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(In)segurança. Por cá, tudo normal!*
Ponto de Vista

(In)segurança. Por cá, tudo normal!*

Cabo Verde é um pais fabuloso. Aqui TUDO é normal. NADA suscita preocupações à nossa proverbial morabeza crioula.

É por isso, quando em Outubro, 26, a Marlice da Luz foi brutalmente assassinada e abandonada na imundície de Monte Babosa, foi considerada uma situação NORMAL. É o azar da moça; por cima, doméstica.

Vem o Anilson Semedo. Matado brutalmente à facada em Safende. Uma situação, também, NORMAL, tanto assim, é apenas um epifenómeno, devidamente localizado: Safende. Normalíssima.

Mas, mais. O policia abateu o policia Hamilton Morais em Tira-chapeu. Um disparo profissionalmente certeiro no peito do Tutu. Mas, também, ali convém não dramatizar a coisa: Cabo Verde é um País seguro, que se depara com picos macabros de assassinatos. O caso "Tutú" está dentro do parâmetro NORMAL, trivial. São ressabiados bem identificados é que apostam em empolar e espalhar o alarme na população.

O caso "Sensei José Luís Correia", policia do Comando de Assomada, é bem paradigmático. Estirado morto nas ladeiras de Nhagar, as evidências de luta e de sangue impunham total rigor na investigação. Todavia, para afago das Estatisticas 0ficiais, espanto e indignação geral, o 'laudo' sentencia: cirose hepática! É uma situação corriqueira. NORMAL.

Mais grave, ainda, aconteceu com a minha vizinha Antónia. Mãe batalhadora, encontrada morta em roupas menores, na longinqua Achada-Baléia. E nos enfiam, goela abaixo, a teoria: epilepsia e afogamento. Era coitada, e como pobres não podem custear uma exumação independente, tudo fica NORMAL.

Vejamos o caso da Tunuka em Santa Catarina. Assassinada com um rude golpe de punhal, deixando orfão, levando sonhos e projetos de toda uma juventude. Mas, aqui também, nada de drama, pois, a situação está dentro do padrão aceitável, isto é, NORMAL.

Também, sábado, em Ribeirão Chiqueiro, um sniper matou 'a tiros' o Zé. O Frank agoniza ainda no hospital no Platô. Mas, tudo normal. É apenas um epifenómeno concentrado na Praia. Há, sim, algum pico de assassinatos, mas nada que esteja fora do mais absoluto controlo. Por isso, NORMAL.

Em Cabo Verde, enfim, pode um Presidente de Câmara ser baleado, um taxista enforcado, pior, um Padre raptado e sequestrado, que isto não constitui matéria de preocupação. São peanuts [no dizer de Jorge Jesus]. Está dentro do padrão do aceitável. Por isso é NORMAL.

Post Scriptum: acabo de saber, agora: minha sobrinha Isolina Varrela, emigrante nos Estados Unidos, foi atacada esta noite, na sua casa em Safende. Levaram dinheiro, telemóveis, valores em ouro e todos os seus documentos, ficando com ferimentos e traumas. Está, neste momento, no Hospital tentando receber tratamentos.

Artigo publicado pelo autor no facebook

*Título da responsabilidade da redação

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Redação