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A neurose do poder
Colunista

A neurose do poder

Para saber quem é a pessoa dá-lhe poder. Nada melhor para revelar o caráter de alguém do que o poder.

A palavra poder, traduz-se num exercício de relevância em alguma área onde há um figurino hierárquico. Quando uma pessoa perde a sua autenticidade porque se iludiu com o vislumbre que o poder lhe confere, configura-se uma ausência de identidade própria, personalidade formada e um caráter construído.

Ninguém se torna alguém por causa do poder, quem é alguém não precisa do poder para fazê-lo. Uma das grandes marcas negativas do poder, é o assombro psíquico e a sua ilusão do poder vitalício. Não há poder imutável ou permanente, seja na esfera privada, pessoal ou institucional.

O poder na sua natureza essencial é sempre transitório. Por isso, criar uma ilusão deificada, como que se o poder fosse inamovível não seria um caminho lúcido e nem aconselhável. É preciso maturidade emocional, espiritual e intelectual para exercer o poder, se não, cai-se numa grande utopia e a queda será maior.

Não se pode confundir poder com autoridade, podemos estar na posse do poder, mas sem a devida autoridade para exercê-lo. A pergunta seria: é a autoridade que gera o poder ou o poder que gera a autoridade?

A autoridade está muito ligada ao caráter, á personalidade, á forma como agimos em determinadas situações, ao componente intrínseco como factor distintivo. Também a autoridade é a capacidade de decidir com sabedoria e inteligência, acompanhada do bom senso e equilíbrio. A autoridade não é delegada e sim partilhada, não é usurpada e sim adquirida. Enquanto que o poder sim.

Uma coisa é ter o poder para agir e outra é ter a competência para exercê-lo com autoridade. Um pai pode ter o poder para disciplinar um filho, mas pode não ter a autoridade para evitar que o filho lhe obedeça ou não. A autoridade inspira confiança, o poder o medo. A capacidade de exercer o poder com autoridade é que define o rumo das coisas. Não adianta ter o poder sem a autoridade.

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SOBRE O AUTOR

Lino Magno

Teólogo, pastor, cronista e colunista de Santiago Magazine