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Presidenciais 2021. As razões por detrás da humilhante derrota de Carlos Veiga
Ponto de Vista

Presidenciais 2021. As razões por detrás da humilhante derrota de Carlos Veiga

José Maria Neves, candidato vencedor destas eleições, apesar de ter beneficiado da logística do PAICV, inteligentemente apareceu sozinho na arena. Não prejudicou a sua imagem com figuras de topo do seu partido, que pouco ou nada tinham para oferecer, e não teve a necessidade de se esconder atrás de outra identidade, como aconteceu com Carlos Veiga. Não consigo entender a necessidade ou estratégia de Carlos Veiga em se esconder atrás desse fantasma de “Kalú”, que viria a ser motivo de chacota para toda a plateia, tanto de um lado como doutro. Esse tal de “Kalú” foi o bobo da festa. Sinceramente! Não souberam trabalhar a imagem do candidato.

A derrota de Carlos Veiga era previsível na medida em que, a cúpula do MPD é maioritariamente constituída por indivíduos a quem não interessavam uma eventual vitória deste candidato. Há muito tempo que Carlos Veiga deixou de ser o “líder espiritual” do MpD. Nós todos sabemos e sentimos isso.

Por outro lado, sabe-se que dentro da estrutura do MPD existem potencialidades capazes de fazer opiniões e neutralizar possíveis anticorpos que, infelizmente, pairam sobre a personalidade política de Carlos Veiga. Todavia, por razões que desconheço, essas potencialidades sobejamente conhecidas e com provas dadas não foram tidas nem achadas. Foram intencionalmente ignoradas.

Quem quer ter flores tem de cuidar do seu jardim.

Independentemente disto, a campanha não foi inteligentemente planificada. Cometeu-se erros infantis que acabaram por destruir a imagem do candidato.

Naturalmente, quem tem pernas para andar, não precisa de muletas. A excessiva colagem no MpD e na UCID produziram efeitos contrários e devastadores. Ao se colar no MpD, Carlos Veiga chamou a sí toda e qualquer responsabilidade do fraco desempenho do executivo de Ulisses Correia e Silva que, propositada ou inocentemente (?), tomou uma série de medidas impopulares, durante o período de campanha, que naturalmente indispuseram os eleitores.

O excessivo aumento das tarifas de electricidade e água, o aumento do IVA, a arbitrária prisão de Amadeu Oliveira para tentar credibilizar a justiça, o frete feito aos Estados Unidos com a extradição de Alex Saab, são directamente atribuídos ao governo de Ulisses Correia e Silva que, ao se colar no candidato presidencial Carlos Veiga, acabou por contaminá-lo, transmitindo-lhe esta responsabilidade.

Outro factor negativo foi a carneirada dos autarcas do MpD a correr atrás de Carlos Veiga. Esses indivíduos, maioritariamente incompetentes, politicamente vazios, arrogantes e desprovidos de ética, deviam ter ficado longe de Carlos Veiga, como fica o diabo da cruz.

Por outro lado, o  factor UCID foi outro desastre. O seu líder não passa de um profeta de desgraça, cujo sermão é sempre mais do mesmo. Ao se “vender” no MpD, como tem sido hábito, acabou por irritar os seus poucos militantes que, por represália, votaram todos no candidato adversário.

Por seu turno, José Maria Neves, candidato vencedor destas eleições, apesar de ter beneficiado da logística do PAICV, inteligentemente apareceu sozinho na arena. Não prejudicou a sua imagem com figuras de topo do seu partido, que pouco ou nada tinham para oferecer, e não teve a necessidade de se esconder atrás de outra identidade, como aconteceu com Carlos Veiga. Não consigo entender a necessidade ou estratégia de Carlos Veiga em se esconder atrás desse fantasma de “Kalú”, que viria a ser motivo de chacota para toda a plateia, tanto de um lado como doutro. Esse tal de “Kalú” foi o bobo da festa. Sinceramente! Não souberam trabalhar a imagem do candidato.

Outro factor que poderá ter disparado a abstenção foi o esbanjamento de recursos, presumivelmente públicos, pelo actual governo e seus satélites, chamados de câmaras municipais que, na realidade, não passam de “fortalezas” do partido no poder, seja ele qual for.

Num país em que 60% da população vive abaixo do nível de pobreza, é pura e simplesmente imoral o esbanjamento dos fracos recursos públicos de que dispomos, em benefício de candidaturas de seja lá quem for. Esse tipo de comportamento atinge a sensibilidade do eleitor, acabando por desmotivá-lo

Precisamos rever a forma de governar Cabo Verde. Deste jeito não vamos chegar a lado nenhum.

Termino, felicitando o candidato vencedor destas eleições presidenciais, o Sr. José Maria Neves, a quem desejo sucessos no desempenho da nobre missão, e que não venha a ser mais um santo no altar.

Mindelo, 25 de Outubro de 2021

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