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Ex-director da PJ desmente inspectores que acusam Paulo Rocha no caso da “morte em Cidadela”
Sociedade

Ex-director da PJ desmente inspectores que acusam Paulo Rocha no caso da “morte em Cidadela”

Carlos Alexandre Reis, antigo director nacional da Polícia Judiciária, saiu em defesa do seu ex-adjunto, Paulo Rocha, afirmando que quem está a mentir no processo de investigação à morte de Zezito denti d’Oru, na Cidadela, em 2014, são os inspectores da PJ, André Semedo e Gerson Lima.

Num artigo de opinião publicado hoje, 6, no Expresso das Ilhas (não um jornal da praça como sempre referem a Santiago Magazine), Carlos Reis – exagera claramente ao afirmar que “sempre o mesmo jornal online, atraves de jornalista, ou dando espaço a ‘pseudo’ especialistas sequer tentam disfarçar a sua agenda pessoal e o seu afã de vingança” – veio desmentir a presença de Paulo Rocha, actual ministro da Administração Interna e então director nacional adjunto da PJ,  na operação que levou à morte a tiro de Zezito dento d’Oru, numa suposta troca de tiros em Cidadela.

Dizendo que chegou ao limite do silêncio, Reis, que na altura desse caso era o director nacional da PJ de onde saiu para ser Conseheiro Nacional de Segurança do então PM, José Maria Neves , vem agora a público, através de artigo de imprensa, dizer da sua justiça. “Tenho-me mantido em silêncio, apesar dos fatos terem ocorrido em 2014, numa altura em que assumia as funções de Diretor Nacional da Polícia Judiciária e, nessa qualidade, responsável máximo da instituição, principalmente porque sempre entendi dever prestar declarações em sede própria e evitar “chafurdar” num arrazoado de insinuações e falsidades que foram sendo publicadas ao longo destes últimos anos”, reconhecendo, contudo, a existência da investigação revelada por este jornal.

“Entendo que já não posso esperar até que se decida pela minha audição perante o Ministério Público, quando se entrega a um órgão de comunicação social peças processuais, que deveriam estar sob segredo de Justiça (entendendo, pessoalmente, que não é o órgão de comunicação social que se deverá procurar responsabilizar por tal violação), e principalmente quando essa entrega é, claramente, feita por quem tem o processo sob sua responsabilidade”.

“Quando o grau de falsidades reproduzidas nos Autos chega já a um nível intolerável, quando fica cada vez mais claro que demasiadas pessoas com responsabilidades conluiam para subverter fatos e evidências, ainda que para isso conspurquem a dignidade e o bom nome, já não apenas de uma pessoa, mas de várias, e da própria instituição, sinto-me obrigado a, publicamente, desmentir frontalmente a versão dos fatos que foi publicada e que, aparentemente, consta dos Autos de Instrução 6379/2015, que incidem sobre a morte de José Lopes Cabral, que foi conhecido por ‘Zezito Denti d’Oru’”, escreve Reis, hoje a residir em Marrocos a serviço da ONU, antes de apontar os nomes dos eventuais chibos de Rocha.

E cá estão: “Constam do referido Inquérito uma série de factos que são falsos e cuja prova não poderá ser feita, de todo, nem com recurso ao depoimento, ora trazido à luz, do Inspetor Gerson Lima, o qual desminto frontalmente”.

Primeiro facto falso, e propositadamente distorcido pelo actual Director Central de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, André Semedo: o Grupo de Operações Táticas (GOT) da Polícia Judiciária não foi criado para aquela operação. O GOT foi criado em 2007, por iniciativa do Coordenador de Investigação Criminal Elton Santos, após participar numa ação de formação sobre técnicas de intervenção policial, ministrada pelo Grupo de Intervenção da Polícia Nacional Francesa – RAID, em junho daquele ano. Nota-se que nessa altura André Semedo era o Diretor do Departamento da PJ em São Vicente.  Inicialmente com abrangência restrita à São Vicente, viria a tornar-se um grupo com abrangência nacional, após o Diretor Nacional Óscar Silva Tavares, designar a criação de um grupo nos mesmos moldes na Praia e a uniformização dos dois grupos por forma a que tivessem o mesmo nome, o que no entanto, não foi bem recebido por ambos os grupos, nascendo assim, em fevereiro de 2008, o Grupo de Intervenções Rápidas, na Praia. Em abril de 2014, vir-se-ia finalmente a efetivar a uniformização dos dois grupos, criando-se um grupo único nacional com a designação original GOT, sendo esta uma decisão minha, enquanto Diretor Nacional”.

Carlos Reis continua: “O porquê do atual Diretor Central de Investigação Criminal André Semedo vir afirmar ter sido criado para esse fim deverá vir a ser cabalmente explicado, mas desde já se volta a afirmar: É FALSO! O então Diretor Nacional adjunto da Polícia Judiciária Paulo Rocha não esteve no local do confronto entre o malogrado José Lopes Cabral e funcionários da Polícia Judiciária! Afirmo-o e repeti-lo-ei em sede própria”.

O texto-defesa do ex-DN da PJ nega também que Paulo Rocha, segundo consta das declarações de Gerson Lima, tenha mandado colocar uma arma no interior do veiculo de Zezito Denti d’Oru para o incriminar. “É falso também que o Inspetor Chefe César Lopes tenha sido incumbido de providenciar uma arma para ‘plantar’ na cena do crime! Efectivamente, o Inspector Chefe César Lopes era o responsável pelo armamento, algo que passou a ser desde 2013 (e não desde sempre como se tenta fazer passar), pois que sucedeu ao Inspetor Chefe João Emílio Tavares, que deixou tal responsabilidade quando se ausentou por vários anos para ir viver no Brasil. (...) Ao Inspetor Chefe César Lopes não foi pedido ou ordenado que conseguisse uma arma para colocar na cena do crime! O próprio não acataria tal pedido ou ordem, nem teria condições para o fazer!”

“É chegada a hora de questionar: o Inspetor Gerson Lima (arguido em sede de outro processo, e a que faço referência por ter sido notícia e é de conhecimento público) é testemunha credível para efeito de trazer esta versão dos fatos? Não o é, por várias razões. Estamos a falar de um inspetor, que pese embora a sua já longa carreira, sempre foi visto com muita desconfiança relativamente à sua seriedade e probidade por vários colegas, principalmente pelas companhias com que sempre privou, muitas delas ligadas ao mundo do crime”.

O texto vai ainda mais longe, acusando o referido inspector, que depôs contra Paulo Rocha na investigação do MP que Santiago Magazine noticiou, de colaboração com o narcotráfico. “Este inspector, relativamente ao qual corre a instrução de um processo em que se encontra indiciado de crimes de adesão e colaboração com associação criminosa para o tráfico de produtos estupefacientes, lavagem de capitais, corrupção e extorsão, que inclusivamente chegou a ser preso fora de flagrante delito por ordem do Ministério Público e que tem um processo disciplinar em andamento e que pode ditar a sua expulsão da PJ, surge agora com estas declarações quando, à data dos fatos, foi liminarmente excluído das equipas de investigação ligadas às ameaças que pairavam sobre magistrados e funcionários da Polícia Judiciária, ligados à investigação e julgamento do caso conhecido por Lancha Voadora”.

No mesmo artigo, Carlos Reis decide contar a sua versão dos factos: “Já após o assassinato da mãe da Coordenadora Kátia Tavares, a PJ recebeu a informação de que o Zezito, indivíduo referenciado como pistoleiro a soldo e suspeito do homicídio do Banda na Praia, estaria em Cabo Verde com o propósito de cometer atentados contra pessoal magistrado envolvido no processo da Lancha Voadora (Juízes e Procuradores), bem como pessoal da PJ e que o mesmo estaria no momento da denúncia na Cadeia Central de São Martinho para se encontrar com um dos líderes do grupo criminoso da Lancha Voadora, que ali se encontrava a cumprir pena”.

“A PJ de posse dessa informação, de imediato deslocou uma equipa à cadeia de São Martinho, tendo efetivamente constatado a saída do Zezito desse estabelecimento prisional, na companhia de outro indivíduo, conhecido também no mundo do crime. Nos dias que se sucederam, a PJ pôde constatar a presença do Zezito em alguns locais da cidade da praia”.

“Das vezes em que foi sendo visto e dos locais em que se encontrava, resultou informação relevante e grande apreensão, que justificou que eu tivesse convocado alguns funcionários, para análise das informações disponíveis até o momento e medidas de proteção. Desta reunião participou o DNA na altura. Contudo, o Inspetor Gerson Lima não esteve nessa reunião”.

“Em função do perfil dos Procuradores e Juízes alvos da ameaça, e após articulação com o PGR Óscar Tavares, ficou decidido que a PJ deveria manter um estado de alerta total em relação ao Zezito e tudo garantir, através de dispositivos de vigilância e proteção dos magistrados, que nenhum deles pudesse ser atacado. Foram montadas equipas de vigilância, que se organizaram operacionalmente para acompanhar os movimentos do referido indivíduo, mas também para garantir que as zonas aonde residiam os magistrados que poderiam ser alvo de atentado estavam devidamente vigiadas”.

“É neste quadro que, ao se receber a informação de que o referido indivíduo já estaria na posse de uma arma, as equipas de vigilância que se encontravam no terreno decidem abordá-lo, com o fito de proceder a revista, procedimento feito milhares de vezes pela polícia, sem que ocorram confrontos ou troca de tiros. A revista, confirmando a detenção de arma, permitiria a detenção do referido indivíduo. Se tal não se confirmasse, não teria havido quaisquer outros problemas”.

Pois bem, para o antigo director nacional da PJ, Carlos Reis, “as respostas estão ligadas a um afã de vingança, de gente que no passado manteve relações muito estranhas com o mundo do crime, nomeadamente do próprio narcotráfico e que, nesta altura, tentam voltar a servir interesses outros, muito distantes do Estado de Direito e da administração da Justiça. Efectivamente, e neste ponto também tenho toda a disponibilidade em prestar esclarecimentos a quem de Direito, sobre as relações a que faço aqui referência e sobre as motivações ilegítimas que movem estas pessoas que hoje pretendem assumir responsabilidades para as quais não têm, nem competência, nem idoneidade para o fazer”.

 

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