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“Temos alta probabilidade de ganhar ao Ulisses”
Entrevista

“Temos alta probabilidade de ganhar ao Ulisses”

Longa e sumarenta entrevista com Orlando Dias, político que desafia a liderança de Ulisses Correia e Silva no MpD, para “devolver o partido aos militantes”. Ataca a governação, acusa Ulisses de ser “centralizador do poder” e afirma que o presidente do MpD “não tem piedade de militantes em situação difícil”. As traições, as relações com UCS, os erros do Governo... Dias, sem papas na língua, considera dispensável a figura de vice-primeiro ministro, garante não vir a criar embaraços ao chefe do governo se ganhar as directas no partido ventoinha  e criar instabilidade política – “O PM levará o seu mandato até 2026” –, apresenta propostas e reformas polémicas e diz que está preparado ser o próximo primeiro-ministro de Cabo Verde já em 2026. “Já tive no passado discursos inflamados, mas na altura era deputado… agora, como candidato à liderança, tenho de ter um discurso de Estado”.

Santiago Magazine – O timing que escolheu para anunciar a sua candidatura à liderança do MpD é a  melhor para o partido? Quando e porquê decidiu concorrer para a presidência do partido contra um candidato que ainda está em plena governação?

Orlando Dias – Bom, a ideia de me candidatar à liderança do MpD surgiu desde há um ano, mas surge na sequência de reflexões que vinha fazendo em relação ao desempenho do partido desde o primeiro mandato, isto é, há coisa de seis anos, sobretudo desde finais do mandato anterior. Nessa altura eu já havia abordado algumas pessoas do MpD, dirigentes, pessoas amigas, deixando claro que se a liderança do MpD, o governo, não mudasse de postura no segundo mandato poderia concorrer para a liderança do partido, porque muita coisa correu mal no mandato anterior.

Estivemos na oposição durante 15 anos, regressamos ao poder, mas durante o primeiro mandato (2016-2021) o governo esteve de costas voltadas para os militantes. Fez-se alguma coisa sim, mas os militantes estiveram abandonados.

 

- Abandonados como?

- Os militantes não foram tidos nem achados. Por exemplo, os militantes não são procurados a não ser nos periodos eleitorais, não houve reuniões de proximidade, não se respeita ninguém, não se dá voz aos militantes. Toda a gente criticava isso, surgiam muitas reclamações… Nas autárquicas de 2020 tivemos problemas precisamente por causa disso, ou seja, devido ao descontentamento dos militantes. Perdemos a Câmara Municipal da Praia e, a seguir, fizemos uma sondagem que revelou que 44 por cento das pessoas não foram votar por descontentamento com o partido. Perdemos câmaras emblemáticas, como São Domingos, Tarrafal e Cidade Velha, que poderia não ter acontecido se os militantes não tivessem sido abandonados no mandato anterior.

Depois de 2013, quando esta actual liderança tomou o poder no partido, fez-se revisões estatutárias em que foram esgotados todos os poderes dos órgãos de direcção: Comissão Política ficou quase sem poder, Direcção Nacional também. Centralizou-se tudo nas mãos do presidente. Por exemplo, quando o Primeiro-ministro mexe no Governo não leva em consideração aquilo que a Comissão Política discutiu e aprovou. Põe quem quer no Governo, trabalhando ou não para o partido, competente ou não competente, merecendo ou não tal função.

As estruturas do partido estão quase mortas, é aquilo que presidente decidir. Num partido democrático como o MpD não é bom. Aliás, não é normal ficar 18 anos sem disputa, nem para a liderança do partido, nem para os delegados à Convenção. A última vez que aconteceram eleições para a liderança do partido foi em 2004. E isso fez com que o MpD se transformasse num partido descaracterizado, perdeu a sua originalidade: sem direito de liberdade de expressão, sem direito à diferença, sem pensamento plural.

 

- Mas só resolveu denunciar isso e decidir candidatar agora, depois de ver frustrada a sua intenção de se eleger para a mesa da Assembleia Nacional com o apoio do presidente do MpD tendo inclusive prometido que isso teria “consequências imprevisíveis”. Pelo menos é a ideia que fica.

- Não, não. Não tem absolutamente nada a ver com a questão da Assembleia. São os meus adversários que estão a passar essa mensagem.

 

- Não ficou com rancor?

- Que rancor? Eu sou político, e como tal posso ganhar ou perder. Depois é assim, eu já tinha manifestado essa intenção de concorrer à liderança do MpD desde final do primeiro mandato. Tenho testemunhas, inclusive um conjunto de dirigentes do partido, portanto, significa que não tem nada a ver com processo relativo à mesa da AN.

Eu, enquanto um dos fundadores do MpD, devo concorrer para não deixar o partido perder a sua origem e voltar a ser, de novo, um partido da liberdade e democracia.

 

- Do jeito como fala “devolver o partido às bases”, “voltar a ser um partido da liberdade e democracia”, “direcção sem pensamento plural” ou “militantes sem voz”, parece que Ulisses Correia e Silva é um ditador totalitário. É isso?

- Não diria ditador, mas enfim… O líder actual tem três características com ele: não gosto de adjetivar pessoas mas é um dado adquirido que ele (UCS) centraliza todo o poder; não reconhece o bem que os militantes lhe fazem, apenas deles precisando por alturas de eleições; e não tem piedade se um ou outro militante do partido estiver numa situação difícil. Um líder com estas três características não é bom líder.

É evidente que no primeiro mandato nós toleramos, porque vinhamos da oposição e tinhamos de fazer um esforço para renovarmos o mandato. Agora, renovado o mandato e em vez de a liderança do partido corrigir os erros, piorou. Ora, era necessário alguém para baralhar o jogo. E eu já tinha avisado que se não houvesse mudanças para melhor no segundo mandato iria me candidatar.

 

- O que piorou?

- No segundo mandato, o que aconteceu foi o seguinte: primeiro no Governo. Ganhámos as eleições e formou-se um governo com 28 membros, e todo o mundio a criticar que um Executivo com tantas pessoas é sobredimensionado para um país como Cabo Verde. É muita gente, devíamos reduzir para metade e poupar dinheiro para luta contra a pobreza, educação, saúde… não deram ouvidos. Perguntas a qualquer militante se é favor de um governo com 28 membros ele dirá que não.

Segundo erro: eleição do presidente da Assembleia nacional. O actual lider do MpD queria impor a todo o custo o “seu” presidente da assembleia Nacional. O deputado Jorge Santos, que era presidente da AN disse que não iria avançar mais para esse cargo, já que contava ir para o governo. E era evidente que o senhor deputado Austelino Correia, que era vice-presidente desde o mandato anterior, tinha ambição pessoal de chegar à presidência da Assembleia e era legítimo que assim se disponibilizasse.

 

- Mas o Jorge Santos foi afastado, não?

- Foi afastado porque queriam colocar outra pessoa, no caso a dra Janine Lélis. O dr. Austelino Correia foi então para a disputa e quando perceberam que ia ganhar foram buscar o Jorge Santos outra vez, por imposição do lider do partido que não queria de forma alguma gente que não é da sua preferência a presidir a Assembleia Nacional. Isso é anti-democrático. Deve-se deixar o partido respirar, os deputados votarem livremente. Enfim, quando viram que o Austelino tinha apoio tanto no seio do grupo Parlamentar quanto no seio do Grupo Parlamentar do PAICV tiveram que retirar em cima da hora a candidatura do Jorge Santos (n.d.r. seria proposto para ministro das Comunidades nessa mesma noite, horas antes de UCS entregar ao PR a sua proposta de elenco Governamental). Portanto esse foi o segundo erro.

O terceiro erro, sim, tem a ver com a minha questão. Eu ganhei a candidatura para vice-presidente da Mesa da AN com maioria qualificado no seio do Grupo Parlamentar e mais em baixo houve traição.

 

- Quem traiu e porquê?

- Foram oito elementos do GP do MpD e eu sei mais ou menos quem são, mas não vou revelar. Agora porquê? Com conivência do lider do partido. Repare, se eu já tinha ganho no Grupo Parlamentar com 26 votos a favor num grupo de 38 deputados, significa os outros doze poderiam se juntar e votar a meu favor na votação do plenário. Tive 36 votos e me faltava apenas um para ser eleito primeiro-vice-presidente da Mesa. Mas tenho provas concretas que quatro deputados da UCID votaram em mim e mais quatro ou seis do PAICV também. Ora bem, oito ou nove colegas deputados do meu partido me traíram. Está certo o voto é secreto, respeitei o resultado e cheguei a fazer um discurso no Grupo Parlamentar dizendo que ainda que perdendo num primeiro momento devia ser reencaminhado para nova votação a nível do plenário

 

- Por que não agiram desta forma?

- Aí vai ter de perguntar ao líder do MpD. Porque ele veio logo por cima e disse é fulano (Armindo Luz) que vai. Esse processo foi muito mal gerido.

 

- Nota-se, pelas suas intervenções e discursos, que ataca não só a liderança do MpD quanto a própria governação.

- Isso é numa segunda fase. De facto é preciso alterar algumas coisas que estão mal na governação. Não há governação sem falhas, mas há falhas que há seis anos não estão a ser corrigidas e se não estão a ser tidas em conta é preciso dizê-las publicamente para que, de alguma forma, sejam corrigidas. Mas antes, só para continuar a lista de erros do lider do MpD, devo apontar a eleição do dr. Carlos Veiga para a Presidência da República. O Governo não quis que o dr. Veiga ganhasse as eleições. Os cabo-verdianos sabem disso, aliás, fizemos um estudo depois das presidenciais que confirmou isso mesmo.

Que governo, suportado por um partido que a meio da campanha presidencial anuncia a subida do IVA? Que governo, que o partido que o suporta apoia um candidato presidencial decide anunciar o aumento de preços de produtos de primeira necessidade?

Nenhum. Ou então o faria depois da campanha. Mais grave ainda é que anunciou essa subida do IVA de 15 para 17% e não o fez. Significa que o governo fez campanha contra o seu próprio candidato. Porque tomar medidas impopulares durante a campanha presidencial, o governo está a dizer para não se votar no candidato apoiado pelo seu partido, porque levaria as pessoas a entender que o próprio candidato estaria de acordo com essas medidas impopulares. Isso seguramente prejudicou o candidato Carlos Veiga.

Duas semanas ou três após as eleições presidenciais fizemos uma sondagem, que foi analisada na Comissão Política e no  Parlamentar, que concluiu o seguinte: 44% das pessoas do MpD disseram que não foram votar nas presidenciais por causa das medidas implementadas pelo Governo. 11 a 12% disseram que votaram contra o dr. Carlos Veiga pelas mesmas razões. Ora bem, é só fazer as contas: 44 mais 12 são 56%, portanto, o dr Carlos Veiga podia ter ganho e significa isso que o Governo fez campanha contra o dr Carlos Veiga.

 

- Presumo então que o dr. Carlos Veiga tenha ficado desapontado com o Governo e o presidente do MPD. Ele apoia a sua candidatura para a liderança do partido?

- Por acaso ainda não falei com o dr. Carlos Veiga sobre este assunto. Tenho tentado mantê-lo distante desse processo, mas, claro, ele analisa (sorrisos), faz a sua leitura política… De facto, tenho estado a evitar envolver certas pessoas para não dizerem que são minhas bengalas, mas elas estão atentas às mensagens que tenho passado e no momento certo farei uma abordagem mais directa com essas pessoas. Creio que o dr. Carlos Veiga está a seguir as minhas ideias e no tempo adequado falarei com ele.

 

- A sua forma de fazer campanha, recorrendo a duras críticas à liderança do MpD e à governação, não ameaça a estabilidade do governo? Em caso de vitória, o Executivo irá trabalhar com total normalidade?

- Da minha parte não haverá nenhum problema.

 

- Então, caso vencer as eleições, como será o relacionamento entre o presidente do MpD e o primeiro ministro de um Governo que ataca publicamente?

- Será um relacionamento tranquilo, de estabilidade, colaboração. A lei não diz claramente que o primeiro-ministro tenha de ser obrigatoriamente o presidente do partido. Aliás, seria uma nova experiência em Cabo Verde termos um partido no poder com um líder diferente, que não seja o presidente do partido. Para já, o primeiro-ministro não tem nem tempo para cuidar do partido. E nós já dissemos, houve eleições em 2021 o actual líder estava à frente, ganhou essas eleições, portanto, deve levar o seu mandato até 2026. Por aí não haverá problemas, nós dar-lhe-emos todo o suporte para levar o seu mandato até 2026. Se ganharmos o partido hoje, hoje mesmo o chamaremos para lhe garantir isto: tu vais continuar como primeiro-ministro e tens todo o nosso apoio.

 

- E em 2026, quem seria o candidato a primeiro-ministro?...

- … É evidente que… (pausa) em 2026, eu, como líder do partido, irei trabalhar para ser candidato a  primeiro-ministro. Não pretendo ser primeiro-ministro a todo o custo, terei três anos para me preparar e concorrer ao Governo. Antes é preciso arrumar a casa, pôr o partido a trabalhar, falar com os militantes, falar com a sociedade cabo-verdiana, apresentar propostas credíveis para que, quando viermos a fazer um estudo de opinião um ano antes das legislativas ficar melhor cotado, melhor posicionado para ser primeiro-ministro.

Entretanto, se depois de dois anos do meu mandato, fizermos uma sondagem onde se incluirão altos dirigentes do partido, aparecer algum que estiver à frente ao nível da vontade popular, não teria qualquer problema, enquanto presidente do MpD, em apoiá-lo por forma a renovarmos o mandato no Governo. Para nós isto está claro.

 

- Esta é uma das reformas que promete introduzir no MpD?

- Exactamente. Muitas vezes o partido tem estado a perder eleições por causa de quem está à frente, na liderança. Ou seja, sou o presidente do partido tenho que ser eu a concorrer a primeiro-ministro. Isto não tem de ser assim. Até porque a lei nos dá margens para gerir esta situação e assim ganhar eleições. No passado tivemos esse problema, em que o presidente do partido estava atrás de outros dirigentes, cerca de 6 a 7%, entretanto, se manteve esse presidente e acabámos pior perder as eleições. Na altura, eu era secretário-geral do MpD, por isso tenho dados concretos. Isso me levar a afirmar o seguinte: quem é presidente do partido trabalha a sua imagem para ser candidado a primeiro-ministro. Mas, suponhamos que seja presidente do partido, trabalhei dois ou três anos e dentro de seis meses haverá eleições legislativas e se um ou outro dirigente ficar á minha frente nas sondagens, tenho que ter humildade suficiente para aceitar, porque a população de Cabo Verde quer essa pessoa para primeiro-ministro. E o partido só tem de apoiar para poder renovar o mandato governativo.

 

- Lendo a sua “Nova carta política para unir o MpD”, vejo que grande ou a maior parte das suas propostas são políticas de esquerda, sendo que o MpD é um partido filiado da Internacional democrata do Centro (IDC), de índole centro-direita, com laivos de liberalismo. Do ponto de vista ideológico onde está a sua candidatura?

- O MpD é um partido do centro. Ser do centro significa o seguinte: aproveitas todos os aspectos positivos da direita e todos os aspectos positivos da esquerda e colocas no meio. Muita gente diz que o MpD é um partido de centro-direita liberal, etc., mas o MpD é um partido do centro. Com isso, terás uma economia social, em prol da política social, porque temos de ajudar os mais necessitados.

 

- Defende um Estado Social?

- Defendo uma economia de mercado, mas virado para o social, uma economia casada com o desenvolvimento social. Isto é o Centro. Os rendimentos que conseguirmos serão aplicados no social, nos idosos, nos desempregados, na saúde, na educação. Nós reafirmamos na nossa Carta o MpD como partido do Centro.

 

- O que acaba de dizer, reitero, é política de esquerda, ou não percebeu o que disse?

- Aqui não há esquerda nem direita, é centro. Aliás, não há muita diferença entre os partidos em Cabo Verde neste momento, precisamente por causa disso, ou seja, sem esquerda nem direita. Não temos nada contra direita, nem contra esquerda, temos sim problemas com os extremos. Seja na política, seja noutro sector, sou contra o extremismo. Por isso, defendo que qualquer partido político para melhor governar terá que estar ao centro. As empresas são importantes sim para a economia, por causa dos impostos, mas isso tem que ser canalizado para o apoio social. Assim como é importante reduzirmos a diferença salarial, de modo a diminuir as desigualdades. Porque não é correcto termos pessoas a ganhar 200 a 300 contos por mês e outros com 13 contos.

 

- Também propõe reduzir o número de deputados na Assembleia Nacional, membros do governo, vereadores e deputados municipais. Só que vai ter de contar com consensos dos outros partidos para implementar essas reformas, o que não parece fácil.

- Sim, essa é uma proposta nossa, mas é evidente que terá de haver um debate prévio. Agora, nós estamos seguros que somos um Estado despesista. Num país com 500 mil habitantes – uma cidade em muitos países – pode-se governar com apenas 12 membros de governo. Perfeitamente. Até directores-gerais, directores nacionais podemos ter a um máximo de 50. Muitos deputados com quem falei são a favor desta proposta, mas há outros que pensam que se calhar não é lá boa ideia. Mas temos exemplos de várias partes do mundo que mostram que se pode governar e legislar com pouco, como acontece no Gana, ou nas ilhas Comores, que tem apenas 30 deputados no Parlamento (Cabo Verde tem 72).

Pelos nossos cálculos, se reduzirmos o número de deputados, directores, vereadores, institutos públicos, etc., iremos poupar qualquer coisa como 3 milhões de contos. Imagina só.  Com três milhões de contos, poríamos um milhão na saúde, um milhão da educação, um milhão na luta contra a pobreza… Três milhões de contos todos os anos são valores significativos. Em cinco anos, pouco mais de um mandato, são 15 milhões de contos. Quer isto dizer que é necessário reduzir a máquina pública. Propus isso no Parlamento.

 

- O Governo não absorve essas ideias porque vêm de Orlando Dias ou porque não lhe interessa de todo para garantir os tais ‘jobs for the boys”?

- Naaaa,…. O Governo… (pausa) O governo não está a querer ver a realidade das coisas. Já sabe, quando se está no poder durante algum tempo criam-se vícios e não é fácil deixar um vício. Por isso são necessárias mudanças. No segundo mandato há sempre um desgaste natural. Eu, como primeiro-ministro, não manteria, em nenhuma hipótese, um mesmo ministro com a mesma pasta durante cinco anos. Psicologicamente não é bom, porque vai continuar a bater na mesma tecla, perderá, portanto, capacidade de inovação e introdução de reformas. Aliás, não é por acaso que proponho a limitação de mandato do próprio primeiro-ministro. O órgão que executa e faz a gestão financeira do país é o Governo, mas em todos os países presidencialistas onde o mandato do presidente é limitado, é precisamente porque são também chefe do governo. Em Cabo Verde deve ficar plasmado na lei que o primeiro-ministro não deve ficar no governo por mais de dois mandatos. Mesmo que o seu partido volte a ganhar as eleições será outra pessoa a liderar o governo. Da mesma forma defendo a limitação do mandato dos presidentes de Câmara para três, no máximo. Três mandatos de quatro anos cada.

 

- Internamente, quais são as grandes propostas da sua candidatura para “unir o MpD” e, como diz, “devolver o partido às bases”?

- Primeiramente, fazer do MpD um partido verdadeiramente democrático, onde haverá diferenças de ideias, ambiente plural, um partido que funciona de forma colegial, que respeita os militantes, tenham voz. Um partido com mais proximidade com as bases, mais e melhor comunicação com a sociedade de modo a reforçar a credibilidade do MpD junto do eleitorado.

Vamos fazer uma profunda reforma dos estatutos do MpD, para podermos ter uma liderança partilhada. Reforçaremos os poderes da Comissão Política Nacional e da direcção Nacional, faremos com que o poder seja descentralizado e não focalizado apenas no líder. Para isso devemos aumentar o número de membros da CP e da DN. Enfim, queremos um MpD que funcione da vontade do povo. Os nossos militantes terão mais participação e serão ouvidos de facto.

 

- Isto em teoria, porque na prática sabemos que os militantes não pagam quotas, não participam das reuniões…

- Sim, mas é preciso formar os militantes. Nós é que temos de estar próximo dos militantes, informá-los… O líder é para isso. Liderar não estar à distância, liderar é estar próximo. Por exemplo, nestes contactos que venho efectuando estou a aprender muito com os militantes. Muitos me dizem claramente assim: “líder di MpD n’ konxel pratikamenti só na tilivizon”. Quando se está longe das pessoas, elas não sabem o que se passa dentro do partido e na governação. É preciso diálogo.

 

- Certo, mas, reformulo a questão, com os militantes que não pagam quotas como é que pensa garantir a sustentabilidade das estruturas que vai pôr a funcionar sem dinheiro próprio?

- Veja, há subsídio do Estado, para além de quotas. Temos, de facto, militantes que podem pagar, militantes que podem pagar bem e militantes que não têm como pagar. Estes pagam o mínimo, simbólico, quem puder pagar mais, paga. Com boa gestão é possível ter o partido a funcionar desafogadamente. Também se pode buscar consensos com os outros partidos e solicitar mais subsídio por parte do Estado, em função, claro, do score eleitoral de cada um. De igual modo, há parcerias com parceiros internacionais, se for preciso mobilizam-se recursos para o partido funcionar bem.

 

- Neste momento, como o MpD está financeiramente?

- Neste momento o MpD tem uma dívida de 115 mil contos.

 

- Junto da banca?

- Não tenho detalhes, sei que o total da dívida do MpD neste momento é de 115 mil contos. Mas isso é fruto de uma gestão inadequada. Devem ser dívidas junto dos bancos e outros, enfim, são dívidas do partido.

 

O Cabo Verde de Orlando

 

- Como é que projecta Cabo Verde nos próximos tempos?

- Eu vejo um Cabo Verde desenvolvido, mas é preciso antes uma Reforma do Estado. Temos que fazer a contenção da despesa pública, temos eu apostar na industrialização do país, que produza mais, com indústria de transformação de produtos, atrair o investimento externo, apostar na integração no mercado da CEDEAO…

 

Diplomacia e integração regional

 

- Curiosamente, na sua “Nova Carta Política” em momento algum se refere à região da CEDEAO, onde aliás é deputado?

- Falamos, na Carta, na integração no mundo, ampliamos a nossa visão, sobretudo porque sabemos que a CEDEAO sofre ainda de algum preconceito de algumas pessoas. A integração no mundo tem a CEDEAO. E Cabo Verde nunca estará integrada no mundo sem a sua integração na CEDEAO.

 

- O Orlando Dias apoia a entrada de Cabo Verde na moeda única regional, a moeda da CEDEAO?

- Isso é preciso um estudo e leva algum tempo. Acho que esta não uma questão central.

 

- Sim, mas a integração não é só política, é também económica, ou não?

- A dinâmica da integração económica pode chegar à moeda única regional. Primeiro é preciso reforçar a integração económica. Neste momento as trocas comerciais com os países da CEDEAO é de até 2% no máximo, é muito incipiente, não dá para chegar à moeda única. Por isso a necessidade primeira de reforçamos a integração económica, no caso, a industrialização de Cabo Verde, possuir ligação marítima com a região para podermos aproveitar desse grande mercado de 400 milhões de habitantes.

 

- Qual é a política diplomática da sua candidatura?

- Temos muitas falhas na nossa diplomacia que é preciso ver. Acho que a nossa diplomacia deve promover muito mais Cabo Verde no mundo. As embaixadas não podem se limitar apenas a emitir documentos. Não, têm de fazer a promoção económica do país, atração do investimento externo. Temos que ter adidos culturais e económicos em cada embaixada, bem preparados, com a função de promoverem o turismo, economia, cultura de Cabo Verde lá fora. Temos que trazer empresários dos EUA, da China, Portugal e implantar uma indústria de transformação aqui no arquipélago para exportar para o mercado da CEDEAO. Porquê aqui? Porque aqui o seu investimento é mais seguro que nos restantes países da região.

Repare, o nosso grande problema, dos nossos empresários, é a falta de capital. É por isso que temos problemas nos transportes, é falta de capital interno. Portanto, temos que ir lá fora buscar recursos, mas não os governantes a fazê-lo, são as pessoas colocadas nas embaixadas. Por exemplo, temos o embaixador José Filomeno (Bruxelas e União Europeia) que conseguiu trazer tanta coisa para Cabo Verde, mesmo no período da Covid-19 em alta, trazendo vacinas, mais de 7 milhões de euros para recuperar os estragos das chuvas em Santo Antão, etc. É isso que queremos da diplomacia.

 

- Como reduzir o défice público e a dívida externa?

- Podemos negociar as dívidas. Muitos desses países financiadores podem perdoar a dívida de Cabo Verde. Se 10 milhões de euros é muito dinheiro para Cabo Verde em muitos desses países amigos 100 milhões de euros dilui-se facilmente, não é nada. E outra vez, a nossa diplomacia deve ir por esse caminho. Se não for perdão, pode-se renegociar a dívida, esticá-la para mais tempo. Isso sem falar em fundos perdidos às quais podemos recorrer.

 

- Neste momento que tipo de relação existe entre Orlando Dias e Ulisses Correia  e Silva?

- Pessoalmente boas relações, com ideias diferentes, mas que podem convergir. Mal seria se tivéssemos as mesmas ideias. As pessoas em Cabo Verde confundem muita coisa, pensam que quem dá palmadinhas nas costas que é amigo. Às vezes não, quem critica construtivamente na cara pode ser teu melhor amigo, porque, para já, te avisa para corrigires antecipadamente e não depois que as coisas já deram para o torto.  Eu não tenho esse problema. Dos maiores apoiantes de Ulisses para a sua eleição fui eu. Mas uma pessoa vai analisando. Está nos arquivos da TCV, quando eu era secretário do MpD e perdemos as eleições, as pessoas estavam a comentar quem seria o novo líder e apontei logo que Ulisses tinha nessa altura todo o perfil e condições para liderar o partido. E hoje aí está ele, primeiro-ministro.

Na disputa, em 2004, entre Agostinho Lopes, Jorge Santos e Ulisses, apoiei o Ulisses. O único concelho onde ele ganhou foi Santa Cruz e eu é que estava à frente. Bem, agora ele precisa corrigir seus erros e ele não pode pretender ficar todo o tempo no poder.

A minha candidatura, ganhando, vai ajudar o Ulisses a corrigir a sua governação. Se ele quiser ouvir, claro. Basta o governo implementar medidas que a nova liderança encabeçada por nós propõe para ele começar a corrigir seus erros e melhorar a sua governação, com humildade.

 

Confiança na vitória

 

- Quais são as chances de ganhar as eleições no MpD? Que percentagem leva sobre Ulisses?

- Temos alta probabilidade de ganhar as eleições. Muito alta.

 

- Quem são os seus apoiantes?

- Temos muitos apoiantes.

 

- Quem  ?

- É muita gente, por exemplo, tenho o Aguinaldo Monteiro, como director nacional de campanha, temos do dr João Lima e a Ailine Gomes de São Vicente, o dr. Carlos Sá Nogueira, a dra. Andyra Lima, o dr Henrique, enfim, um conjunto de pessoas que estão engajadas nesta candidatura.

 

- Mas eu vi na apresentação da sua “Nova carta Política para unir o MpD” apenas pessoas da ilha de Santiago no seu núcleo de apoio. Como pensa conquistar as restantes ilhas?

- Repara… (pausa) Nesse dia foi uma conferência de imprensa e convidamos algumas pessoas. Primeiro tínhamos limitação de sala, prevíamos meter ali 50 pessoas, entretanto, apareceram mais de cem. Não estava previsto convidar apoiantes das outras ilhas, mas vamos fazê-lo nas nossas próximas actividades, trazendo representantes de todas as regiões. Vai ser um encontro alargado com os militantes, que está marcado para o dia 21 de Janeiro em Achada Santo António. Teremos toda a ilha de Santiago em peso, não teremos gente de todas as ilhas, mas representantes de São Vicente. O nosso mandatário nacional é de São Vicente, o mandatário para a Juventude é de Santiago, mas creio que teremos representantes do fogo, da ilha do Sal. Depois vamos descentralizar as nossas actividades com deslocações às outras regiões, como Santo Antão, interior de Santiago, etc.

Vamos fazer essas actividades em função do número de militantes. Por exemplo, neste momento o concelho que tem mais militantes é São Vicente, onde, aliás, ficamos surpresos com o nível de apoio que recebemos em São Vicente. Recolhemos muitas assinaturas em São Vicente. Praia está em segundo em termos do número de militantes e a seguir vem Santa Cruz.

 

- Além dos nomes que atrás mencionou tem outros apoiantes de peso, figuras ou personalidades de referência nacional e partidária?

- Tenho sim,  claro. Mas por uma questão de estratégia não convém indicar nomes. Estão a apoiar em silêncio. Tenho até coordenadores concelhios que me apoiam, mas não o podem fazer agora abertamente. Ainda não deram a cara por uma questão de prudência institucional.

 

- Insisto, o dr. Carlos Veiga o apoia?

- Ainda não falei com ele, mas conhecendo a pessoa, e lendo a minha “Carta” não tenho dúvidas que ele pode apoiar esta candidatura. Aliás, evitei falar com ele nesta fase, o que ele está a ouvir é aquilo que está público. Chegará o momento em que chegarei à sua frente e apresentar a minha proposta.

 

- O facto de Ulisses estar a apostar em muitos quadros que não são militantes do partido, logo, não votam, enquanto os militantes estão, como diz, preteridos, pode ser uma vantagem para a candidatura de Orlando Dias?

- Pois, eles não votam. Podem fazer opinião, mas não votam. Mas… (pausa) sim podemos pôr as pessoas nos lugares por competência, contudo, quando estiverem duas pessoas com as mesmas competências é evidente que a escolha é para quem nos apoiou. Uma pessoa lá no seu canto, não te apoiou em nada, e entretanto vais chamá-lo para ocupar um cargo que poderia ser de outra pessoa, esse individuo não irá valorizar o cargo ou função que recebeu. Porque não se sacrificou por ele, não trabalhou para o partido vencer e muitas foi lá colocado sem competência para tal. Não menosprezo o mérito, mas temos que saber casar o mérito com o trabalho das pessoas a nível do partido.

 

- A sua eventual eleição para a liderança do MpD não irá perigar a governação, colocando pressão sobre Ulisses e abrindo uma crise política e institucional no país?

- Não, nós já dissemos que uma das primeiras coisas que defendemos na nossa candidatura é a estabilidade política e governativa. Logo, ganhando o partido não haverá qualquer problema com a governação, Ulisses levará o seu mandato até 2026. Já lhe tinha dito isso, antes. Damos todas as garantias, todo o suporte, todos os instrumentos no parlamento o Grupo Parlamentar irá aprovar para o mandato ir até ao fim. É evidente que com correção de erros, com mudanças, para o partido poder renovar o mandato. Espero a colaboração do PM para que esta estabilidade seja garantida. Espero que UCS goste de facto de Cabo Verde e mostrar que não está no MpD só para ser presidente do MpD. Espero ainda que se o resultado me for favorável, que respeite os cabo-verdianos, e continue a governar Cabo Verde. Aliás, a primeira coisa que farei assim que ganhar o partido é chamar o Ulisses e dizer, ‘olha estamos cá para colaborar, és o nosso primeiro-ministro até 2026 e tens a nossa colaboração; vou dar-te ideias de reformas para corrigires a governação, e o faremos à base de estudos’. É isso, porque é evidente que serei candidato em 2026.

 

- Discurso de quem está confiante e já canta vitória. Mas se perder, qual seria o papel do Orlando Dias no partido?

- Continuarei ligado ao partido com mesmo brio, mesma tranquilidade, mesma serenidade. Colaborarei sempre para que haja estabilidade. Em democracia ou se ganha ou se perde. Já ganhei eleições antes, já perdi também.

 

- Tem algum estudo de opinião que lhe dá essa confiança em como sairá vencedor da disputa contra Ulisses Correia e silva  ?

- Vamos encomendar um estudo de opinião para mostrar isso. Neste momento, a percepção que temos no terreno é que temos grandes probabilidades de vencer estas eleições internas. Porque há um descontentamento da maioria dos militantes em relação à actual liderança.

 

- Em relação à liderança ou em relação à governação  ?

- Em relação à liderança é claro o descontentamento. Quanto à governação muitos militantes estão também descontentes. Precisamente, por falta de correcção daquilo que está mal, que não foi corrigido, mas que pode ser corrigido. Por isso vamos fazer um estudo, e com base nesse estudo vamos adequar a nossa actuação. Até finais de Janeiro faremos esse estudo para sabermos como a nossa candidatura está, o que os militantes querem, qual a intenção de voto…

Por exemplo, eu acho que em Cabo Verde, país com 500 mil habitantes, é dispensável a figura do vice-primeiro ministro. Completamente dispensável, no máximo o PM terá ministros de Estado. Repare, não estás num governo de coligação, não há necessidade de satisfazer vontades, portanto não há necessidade de termos a figura de VPM em Cabo Verde. Inclusive, cria-se uma situação discriminatória em relação aos restantes membros do governo, além de se estar a dar sinais claros de quem queres para te substituir.

 

- Está na Constituição…

- Está na Constituição, mas podia não estar. Não queria entrar nesse campo, mas tenho que dar o exemplo do dr. José Maria Neves que governou durante 15 anos mas não teve nenhum VPM. Para mim, trata-se de um cargo absolutamente dispensável.

 

- Também poderia questionar por que colocar todos os quatro vice-presidentes do MpD no governo, desguarnecendo o partido.

- Exactamente. Isto é mais um sinal de abandono a que está votado o MpD. Os vice-presidentes, que são membros do governo, não têm tempo para dedicarem ao partido. Nós vamos ter quatro vice-presidentes no MpD mas para trabalhar de facto. Para já, um dos vices terá estatuto de ministro, com condições de um ministro, mas não será ministro para poder trabalhar inteiramente para o partido. Teremos um vice-presidente para Barlavento, um vice para Santiago Sul, um vice para Santiago Norte e um vice para Fogo-Brava. Mesmo que um ou outro seja chamado para o Governo os outros dois estarão a trabalhar com o presidente para a organização do partido.

 

- Luis Filipe Tavares saiu do governo após o escândalo com a nomeação do português César do Paço para cônsul de Cabo Verde na Florida, mas Tavares não deixou a vice-presidência do MpD. Por que não se dedica então ao partido?

- Verdade. Bem, por acaso o convidaram para uma palestra nesses dias, uma conferência internacional, de modo que ele está a aproximar-se de novo às actividades partidárias. Porque acho que estavam a esperar o arquivamento do processo que decorria no Ministério Público, o que é normal, né. Portanto, penso que temos que ter vice-presidentes que cuidam do partido. E o secretário-geral também pode ser vice-presidente, ou seja o vice-presidente pode acumular a sua função com a de secretário-geral.

No caso do secretário-geral, vamos reforçar altamente os seus poderes. A nossa proposta é para ser eleito sob proposta de pelo menos um terço da Direcção Nacional, em que podem ser propostas um ou mais candidatos. Não será eleito sob proposta do presidente. O presidente não nomeia nada aqui.

Mas é preciso muito trabalho, porque ainda temos gente que só sugam do partido e não dão nada. Precisamos ter recursos, de amigos, quotas, parceiros, temos de ter um partido a funcionar bem.

 

Relações com a oposição

 

- Tendo em conta uma série de medidas que propõe para a reforma do Estado, que vão exigir concertação e apoio do PAICV, pergunto-lhe, que tipo de relações pretende estabelecer com esse partido se for eleito presidente do MpD?

- Em Cabo Verde temos que estar juntos em muitas matérias. Para fazermos uma revisão constitucional obrigatoriamente teremos que ter acordo com o PAICV e com a UCID.

 

- Pensa em Pactos de Regime?

- Sim, Pacto de Regime. Para uma revisão constitucional profunda temos que ter um Pacto de Regime. É nessa onda que pretendemos trabalhar. O Códido Eleitoral, Estatuto especial da Cidade da Praia, regionalização, todos implicarão consensos entre as forças políticas através de pactos de regime. Neste momento temos boas relações com a UCID, com o PAICV, porque sabemos que no futuro vamos ter reformas que necessitarão de consensos alargados. E reformas, quanto mais abrangentes, quanto mais envolventes tiver, dos partidos políticos, da sociedade civil, enfim de todos os cidadãos cabo-verdianos, é melhor. Várias cabeças pensam melhor que uma, independentemente de diferenças de ideias.

 

- O Orlando Dias sente-se preparado para ser primeiro-ministro de Cabo Verde  ?

- Penso que sim. Tenho experiência suficiente, estou há muito tempo na política, conheço Cabo Verde muito bem, conheço bem a nossa diáspora. Penso que sim, estou em condições de ser primeiro ministro.

 

- O que poderia ser seu maior adversário nessa caminhada? Não estou a falar de Ulisses.

- Bem, neste momento é fazer tudo para evitar que recursos do partido e recursos do Estado sejam usados para beneficiar uma candidatura. E também evitar a utilização de cargos para fazer campanha para uma determinada candidatura. As comissões polítocas concelhias e os coordenadores concelhios devem ter uma postura de imparcialidade. Podem apoiar quem quiserem, viotar em quem quiserem, mas não podem utilizar estruturas do partido para fazer campanha para outro candidato. Se isso acontecer vamos denunciar logo. Idem, para as câmaras municipais, estamos a alertá-los para a sua equidistância no processo eleitoral. Até porque não sabem que candidato sairá vencedor e têm eleições já em 2024.

 

- O Orlando Dias também vai ter de montar a sua estrutura de apoio, gabinete de comunicação, relações públicas, efectuar deslocações… Pergunto com que recursos?

- (Pequena pausa) Vamos mobilizar recursos… recursos próprios também. Eu já tenho 34 anos de serviço em Cabo Verde, sou médico, tenho recursos próprios, familiares também apoiam… O mínimo que tivermos estamos a investir na nossa candidatura, mas nada do Estado, nada do partido. Recursos da nossa equipa.

 

- Orlando Dias parece ter sempre um discurso de ‘terra queimada”…

- Não (risos)… Por causa nunca tive (risos) discurso tão de Estado como o que tenho tido agora. As realidades são outras, agora sou candidato. Já tive no passado discursos inflamados, mas na altura era deputado… mas agora como candidato à liderança tenho de ter um discurso de Estado.

 

- Mas as suas interveções são cáusticas, levando a pensar que a sua mensagem, propositada ou não, podem destruir o MpD.

- Não. As pessoas podem ver o que querem ver. Eu tenho reconhecido as coisas boas que o governo tem feito, mas tenho dito que é preciso corrigir algumas coisas. Havendo humildade é basta pegar nas minhas propostas pôr na prática e resolver o assunto. Podes pensar nessa linha: o indivíduo está a dar ao partido pistas. Até causando embaraços à oposição, porque, veja, a UCID e o PAICV se quiserem implementar terão de reconhecer que o dr. Orlando Dias já tinha feito antes. Estou a ajudar o MpD a corrigir os erros.

 

- Neste momento estou à frente do próximo primeiro-ministro de cabo Verde?

- Eeee… podes afirmar que neste momento estás frente ao próximo candidato a primeiro-ministro de Cabo Verde.

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine