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A celebração do absurdo e do erro
Colunista

A celebração do absurdo e do erro

Quem enterrou milhares de recursos públicos num suposto mercado – esse sim, inexistente!!! – não deveria ter direito ao acesso a qualquer outro cargo político nem público, no mínimo, por dois mandatos em qualquer país civilizado e que preze pela constituição de um estado de direito democrático sério que respeita os direitos dos seus cidadãos!!!

O Governo acuado pelas graves acusações de malversações de recursos públicos detectadas pelos relatórios dos fundos públicos, ao invés de reconhecer os erros, corrigir e tomar as providências legais, políticas e administrativas que se impunham, resolve, numa fuga em frente, escalar toda a sua tropa de segunda e terceira linhas para promoverem uma verdadeira “jurisprudência” do absurdo e do erro: “eles também  fizeram o mesmo”, ou “eles não têm lição a nos dar” … como se o país fosse desses dois partidos e que eles não tivessem contas a prestar  ao povo!

O absurdo é tão grande que chega ao ponto de se justificar os erros e os desvios de recursos públicos com o ridículo dos resultados eleitorais pretéritos: vocês nos criticam mas ganhamos e renovamos o mandato apesar das vossas críticas!!!!

Os resultados eleitorais não constituem atestados de idoneidade e nem de amnistia a eventuais erros ou crimes cometidos, aliás, o próprio processo eleitoral pode ser fraudulento. Com efeito, na semana passada o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro cassou direitos políticos do ex-presidente Bolsonaro por oito anos de inelegibilidade por verificação de fraude pré-eleitoral (em 2022) – abuso de poder político  - em processo eleitoral e só não lhe anulou os votos recebidos e o mandato por que ele tinha sido derrotado naquele pleito.

Segundo a afrobarometer, as avaliações de confiança dos cidadãos nas instituições como Polícia, Justiça e Governo pioraram de 2015 a 2022 e com tendência para a progressiva deterioração nos próximos tempos e 57% dos eleitores afirmam que o Governo do país está no caminho errado!

Em democracia, para os atores políticos, a prestação de contas é um imperativo legal, natural e moral desse sistema de governo e não cabe ao político escolher a qual modalidade de prestação de contas se sujeitar e ignorar ou negar as outras: não! Se demandado for para prestar contas políticamente através dos seu representantes eleitos – Parlamento, deve fazê-lo, se for demandado pela imprensa, de igual modo deverá atender, se for chamado pela justiça ou pelos órgãos de controle administrativo extra-judicial também deverá responder.

Em função dessa lógica do absurdo da “jurisprudência” do erro  que dita que se pode justificar o seu erro do presente com erros e absurdos do passado os indicadores dos dados de avaliação geral do país indicam que o país está afundando e continuará afundando institucionalmente caso nada seja feito.

Assim sendo, se os funcionários públicos reclamam aumento ou correcção salarial hoje por causa da subida galopante da inflação acumulada de vários anos que periclita o seu poder de compra e qualidade de vida não têm razão por que não reclamaram no passado; se alguém desvia fundos públicos hoje a crítica não deve ser colocada por que no passado alguém tinha feito o mesmo; se alguém reclama a melhoria da prestação de um serviço público a resposta invariavelmente é por que não reclamava dessas deficiências no anterior governo?

O Governo reagiu de forma ridícula com um rosário de absurdos quando confrontado com as notícias dos relatórios dos desvios dos fundos públicos, primeiro negou a existência dos relatórios, depois que os relatórios não estavam homologados, a seguir da homologação que há irregularidades mas que não há crimes e que outros fizeram o mesmo, e mais, contra-ataca inventando uma CPI para atingir o PR!

Como se promove os absurdos ao invés de coibi-los e proibi-los com uma lei de improbidade administrativa que suspenderia os direitos políticos dos maus administradores de concorrerem a cargos políticos e administrativos e até de contratarem com a Administração por um ou dois mandatos após o cometimento do fato de improbidade, num contexto deste, a prevaricação constitui uma “esperteza” e os prevaricadores são cortejados e aplaudidos como “génios” e “heróis”!

Quem enterrou milhares de recursos públicos num suposto mercado – esse sim, inexistente!!! – não deveria ter direito ao acesso a qualquer outro cargo político nem público, no mínimo, por dois mandatos em qualquer país civilizado e que preze pela constituição de um estado de direito democrático sério que respeita os direitos dos seus cidadãos!!!

Nessa história toda sobre o mau uso dos recursos públicos o tamanho e a extensão da gravidade são já muito relevantes mas o fato em si, independentemente do tamanho, já é suficientemente grave para ser repudiado o que não foi feito tornando a situação mais grave porque há uma demonstração de contemporização com o erro e os desvios e os absurdos!

 

 

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