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Enseada d'Coral, Laginha. Um caso de desprezo público
Ponto de Vista

Enseada d'Coral, Laginha. Um caso de desprezo público

Desprezo à população, ao ambiente, ao conhecimento científico e à universidade, ao património e à legislação do país

Como é possível que a Câmara Municipal de São Vicente e a ENAPOR tenham implementado o desvio das águas pluviais para a Enseada d’Coral (“Os quatro canhões de lama”) sem o devido estudo de impacto ambiental, exigido pela lei?

Como é possível que a opinião de três dos mais experientes especialistas em biologia marinha do país, todos biólogos, investigadores, mergulhadores e docentes da FECM da UniCV, tenha sido completamente ignorada e desprezada?

Como é possível que todas as provas da vida marinha existente no local (mais de 400 espécies marinhas com uma representatividade considerável da biodiversidade cabo-verdianas) conseguidas por mim, em centenas de mergulhos, muitas horas de estudo para poder identificar as espécies fotografadas, muitas horas na seleção, edição e publicação de centenas de imagens, sejam completamente ignoradas?

Como é possível que os impactos da pequena chuva (cerca de 28 mm) caída a 06.09.18, e que ainda se fazem sentir, não sejam suficientes para convencer as autoridades locais e nacionais que cometeram um erro grave?

Como é possível que este laboratório vivo da Universidade de Cabo Verde, na qual se realizam muitas aulas práticas, trabalhos de fim de curso (alguns originando artigos científicos) esteja à beira da destruição, e nenhuma autoridade intervenha para impedir que isso aconteça?

Como é que as centenas de pessoas que tem participado nos mais de 30 mergulhos de apoio, realizados semanalmente, as muitas fotografias e vídeos publicados e divulgados na internet, ainda não conseguiram sensibilizar as nossas autoridades para intervir e proteger o local?

Como é possível que esta piscina de águas transparentes e relativamente seguras, na qual nadadores e banhistas se deleitam nas suas águas transparentes e apreciam a vida marinha enquanto nadam, também utilizada por bodyboarders e surfistas quando a ondulação é adequada, apesar do esporão ter reduzido as condições para essas práticas, não signifique nada para as nossas autoridades?

Como é possível que este Oceanário natural, património de Cabo Verde ( e logo de todos nós), localizado no 2º maior centro urbano do país, na qual é rápido e fácil chegar, spot de mergulho, importante laboratório para conhecimento da fauna e flora marinha cabo-verdianas e para a educação ambiental (inclusive já temos o projeto e financiador para uma trilha interpretativa subaquática e estamos apenas à espera da autorização do IMP, solicitada à cerca de duas semanas, para a implementar), esteja condenado à destruição?

A promessa da ENAPOR, de estender a tubagem da saída das águas pluviais para alem do esporão, parece ter caída no esquecimento e as autoridades locais e do país ainda nada fizeram para ajudar na proteção deste património insubstituível de Mindelo e de Cabo Verde.

A proximidade das chuvas, a consciência do que está em risco e a constatação que os argumentos técnicos, científicos, legais, etc., etc., e que a já longa campanha de sensibilização poderão ser insuficientes, exige que façamos algo mais para tentar salvar esse património de nós todos.

E é assim que no dia 5 de Julho daremos início a uma nova forma de luta.

Reuniremos as nossas vozes com outros mindelenses descontentes, para manifestarmos na rua a nossa inquietação, desaprovação e revolta por tamanha indiferença na proteção do nosso património.

Guilherme Mascarenhas

Para mais informações consulte:

i)https://www.facebook.com/Laginha-252596192067050/?modal=admin_todo_tour

  1. ii) https://www.youtube.com/channel/UCtQ0HOVwXZXfUfcBVTDhuXw

iii) https://secure.avaaz.org/…/Dr_Ulisses_Correia_e_Silva_Prim…/ 

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Redação