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Dispositivos de concentração de peixes 10 anos depois
Ponto de Vista

Dispositivos de concentração de peixes 10 anos depois

O que é um DCP? Como o próprio nome sugere, um DISPOSITIVO DE CONCENTRAÇÃO DE PEIXES, é uma estrutura de fabrico artesanal, constituído por um peso que o manter fixado sobre uma plataforma - normalmente indicada pelos pescadores como “Banca de Pesca” – ligada a uma boia flutuante à superfície, com a dupla função de (1) garantir a verticalidade da estrutura e (2) permitir sua fácil localização pelos utilizadores (pescadores);

O peso e a boia, estão ligados por um cabo – pode ser de aço ou de polietileno, em função da disponibilidade orçamental, ciente de que o cabo de aço é mais resistente, portanto garante maior tempo de vida ao dispositivo. Ao longo deste cabo, são fixadas redes flutuantes submersas que funcionam como bandeiras içadas a uma haste.

Assim, estas redes acabam por ser receptoras de limos e outras espécies de fitoplanton e pequenos crustáceos e moluscos, que por sua vez atraem pequenos peixes e estes respeitando o principio natural do ciclo alimentar, acabam por atrair peixes maiores, até se formar uma cadeia alimentar grande, chegando a atrair grandes pelágicos/tunídeos, demersais, até tubarões e cetáceos, constituindo estes últimos a megafauna cabo-verdiana.

A concentração de peixes à volta deste dispositivo, constitui um capital pesqueiro importante, garantindo ao pescador a possibilidade de em poucas horas de pesca, atingir os valores médios de pesca, evitar despesas de combustível com deslocações entre vários pesqueiros e ainda por voltar a tempo de cuidar da família e outros afazeres como a pastorícia e a agricultura familiar, enquanto formas de incremento dos rendimentos.

Os dispositivos de concentração de peixes -DCP's- são importantes auxiliares de produção da pesca artesanal.

Enquanto animador e activista neste sector, tive o prazer em 2012/13, de coordenar um projecto de manutenção dos DCP'S para a Região Santiago Norte.

As operações de manutenção dos DCP'S devem ser realizadas a cada seis meses, segundo orientações da FAO, no entanto, o país acabou por negligenciar esta norma técnica, fundamental para a sustentabilidade.

Em consequência, todo o investimento e esforço realizados nas várias operações, desde sua colocação em todas as Zonas pesqueiras do país, dormem hoje no fundo do MAR, sem que os nossos pescadores deles pudessem se beneficiar. O que significa que o resultado da avaliação deste projecto a médio e longo prazo é negativo, por falta de manutenção.

Destacar que, em 2010, foram lançados os últimos DCP'S no país, financiados pela FAO e pelo Governo de Cabo Verde, em parceria com as comunidades/associações de pesca. Santiago Norte, foi a única Região do país que dois anos depois, organizou uma operação (ver imagem) de manutenção, uma iniciativa da COOPESCA-SN, em parceria com o GEF/SGP, orçado em cerca de dois milhões de escudos. Mesmo assim, apenas conseguimos resgatar os Dispositivos de Rincão, Ribeira da Barca e Tarrafal.

Em São Miguel e Santa Cruz, dado às características de mar agitado pela exposição permanente aos ventos do leste, não foram encontrados nenhum dos DCP'S por não terem resistido ao tempo.

Dispomos de todas a informações, incluindo as coordenadas geográficas e os nomes das principais bancas de pesca de toda a Região e nos disponibilizamos em colaborar, pois, hoje, passados 10 anos, já não existem DCP's. O que significa que as espécies de peixes demersais, estão dispersos e o pescador artesanal investe mais esforço físico, tempo e dinheiro no processo de produção, obtendo cada vez menos resultados . ... E em economia quando os resultados são muito inferiores aos investimentos, o resultado é a falência seguida da pobreza.

Fica esta sugestão para as autoridades nacionais de pesca: DE NADA VALE TERMOS LEIS, INFRAESTRUTURAS DE PESCA EM TERRA, APOIARMOS AS COMUNIDADES COM FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E FACTORES DE PRODUÇÃO, SE NÃO INVESTIRMOS EM INFRAESTRUTURAS NO MAR, PARA PERMITIR A CONCENTRAÇÃO DO PEIXE E A CONSEQUENTE POTENCIALIZAÇÃO DOS DEMAIS INVESTIMENTOS FEITOS A MONTANTE.

Um Feliz ano 2020 aos Pescadores, peixeiras, técnicos, pessoal operacional e dirigentes do sector pesqueiro Nacional.

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Redação