzida ás eleições periódicas. Só isso. Não há ditadura maior do que uma governação incapaz de satisfazer as necessidades básicas das pessoas. Sobretudo dos jovens, a camada que se convencionou chamar de força viva do país. Quanta ironia!
Há um sentimento dentro do meu peito, um sentimento tão grande quanto o vulcão da ilha do Fogo. Não sei o que fazer com ele, e tem sido cada vez mais pesado para mim. Não há ninguém que possa me ajudar.
Esse peso tem piorado a cada dia, especialmente quando olho ao meu redor e vejo um país sem alternativas para me socorrer. Parece que a cada dia, fico mais para trás e o lugar onde eu quero chegar fica cada vez mais distante. Quero, mas não posso; tenho vontade, mas não sei onde me agarrar; busco, mas não encontro; bato nas portas e ninguém as abre! Ninguém me dá apoio. Sinto-me abandonado num país onde os governantes dizem todos os dias que existem alternativas para mim.
Meus pais choram no canto da casa, para que eu não os veja. Eu sei que as coisas não estão bem! Não é essa a realidade que eles desejam para mim. Terminei o 12º ano, mas não consegui ir para a universidade, porque não há oportunidades para os filhos dos mais pobres.
Ó senhor governante, abra a porta, para que possamos entrar! Mais um ano passou, e para mim, nada, para o meu vizinho, nada. Ó senhor governante, dê-nos uma oportunidade, uma verdadeira oportunidade no nosso país amado, e não em países distantes. É aqui que o meu umbigo está enterrado, é aqui que eu quero ser homem, construir meu futuro e viver com dignidade!
Até quando? Estou cansado! O peso tem sido insuportável e sou muito jovem para sentir tanto medo, tanta frustração, incerteza, insegurança e dúvida. Não quero perder meu caminho, não quero cair no abismo do álcool como meu primo, nem nas drogas como a filha do meu vizinho, que tantas vezes bateu, ninguém abriu; pediu, ninguém lhe deu nada; buscou, e não achou.
Há um sentimento dentro do meu peito, sim! Um sentimento de medo, abandono, frustração, incerteza quanto ao amanhã, insegurança e dúvida. Não estou bem no meu país, não há oportunidades para jovens como eu, que carregam esse peso no peito, buscando um futuro melhor. Ó senhor governante, socorra-nos! Abra as portas para nós, dê-nos o que pedimos, precisamos encontrar o que buscamos. Não nos obrigue a sair do nosso país, a passar por humilhações em outros lugares!
DE: eu, você, eles e nós!
Comentários
Carlos Vieira, 30 de Mai de 2025
Adão Cardoso, sinceramente, no seu artigo de opinião, encontramos tudo o que assola uma boa parte da juventude do Povo das ilhas: de angústia á frustração, passando pela abandono e as soluções inexistentes. O desespero de ver os sonhos se distanciar e o isolamento social e económico que muitas vezes empurra para o abismo do vício! Bravo ??.
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Maurino de camões Brito Delgado, 30 de Mai de 2025
Já ouvi, várias vezes, da boca do Dr. Jorge Carlos Fonseca, ex-Presidente da República que o País, para se desenvolver, necessita de uma sociedade civil forte, capaz de influenciar todos os poderes públicos. Os jovens têm força para fazer isso. Através de manifestações, protestos, debate de ideias, formulando e exigindo politicas que promovam o desenvolvimento.
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