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Dja d'sal junt ma Diáspora
Colunista

Dja d'sal junt ma Diáspora

É muito fácil dizer " Dja Dsal junt ma diáspora" quando todos sabemos que a nossa diáspora nunca abandonou o seu país e em troca sente-se totalmente abandonada e incompreendida. Não esquecemos que a diáspora sempre esteve junto com Cabo Verde em todos os momentos, sejam eles bons ou maus, o que já não podemos dizer dos nossos políticos e decisores. E neste caso em particular, como deve sentir este grupo de emigrantes que vai pagar o transporte desses materiais ( 5.000 euros), com dinheiro dos seus salários ou das suas poupanças, por simplesmente querer ajudar a sua Ilha, enquanto vêem patrocínios da Câmara Municipal à festivais e outras actividades?

De volta à normalidade e aos festivais de música, e pelo meio, o patrocínio do concerto em homenagem à morna, no casino Estoril em Portugal, pela  CMS e MCIC. E, para concluir, o Festival de Santa Maria e os festivais de verão no Sal. Este ano o lema do festival, “Dja d'sal junt ma Diáspora", numa tentativa de aproximar a ilha com a sua diáspora. Tentativa esta, para muitos merecida e reconhecedora, pela importância que a diáspora têm no desenvolvimento de Cabo Verde, principalmente a partir da independência, a 5 de Julho de 1975. Reconhecendo, pois, que depois  da nossa independência, a diáspora e parceiros de Cabo Verde, foram e continuam a ser um dos principais pilares do desenvolvimento do país. De recordar que as remessas enviadas pelos emigrantes cabo-verdianos para o arquipélago, em 2021, atingiram o valor recorde de 25.833 milhões de escudos (232 milhões de euros), segundo dados do banco central. O recorde de remessas, veio mais uma vez demonstrar a preocupação da diáspora para com as suas gentes e reforçar o pilar que é, e principalmente em manter o “status quo” no desenvolvimento do país.

De glorificar, na medida em que, mesmo com todas as dificuldades criadas pela pandemia do Covid-19, a diáspora reconhece e abraça as dores e necessidades do país e dos irmãos cabo-verdianos e ainda, aumenta as remessas e doações. Por outro lado, uma parte da classe política continua a fingir que essa franja importantíssima para Cabo Verde não existe.

De remessas e doações, vou cingir nas doações, que a meu ver deveriam ser abraçadas pelas autoridades nacionais de uma outra forma, ou seja, atribuindo esta atitude altruísta, uma atenção realmente merecida e necessária, sobretudo pelo papel que desempenha na vida de muitas pessoas carenciadas do país.

O descaso e falta de sensibilidade por parte de algumas autoridades do país a este gesto tão nobre, tem prejudicado sobremaneira àqueles que mais precisam, sobretudo se pensarmos que os doadores esgotados de tanta “interesse” desinteresse viram as costas ou desistem de apoiar nas recolhas e nos envios de doações.

Dou um exemplo específico e vergonhoso, o que aconteceu em 2019, quando as autoridades salenses, negaram custear o envio de uma doação destinada ao Hospital do Sal, pelo simples fato desta ter como destinatário esta instituição de saúde e não à Câmara Municipal do Sal.

Outro bem recente, foi em 2021, durante o envio de um contentor com doações, no qual, o dono da empresa de transporte confidenciou que não disponibiliza mais transportar estes tipos de encomendas, por existir uma dívida para com a sua empresa, no valor de quinze mil euros e até então sem pagamento por uma das câmaras municipais do país.

Retomemos então, o caso do Sal, adiantando que foram doadas em 2019, 18 camas por uma instituição na Bélgica, colchões por emigrantes, com fundo próprio, com intuito de poder enviar um pacote completo ao Hospital e até então aguardam pela decisão do executivo municipal para pagar os custos dos transportes dos mesmos. Sendo assim, torna-se tão necessário lembrar que, sendo uma doação, deveria o executivo municipal prontamente apoiar a causa, sobretudo pela lacuna que iriam preencher, já que no período que foram enviados, a ilha estava com problemas de camas para os doentes e foram imediatamente distribuídas e instaladas nos quartos.

É inconcebível que qualquer pedido feito àquela instituição municipal, seja por e-mail ou por outro meio, não exista uma cultura de resposta, positiva ou não. Este episódio, com certeza, mostra uma tremenda falta de sensibilidade por parte do presidente ou dos vereadores contactados na época. As respostas caíram num vazio agonizante, pois praticamente a totalidade deles ficaram por “foi encaminhado…” ou “a aguardar respostas”. Enquanto isso, as outras Ilhas receberam as doações seguintes que eram destinadas à ilha do Sal porque o transporte do outro contentor está ainda por pagar. Assim se fez juiz ao velho ditado, “a desgraça de uns é a sorte de outros" .

A empatia é algo que, pelos vistos, continua a escassear no seio das autoridades nacionais, contribuindo assim, para que o descrédito da classe política seja cada vez maior. Esquecem que, no envio de doações há sempre um Cabo-verdiano (Diáspora) que disponibiliza o seu precioso tempo para ajudar o outro, esperando apenas um sorriso ou uma alegria estampado no rosto de quem beneficia.

Os obstáculos, caros responsáveis municipais, levam a decepção e desistência, e aqui nem vale o célebre pedido do Presidente Júlio Lopes - “Cada emigrante que ofereça 50 euros” para custear o envio de um  outro contentor e que acabou indo para outra Ilha e Hospital.

Este slogan é uma demonstração clara de que, o  atual  presidente, nutre de uma grande falta de sensibilidade não apenas com os Salenses, como com a nossa diáspora. Agora, convenhamos que é de tirar o chapéu, quanto o assunto é marketing. Neste quitute, a Câmara Municipal do Sal é dos melhores que existe em Cabo Verde.

É muito fácil dizer " Dja Dsal junt ma diáspora" quando todos sabemos que a nossa diáspora nunca abandonou o seu país e em troca sente-se totalmente abandonada e incompreendida. Não esquecemos que a diáspora sempre esteve junto com Cabo Verde em todos os momentos, sejam eles bons ou maus, o que já não podemos dizer  dos nossos políticos e decisores. E neste caso em particular, como deve sentir este grupo de emigrantes que vai pagar o transporte desses materiais ( 5.000 euros), com dinheiro dos seus salários ou das suas poupanças, por simplesmente querer ajudar a sua Ilha, enquanto vêem patrocínios da Câmara Municipal à festivais e outras actividades?

Pequenos grandes detalhes que esclareçam o quão hipócrita é este “Dja d'sal junt ma Diáspora", senhores responsáveis políticos! Daí que digo, a melhor forma de homenagear os emigrantes é garantir que sejam reconhecidos e os seus esforços valorizados e sobretudo, que sejam auxiliados quando precisam do país. Ponderemos pois, que o mais importante, é que não continuem a ser lembrados apenas nos momentos que interessam à classe política.

 

 

 

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