Reunião quente do Grupo Parlamentar do PAICV na quarta-feira, 9, fez surgir três candidatos à liderança da bancada tambarina no Parlamento: José Sanches e os actuais vice-presidentes do partido, Rui Semedo e Nuias Silva. Tudo pacífico? Longe disso.
O Grupo Parlamentar do PAICV está em “guerra”. Tudo por causa das eleições para a escolha do novo líder da bancada tambarina. A actual titular – e também presidente do partido -, Janira Hopffer Almada, estava referenciada desde sempre como candidata à sua própria sucessão, mas manteve o silêncio sem nunca deixar a entender se iria desistir da corrida.
A decisão terá sido anunciada por JHA, à ultima hora, na reunião do Grupo Parlamentar de quarta-feira, encontro que acabaria por ser bem mais quente do que se esperava. É que, até então, estava seguro – pelo menos publicamente – que Janira Hopffer Almada seria candidata, devendo ter como oponente o deputado por Santiago Norte, José Sanches, apoiado pelo Grupo de Reflexão liderado por Felisberto Vieira.
Acontece que, de acordo com as nossas fontes, JHA anunciou a sua saída da corrida (a sua ideia é dedicar-se mais ao partido ao nível das estruturas, segundo atestam fontes deste jornal), indicando Rui Semedo, um dos seus vice-presidentes. Insatisfeito, Nuias Silva, também vice-presidente do PAICV e tido como sendo da ala nevista, anunciou então que também é candidato, baralhando as contas de Semedo e Sanches.
É que o deputado foguense estará a contar com o apoio de pelo menos dez dos 29 deputados eleitos pelo PAICV no Parlamento, entre os quais José Veiga, ex-vice presidente da direcção do partido e que há poucos meses pediu a sua demissão da vice-liderança do Grupo Parlamentar tambarina em claro choque com JHA. Também estarão a suportar a candidatura de Nuias Silva, o terceiro vice-presidente do PAICV, João Baptista Pereira, a deputada santantonense Vera Almeida, e o deputado da Boa Vista, Walter Évora, este último que pediu a sua demissão da Comissão Política por incompatibilidades com JHA.
Silva terá, nesta altura, o mesmo número de apoiantes (10) que José Sanches, o candidato que aparece aos ombros do chamado Grupo de Reflexão, liderado por Felisberto Vieira e que integra ainda Júlio Correia e Filomena Vieira. Este teórico empate entre Nuias Silva e José Sanches, a confirmar-se, colocaria Rui Semedo de fora, à partida, com a possibilidade de obter nove votos. Mas nada está garantido em política, podendo qualquer um dos três sair vencedor.
Seja como for, parece evidente que JHA está a ficar isolada e cada vez mais fragilizada na liderança do PAICV, com alguns dos seus membros de direcção a virarem-lhe as costas. Dos três vice-presidentes do partido, apenas Rui Semedo estará fiel à actual líder – Nuias Silva agora abertamente lhe faz oposição e João Baptista Pereira já nem se mostra interessado nas actividades do partido, de tão apagado politicamente. E JHA ainda tem no encalce o “persistente” Grupo de Reflexão que não se demove de a ver cair da presidência.
Ao fim e ao cabo, o que está em jogo é muito mais do que a presidência do Grupo Parlamentar, e sim a direção do partido. E uma eventual vitória de Nuias Silva ou de José Sanches para a liderança do GP deve acentuar ainda mais a divisão interna no PAICV e minimizar o peso da actual líder tambarina na principal arena política - a Assembleia Nacional - com efeitos colaterais a nível da direcção.
Nada que JHA não sabia desde o início.
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