• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Portugal: ‘Artivista’ preocupado com “agravar da situação de estigmatização” da comunidade afrodescendente
Diáspora

Portugal: ‘Artivista’ preocupado com “agravar da situação de estigmatização” da comunidade afrodescendente

O ‘artivista’ social José Rui Rosário mostra-se preocupado com a forma como tem “piorado a situação de estigmatização” da comunidade afrodescendente em Portugal, com a própria sociedade organizada, para que “em termos sistémicos” o racismo prevaleça.

Em declarações à Inforpress em Lisboa, José Rui, que gosta de ser tratado por ‘artivista’, uma junção artista e activista, afirmou que “partir do princípio de integração é mau”, porque o que é preciso é ser-se incluído, mas que nota que existe “muita falta de inclusão”, fazendo com que a exclusão seja “gritante”.

Considera que em mais de 50 anos em que as gerações cabo-verdianas estão em Portugal ainda há uma tendência “muito clara” de colocar essas pessoas à margem.

“A própria sociedade está organizada para que em termos sistémicos este racismo prevaleça. Quando digo racismo, tem a ver com forma de exclusão muito concreta que em termos institucionais continuam a funcionar em Portugal. É claro que lutamos com a negação do sistema que está muito bem montado para também desviar as atenções, para minimizar as questões”, explica a mesma fonte.

Por outro lado, considera que a realidade “é preocupante”, com o surgimento de forças de extrema direita com “alguma relevância”, que vêm complicar toda esta situação, porque “estão a estigmatizar, não só as comunidades africanas em Portugal”, sublinhando que se está “cada vez mais a notar o piorar e o deteriorar destas formas de aceitar as comunidades”.

Tendo em conta toda essa realidade, José Rui Rosário, natural de São Vicente e que vive há várias décadas em Portugal, teve a ideia, em 2019, de criar o projecto “O Lado Negro da Força” para dar a conhecer algumas pessoas da comunidade afrodescendente em Portugal, através de uma publicação mensal, como testemunhos de pessoas de várias áreas, tendo como primeiro convidado o artista cabo-verdiano Corsa Fortes.

Por razões várias, o projectvo este em “stand by” por alguns meses, e, em 2020, durante a pandemia e depois alguns acontecimentos relacionados com a discriminação em Portugal, como por exemplo com Cláudia Simões e Giovani Rodrigues, e a nível mundial, como foi o caso de George Floyd, nos Estados Unidos da América (EUA), ele falou com dois amigos e resolveram retomar, como forma de “agregar alguma coisa na luta antirracismo”.

Assim, criaram o “Lugar de fala”, um conversa on-line de todas as quintas-feiras à noite que tem um convidado para falar de vários temas, para além do racismo, mas também da actualidade, que “de uma maneira muito suave e sem grandes pretensões”, teve o primeiro convidado Mamadu Ba, um activista político antirracista e tradutor luso-senegalês, que em 2021 foi distinguido com o prémio internacional Front Line Defenders, pela sua dedicação à luta anti-racista.

“Já vamos com dois anos e aos poucos as coisas foi crescendo, com um colectivo de sete pessoas. É sem dúvida um espaço onde nós trazemos também alguma massa crítica, porque queremos também reportar algumas opiniões”, refere, indicado que também têm feito algumas conversas especiais e presenciais, nomeadamente no Dia da Mulher Africana, no Bairro da Jamaica, pelo Natal e sobre Bruno Candé, um actor português assassinado a 25 de Julho de 2020, em Moscavide, vítima de crime de ódio racial.

O colectivo de sete elementos é integrado, para além de José Rui Rosário, por Pedro Filipe, Paula Cardoso, Danilo Moreira, Laura Alves, Ricardo Ayala e Mafalda Fernandes.

José Rui garante que a ideia é continuar a fazer o activismo, mas de uma “maneira suave e alegre”, porque às vezes trata-se de temas “complicados”, mas que não querem trazer “aquela carga negativa”, mas sim “alguma esperança e alegria” nas suas convicções, sustentando que é desta forma que as pessoas que lidam com essas problemáticas já falam no projecto “O Lado Negro da Força”, por causa da relevância do trabalho que fazem.

“Abrimos um espaço de diálogo e discussão e isso torna com que sejamos quase únicos nesta área, onde podemos amplificar essa voz às comunidades e àqueles que estão despertos para a questão da discriminação racial”, sublinha o também escritor, autor de “69 Razões… para Não Se Apaixonar por Um Poeta”, lançado em 2014, e “50 Voltas ao Sol”, que saiu em 2019.

O promotor do projecto “O Lado Negro da Força”, que também já foi locutor de rádio, é músico e membro de uma banda de rock português chamada “Dixit”, que já vai comemorar no próximo ano 30 anos de existência.

Partilhe esta notícia