• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Tikai/30 anos de carreira: “Sinto-me bem quando me chamam Tikai por todos os lugares onde passo”
Cultura

Tikai/30 anos de carreira: “Sinto-me bem quando me chamam Tikai por todos os lugares onde passo”

O actor santiaguense João Pereira, mais conhecido por Tikai no mundo artístico, completa este ano 30 anos de carreira teatral e avalia positivamente o seu percurso, destacando o “reconhecimento do público”  em todos os lugares por onde tem passado.

Em conversa com a Inforpress, Tikai lembra a sua primeira atuação, na sua zona Pedra Barro, subúrbio da cidade de Assomada, quando ainda criança, aos sete anos, fora convidado para actuar num grupo local, com o papel de especifico de espantar os corvos dos campos de milho.

No final, recorda, todos parabeneziram-no pela grande demonstração e, desde então, passou a assistir mais apresentações em Assomada e o amor pelo teatro continuou até hoje.

“Oficialmente, foi há 10 de Maio de 1974 que o nosso grupo, Boa Esperança, fez a primeira actuação, em Outubro, no Polivalente de Assomada. Tomei esta data como referencia, uma data oficial nesta, de modo que este ano comemoro 30 anos”, precisou.

E para comemorar os 30 anos de carreira Tikai achou por bem celebrar esta caminhada com algumas actividades que vão decorrer durante o ano, tendo já em mente várias actividades não só em Cabo Verde como também na diáspora.

“Quero começar no dia 09 de Fevereiro, com uma grande “Noite de Konta Parte” (Contar anedotas) porque sabemos que os cabo-verdianos gostam muito de rir, usando esta expressão de antigamente, quando não existia a televisão para animar as noites das famílias. Ou seja, tipo stand up comedy, mas de modo mais tradicional e limitando o uso de palavrões”, explicou.

A “Noite de Konta Parte” deve acontecer no Auditório Nacional, com a participação de mais 10 humoristas, de entre eles, Enrique Alhino, Ruben, Boka Fradu, Jairson, sendo que a intenção é levá-la também para fora de Cabo Verde durante este ano.

Tikai, que se diz inspirar na feitura do teatro no dia-a-dia do povo de Cabo Verde, que caracteriza como sendo muito alegre, de muitas histórias, prevê, igualmente, no rol das comemorações, lançar a segunda edição da “famosa” peça “Nha Fia” e apresentá-la ao vivo, possivelmente no mês de Junho.

Isto porque, conforme disse, há muitas crianças que conhecem esta peça e que não ainda não tiveram a oportunidade de ver esta actuação ao vivo, e também fazer o mesmo com as outras peças mais antigas.

Para já, avalia positivamente o seu percurso no mundo do teatro, afirmando que nunca teve problemas porque sempre foi aplaudido pelo seu público.

“Se repararem hoje em Cabo Verde o grupo Tikai é o único que enche o Parque 5 de Julho, regozijou-se”, lamentando-se, por outro lado, da pequenez do mercado que não permite as pessoas viverem apenas do teatro, ao que se junta o apoio “quase nulo” dado a esta arte.

Por isso defendeu mais apoios para os grupos teatrais, principalmente aos os que fazem teatro tradicional, indicando que há muitos jovens talentos no país já conhecidos nesta área, como os do grupo Juventude em Marcha, Gil Moreira, do Fladu Fla, além de outros não conhecidos, como forma de elevarem esta arte em Cabo Verde.

“Então, estas são as maiores dificuldades, mas, eu sigo no teatro mesmo assim, mesmo com poucos recursos, porque é um dom que Deus me deu e que coloco ao serviço do meu povo”, disse, salientando que teve grande sorte, porque durante esta caminhada, mesmo a nível profissional, enquanto político, sente que o público e o Tikai conseguiram colocar as coisas cada um no seu lugar.

“Então em todos os lugares que vou, cada vez mais as pessoas me chamam nas ruas, então não tenho de me queixar, agradeço ao público que gosta de mim, porque sinto-me muito bem e quando me chamam Tikai fico muito contente com isso”, confessou.

Tikai é também conhecido na música, com algumas gravações do funaná, mas diz se sentir mais à vontade no teatro. Consagrou-se no teatro quando vivia em Portugal de 2001 a 2012, país onde emigrou em busca de uma vida melhor, como muitos cabo-verdianos.

Ali trabalhou na construção civil e ao mesmo tempo agarrou a oportunidade que encontrou para terminar os estudos secundários, pois quando emigrou tinha apenas 5º ano de escolaridade, porque se atrasou nos estudos.

Por isso apelou a todos os que estão a emigrar hoje que aproveitem para estudarem, justificando que há doze anos, voltou diferente, com o seu diploma, outra visão, graças à oportunidade que teve de estudar, gratuitamente, e é actualmente mestrando em ciências políticas.

Foi ainda em Portugal, de 2002 a 2012, com o grupo Raiz de Cabo Verde, que gravou os dois primeiros filmes, “Nha Fia” e “Pindoko” e a partir de “Rapazinho Intentado”, começou a gravar em Cabo Verde. Com o seu regresso ao país, teve o receio de que não teria o mesmo reconhecimento, algo que, sublinhou, não aconteceu, antes pelo contrário, “o reconhecimento do público só aumentou”.

Actualmente, além destes, o orupo Tikai já produziu também as peças, “Kadabrada”, “Pikinina”, “Xipititi”, “Bati Ku Liza”, “Fidju Prodigu” e “Boita e Raboita des Mundo”.

Partilhe esta notícia