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A política e o político
Ponto de Vista

A política e o político

A realidade actual da governação da Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago demonstra-nos que muitos políticos desaprenderam ou nunca aprenderam a amar: parecem entes egoístas, arrogantes, indiferentes e com um certo grau de sociopatia (atributo incompatível com a prática política) e assim usam de demagogia e manipulação para satisfazerem seus próprios desejos pessoais, sem perceber a leviandade de tal ato, a incoerência e a ignorância acerca do “retorno” que o mal governo, a má gestão, a direção ruim devolvem a si mesmos! Não aprenderam nada com os líderes ruins da história, execrados e outros até esquecidos. Os muito ruins são lembrados mais por suas atrocidades e tolices do que pelo seu suposto “brilhantismo” individual.

PS. Qualquer semelhança com a prática dos nossos governantes, local (SC) e nacional (CV), é pura coincidência, ou não.

 

Se elogia muito quem, em algum momento de sua vida, se dedicou a estudar um pouco de Filosofia ou leu quaisquer dos clássicos que estão presentes como referências a conceitos caros à nossa civilização atual como Ética, Política, Economia, Conhecimento, Ciência, opinião, Saber, Poder, etc.

Platão, em algum momento de sua vida, elaborou uma obra intitulada “Político”, onde não temos o Sócrates propriamente dito dirigindo o debate, mas o “Estrangeiro” que também participa de “Sofista”. É um “estrangeiro” hipotético que traz uma nova forma de exame de temas já aventados em outras obras, no caso da obra é sobre a “arte de dirigir” e de “reinar”, ou simplesmente, “governar” salientando que diferente de um pastor de rebanhos ou de um piloto de nau, um rei ou um “político” é responsável pelas “vidas” que estão na Pólis.

Aristóteles, o discípulo de Platão, escreveu “Política” onde, complementando o trabalho de seu mestre, traz o tema do ponto de vista “organizacional”: a política só pode ser produzida por grupos que se organizam na Pólis e devem ter programas, propósitos e intenções claras; devem decidir se agem em próprio favor ou em favor da cidade.

De maneira muito resumida, Platão se debruça sobre a figura de quem “faz” a política, a figura pública que receberá a alcunha de “político” e, portanto, deve se entender como um ser humano com uma grande responsabilidade, no entanto, suscetível às próprias vicissitudes de sua condição humana.

Já Aristóteles prefere discutir as “finalidades” do “ato político” que podem trazer prosperidade ou ruína à Polis, criar união ou caos, um clima de tumulto ou de ordem, de desconfiança geral onde a traição torna-se um ato de autodefesa ou de união resoluta e disciplinada.

Tanto Platão quanto Aristóteles se preocupam, basicamente, com as questões morais que envolvem o exercício da política e como a figura do político pode ser motivo de orgulho ou de vergonha para a cidade ou dos partidários que lutam ao seu lado ajudando, dando suporte à sua agenda de trabalho e programa de governo.

No livro de Platão, os personagens tratam de examinar a natureza do “político” a partir de suas ações e responsabilidades, verificando que seu trabalho não pode ser confundido com nenhum outro e que o governo de uma cidade é diferente do governo da própria casa ou do próprio negócio. O filósofo defende que, apesar do caráter gregário de homem, que vive basicamente em grupos em diferentes níveis de arranjo (família, bairro, cidade, estado, nação) o ser humano não pode ser comparado com os animais que vivem como “rebanho”, posto que é dotado de inteligência e capacidade de julgamento. Portanto, um político não deve jamais ignorar que governa seres dotados de algum tipo de juízo e capacidade de consciência e autopercepção. O político, como um ser dotado de tais atributos, deveria poli-los com a prática da filosofia (meditação, ponderação e exame acurado) para assim garantir as decisões mais acertadas. Platão sabe que até os seres humanos mais bem preparados e bem nascidos podem errar ou não desenvolverem um caráter coerente com a sua formação ou berço, ou seja, um patife ou um herói pode vir de qualquer lugar, mas o político não deve ser um “herói” e nem um “patife” ele deve ser um ser humano que precisa a todo o momento evitar “errar”, pois até a pequena digressão ou erro de cálculo podem resultar em grandes tragédias. A Alemanha de Hitler nos deixou essa lição.

Da parte de Aristóteles, sua preocupação é fazer compreender aos líderes da Polis que a “política” reflete a própria diversidade da cidade: as diferentes opiniões, paixões, histórias e relações. Aristóteles defende que a “política” deve ser um exercício tal como a prática da amizade verdadeira: um bom amigo jamais decepciona aos seus.

Essas obras já datam de dois milénios e ainda assim não aprendemos a fazer uma forma infalível de política e nem formamos políticos infalíveis, contudo, a lição das duas obras perdura e pode ser aplicada a quaisquer organizações sociais, em especial, partidos políticos e organizações representativas que devem zelar pelo bem comum, reconhecendo e administrando os contrastes e dificuldades do convívio humano coletivo.

O político ou líder político recebe, no século XVII, outra conotação que delineia com maior clareza o caráter de personalidade jurídica que este possa ter apesar de ser um ser humano: “O Leviatã” de Hobbes traz então o papel do comum acordo e da “representatividade” que um nome traz, mas que na verdade, não é um ente individual e personalista, ele representa todo um grupo de sujeitos que se declara fiel a sua plataforma, sustentam e protegem para garantir que ele chegue à esfera diretiva do governo. Ou seja, Hobbes demonstra que “um homem ou um nome” representa toda uma coletividade e seu fracasso ou sucesso é compartilhado com todos em maior ou menor medida.

Enfim, temos toda a teoria necessária, mas nos faltam boas práticas que façam o político e os “políticos” que sustentam o “grande Leviatã” serem consequentes e olharem para os cidadãos, para a História e para o lugar com uma atitude mais amorosa, fraterna e positiva. Quem ama quer enaltecer o objeto de seu amor: o bairro, a rua, a cidade, o Estado, a Nação, o povo.

A realidade actual da governação da Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago demonstra-nos que muitos políticos desaprenderam ou nunca aprenderam a amar: parecem entes egoístas, arrogantes, indiferentes e com um certo grau de sociopatia (atributo incompatível com a prática política) e assim usam de demagogia e manipulação para satisfazerem seus próprios desejos pessoais, sem perceber a leviandade de tal ato, a incoerência e a ignorância acerca do “retorno” que o mal governo, a má gestão, a direção ruim devolvem a si mesmos! Não aprenderam nada com os líderes ruins da história, execrados e outros até esquecidos. Os muito ruins são lembrados mais por suas atrocidades e tolices do que pelo seu suposto “brilhantismo” individual.

Pense nisso!

 

 

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