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Stribilin (33ª parte)
Cultura

Stribilin (33ª parte)

CXLIX CENA

Lelenxo, Bernardo e Augusto estão num descampado, todos de pé, tratando-se do negócio de Jaracunda.

BERNARDO – Pois, Lelenxo. Tu vais posicionar aqui nesta ponta, apanhas uma pedra e atiras com toda a força. Onde a pedra cair e parar, irás pôr uma marca. E essa parte passará a pertencer-te.

LELENXO – Muito bem. (Tira uma garrafa de aguardente e três copinhos de dentro de um saco, dá ao Bernardo e ao Augusto um copo a cada um, abre a garrafa e serve aos três o aguardente) Vamos tomar um grogue para me relaxar um pouco.

AUGUSTO – O tio deve concentrar-se para poder mandar a pedra o mais distante possível.

LELENXO – Exatamente. Eu atiro com a pedra, mas quem vai colocar a marca és tu. (Para Bernardo) Ele está mais novo, está melhor preparado para essas coisas. (O Bernardo já tem o seu copo seco. Lelenxo abre novamente a garrafa e serve a todos mais uma rodada. Ao copo do Bernardo ele deixa encher-se até abarrotar) Desculpa-me, Bernardo.

BERNARDO – Não tem de quê. Por isso ainda não me ofendeste.

LELENXO (apanha uma pedra no chão) – Sobrinho, vê com atenção onde é que a pedra vai cair, vais lá pôr a marca. Percebeste?

AUGUSTO – Percebi, sim, tio.

Lelenxo toma balanço e atira a pedra com toda a força. Augusto arranca numa corrida para onde a pedra cai. Lelenxo, de forma subtil e intencionalmente, fica a frente do Bernardo, de forma a dificultar-lhe a visibilidade sobre o percurso do Augusto. E faz com que Bernardo fique mesmo de costas para o Augusto. Abre a garrafa e enche de novo o copo ao Bernardo.

LELENXO – Brindemos com mais um pé. O homem tem dois pés, mas quem tiver três, é um homem distinto dentre os demais. Há mulher que o prefere.

BERNARDO – Podes deixar vir o aguardentezinho. Luís Cabelo já dizia que grogue é metade de um homem.

Lelenxo retira uma marmita do saco e convida-o a comer umas postas de moreia frita.

LELENXO – Vamos saborear estas postinhas de moreia que Manené nos aviou.

BERNARDO – Costuma-se dizer que quem bebe e não bafa, cai sempre debaixo.

LELENXO – Quem não bafa, ele é que é bafado.

Augusto vai correndo e ultrapassa cerca de triplo da distância onde a pedra cai e, supostamente, onde vai colocar a marca. Bernardo levanta a cara e fica pasmado.

BERNARDO – A onde é que o teu sobrinho vai, Lelenxo?!

LELENXO (finge-se inocente e chama o sobrinho) – AUGUUUSTO! AONDE É QUE TU VAIS, RAPAZ? (Augusto para, Lelenxo volata para o Bernardo, como quem está envergonhado) Os meninos de hoje fazem-nos envergonhar perante amigos.

BERNARDO (para o Augusto, muito aflito) – Volta pra cá e vamos fazer tudo de novo. (Augusto fica parado, Bernardo volta para Lelenxo) Vais atirar novamente com a pedra.

LELENXO (serve-lhe rápido mais um grogue) – Desculpa, Bernardo. Como ele já está ali… (Serve também um copo para ele) dou-te mais um troquinho e fechamos o negócio. Eu e o meu sobrinho, quando chegarmos lá em casa conversamos. Ele vai-me pagar por esta vergonha que me fez passar contigo.

BERNARDO – Ok. Mais quanto me vais dar?

LELENXO – Dou-te mais 500 paus.

BERNARDO – Mil paus!

LELENXO – Está muito caro.

BERNARDO – Ok. 800!

LELENXO – Caro!

BERNARDO – Então 700!

LELENXO – Está caro. (Serve-lhe mais um grogue) 550!

BERNARDO – 600!

LELENXO – Se não queres 550 paus, não dou nem mais um centavo. E mesmo, não quero fazer o negócio. Paga-me o que me deves e ponto final!

BERNARDO (fica um pouco avermelhado) – Mas eu já não tenho o dinheiro que chegue para te devolver.

LELENXO – Não quero saber. Arranja o meu dinheiro e dá-mo imediatamente.

BERNARDO – Está certo. Podes dar-me os 550.

LELENXO (fala para Augusto) – Podes fincar a estaca ali, sobrinho! (Conta os 550$00 e dá ao Bernardo. Augusto junta-se a eles) Oh, meu sobrinho! Viste a encrenca que já me ias meter?! O Bernardo já estava quase a bater-me por tua causa.

AUGUSTO (finge-se coitado) – Desculpe. (Para Bernardo) Desculpe-me, Bernardo.

BERNARDO – Agora serve-nos mais uma rodada e o teu sobrinho é que paga.

AUGUSTO – Não há problema. (Para Lelenxo) Tio, serve-nos três rodadas.

LELENXO – Assim já eu te perdoo. Já admitiste o teu erro, não te vou castigar.

BERNARDO – Erro é humano, Lelenxo!

LELENXO – Por isso é que lhe perdoei.

BERNARDO – Ele parece um bom rapaz!

LELENXO – É excelente rapaz, Bernardo. Não sei o que lhe deu hoje, para me fazer esta tamanha desfeita.

AUGUSTO – Muito obrigado, tio. (Para o Bernardo) Peço-lhe desculpa mais uma vez, Bernardo.

BERNARDO – Estás perdoado, meu rapaz.

LELENXO – Depois fazemos o papel de posse do terreno. Eu gosto de fazer as minhas coisas com o preto no branco.

BERNARDO – Podes ficar descansado.

LELENXO – Então vamos embora.

Saem os três juntos.

CL CENA

João da Cruz e um seu irmão, o Txoné, estão encostados ao balcão, cada um com um cálice de grogue à frente.

JOÃO DA CRUZ – Pois é, mano. A Helena é muito caprichosa. Às vezes até, é esquisita. Se disser não à uma coisa… pode sofrer, mas não volta atrás.

TXONÉ - Mas como foi que ela descobriu que tinhas outra?

JOÃO DA CRUZ - Não sei. Desconfio de uma vizinha dela. Aquela mulher é perigosa.

TXONÉ - Tens a certeza de que é ela?

JOÃO DA CRUZ – É a única amiga da Helena que nos viu sair da barraca em Jaracunda. Só pode ter sido ela a chibar-me.

TXONÉ - Se fosse eu, levantava-lhe a saia e dava-lhe duas palmadas no pucho.

JOÃO DA CRUZ - Se eu levantar a saia a uma mulher não consigo dar-lhe palmada no pucho. Perco a força e começo a tremer com as mãos.

TXONÉ – Ah, é! E para onde é que as forças irão?

JOÃO DA CRUZ - Para o terceiro pé. O pé do meio. O pé que em vez de ter pata, dedos e unhas, tem uma cabeça e um olho.

Riem-se.

TXONÉ - Estás com saudades da Helena?

JOÃO DA CRUZ - Estou. Há quase um mês que ela não fala comigo… não me deixa ver o puto.

TXONÉ - Estes são os defeitos de quase todas as mulheres. Quando estão zangadas com o marido privam-no de ver os filhos.

JOÃO DA CRUZ - Já nem sei o que faço. Às vezes penso nela, sinto vontade de chorar.

TXONÉ - Então por que foste meter com outra… que engravidaste a Ponxita?

JOÃO DA CRUZ - Não sabia que Helena ia ficar brava dessa maneira.

TXONÉ - Também eu não percebo por que é que a cunhada está a agir assim?! Ela sabe que todos os homens têm mais do que uma mulher. E tu não serias, certamente, exceção à regra!

JOÃO DA CRUZ - Sabes, ela já tem vinte e tal anos, é mãe de um filho… Ponxita tem 16, para ela é uma ameaça.

TXONÉ - E Ponxita é muita bonita.

JOÃO DA CRUZ - É muito bonita, sim.

TXONÉ - Posso dar-te uma ideia?

JOÃO DA CRUZ - Qual?

TXONÉ - Se quiseres eu levo-te à casa da cunhada.

JOÃO DA CRUZ - Como, mano? Ela vai deixar de falar contigo, de certeza, se me levares a casa dela.

TXONÉ – Ela nem vai saber se fui eu que te levei.

JOÃO DA CRUZ – Como? O que vais fazer? Como é que vais fazer?

TXONÉ – Tu vais comigo, ficas agachado na esquina da casa, finjo ir cumprimentá-la e ver o meu sobrinho, faço com que ela saia da sala, tu entras e escondes debaixo da cama.

JOÃO DA CRUZ - Bravo. Vamos já hoje?

TXONÉ - Se quiseres, podemos ir agora mesmo.

JOÃO DA CRUZ - Ok.

TXONÉ - Ficas atento, quando eu abrir a porta tu entras.

JOÃO DA CRUZ (chama a Balconista) – Nila, traz-nos mais dois grogues, e a conta se faz favor.

NILA (serve-lhes) - São quatro grogues… vinte escudos.

João da Cruz paga, secam o copo de um só trago e saem.

CLI CENA

TXONÉ (chama de longe) - CUNHADA! CUNHADA HELENA!

HELENA [O. S.] – Oi, cunhado! (Surge em cima da porta) Entra um bocadinho!

TXONÉ - Queria só perguntar pelo meu sobrinho e saber como é que vocês estão.

HELENA - Vamos indo… cada dia de uma maneira: hora doce, hora amarga. Não queres entrar?

TXONÉ (entra e senta-se) - Onde está o meu sobrinho? Ou já está a dormir?

HELENA - Dário hoje foi pra cama cedo. Chegou da escola um bocadinho mal disposto… não sei porquê.

Vai para fechar a porta.

TXONÉ - Deixa a porta aberta, cunhada. Estou com muito calor! E já agora… dá-me uma caneca de água fresca.

HELENA - Tens calor, cunhado?! Só tu é que o tens! (Dá-lhe uma caneca água) Água não está muito fresca porque enchi o pote a bocado!

TXONÉ - O meu sobrinho… não tem febre?!

HELENA - Febre ele não tem. Mas mesmo assim fiz chá de barata, misturado com alho e skóntra e dei-lhe com um pouco de cabeça de grogue. Depois que bebeu o chá, vomitou muito, mas agora esta a dormir.

TXONÉ - Deve ser coisas de lombriga.

HELENA - Se for lombriga… o alho resolve. Se for feiticeira… barata saberá o que fazer. E se for boca-fede… skóntra é o remédio.

TXONÉ - Meu mano… não tem dado fala?

HELENA - Ele não tem nada que me dar fala.

TXONÉ - Porquê, cunhada? Ele é pai do teu filho!

HELENA - O meu filho, com a ajuda de Deus, há-de crescer e ser um homem. Quero o teu mano longe de mim. Ele tem muitas outras com quem falar.

TXONÉ - Conta-me lá o que se passou entre vocês, que te levou a ficar assim tão chocada?

HELENA - Me engana que não sabes!

TXONÉ - Juro-te que não sei.

HELENA - Não deste conta que ele tem uma mulher grávida?

TXONÉ - Uma mulher grávida?! De onde, cunhada?

HELENA - Sobrinha de uma mãe de um filho do vosso tio. Dizem que é criança ainda!

TXONÉ - Sobrinha da mãe de um filho do nosso tio?! Então o karanpelu não me disse nada?!

HELENA - Não acredito que ele não te tenha dito!

TXONÉ - Também já não nos vimos há alguns dias.

HELENA - Vocês que não se separavam um do outro! … Até eu, sempre que lhe perguntava por ti, dizia: - Como está o teu dois?

TXONÉ – Ele agora está mais metido na horta… pouco tempo lhe resta para outras coisas!

HELENA - Pois. O pouco que lhe sobra é para ele andar atrás de rabos de saia das rapariguinhas. Eu também já jurei: se vir a ter mais um filho dele, que nasça pela boca, as placentas pelas narinas e, que o Nosso Senhor sirva-se de mim.

TXONÉ - Credo, cunhada! Assim é que jura? Olha que os Anjos podem estar com a boca aberta e respondam: Amem.

HELENA - Os Anjos podem estar com a boca aberta. Eu sei que nunca mais vou ter outro filho dele. Posso vir a ter outro filho com qualquer cão deste mundo… mas com ele… nunca mais.

TXONÉ - Traz-me uma brasa de lume para eu acender um cigarro.

HELENA - Agora fumas?

TXONÉ - Sempre que me doem os dentes, acendo um cigarro e puxo dois fumos, a dor passa.

HELENA (dá-lhe um candeeiro) - Acende-o aqui.

TXONÉ - Não se deve acender cigarros com o lume do candeeiro a petróleo. Inala-se o dióxido de carbono, prejudica os pulmões e provoca tuberculose.

HELENA - Isto eu não sabia.

TXONÉ - Então fica a saber. Um médico é que me disse. E ainda provoca o câncer, aquela doença que não tem cura.

HELENA - Então deixa-me ir ver se ainda encontro alguma brasa na cozinha.

Helena vai à cozinha, Txoné sai à porta e faz um sinal ao João da Cruz, que entra e esconde debaixo da cama. Helena volta com uma brasa num caco de barro.

TXONÉ (acende o cigarro e despede-se) - Bem cunhada, eu vou-me embora. Deus fique contigo.

HELENA - Deus vai contigo. E obrigada por esta visita de Doutor.

TXONÉ - As melhoras para o meu sobrinho.

HELENA - Amem! (Antes que a Helena feche a porta, ouve-se o barulho de algo que cai no quintal. Ela deixa a porta entreaberta e vai apressada para o quintal ver o que se passa. João da Cruz sai debaixo da cama, vai fechar a porta e senta-se em cima de um mocho. Ela assusta-se) O que é isto, João da Cruz? Estás doido ou tens Satanás na cabeça?

JOÃO DA CRUZ (com o dedo nos lábios) - Psiiiiu

HELENA - Sai da minha casa, por favor.

JOÃO DA CRUZ (tenta agarra-la, ficam a dar voltas à mesa) – Tenho saudades tuas, Helena.

HELENA - Mas eu não tenho saudades tuas.

JOÃO DA CRUZ - Ah, Helena, por favor!… Deixa-me ficar aqui só hoje.

HELENA - Nem só hoje, nem nunca. Eu não vou mais servir-te de mulher.

JOÃO DA CRUZ – Tu és a mãe do meu filho… mulher da minha vida.

HELENA - Mas eu não quero que sejas nem o homem da minha morte. Sai e vai-te embora, por favor.

JOÃO DA CRUZ – Por favor, mãe de filho. Dá-me o agasalho, deito-me quieto e amanhã vou embora.

HELENA – Já te disse que não e, sai e vai-te imediatamente.

Vão dando voltas à mesa, às tantas, João da Cruz embravece-se, empunha de uma faca e, muito agressivo, fica a falar alto.

JOÃO DA CRUZ – Mas tu estás a brincar comigo, ou quê?

HELENA – Não estou a brincar contigo. Estou a sério!

JOÃO DA CRUZ – Estás a sério? Já arranjaste outro homem?

HELENA – Pensa como quiseres.

JOÃO DA CRUZ – Tu que não me queres é porque já arranjaste outro…

HELENA - Se já arranjei ou não, não tenho satisfação para te dar.

JOÃO DA CRUZ – Tens sim, senhora. Tu és a mãe do meu filho.

HELENA - Tu também és pai do meu filho.

JOÃO DA CRUZ – Por isso que o registei… que não ficaste com filho sem pai.

HELENA - Tu não me pediste autorização para arranjares outra!

JOÃO DA CRUZ - Eu sou homem. Queres tu comparar comigo?

ALDOLÇA - Não é querer comparar-me contigo. Mas, é justo que, se tu reclamas uma mulher só para ti, eu também estou no direito de reclamar um homem só para mim. Ou então, desisto-me desse homem.

JOÃO DA CRUZ - Eu posso arranjar mulher que eu quiser… desde que não te falte nada em casa. Que não te falte comida na barriga.

HELENA - Achas que o direito de uma mulher, perante num homem, é só com a comida na barriga? Ela não tem outras necessidades?

JOÃO DA CRUZ - Desde que começaste a tagarelar com aquela tua amiguinha ficaste atrevida… a pensar que o homem e a mulher é a mesma coisa!

HELENA - Fiquei atrevida, mas pelo menos te respeitei.

JOÃO DA CRUZ - Se me respeitas… porque não me dás o que é meu?

HELENA - O que é teu? Não sabia se eu tinha alguma coisa tua? Nem o Dário é teu!

JOÃO DA CRUZ - O Dário não é meu filho?! Quem então é o pai dele?

HELENA - Finge que não percebes!

JOÃO DA CRUZ – Não foste tu que disseste?

HELENA – O Dário é nosso.

JOÃO DA CRUZ – Dá pa dodu! Mas se não me aceitares vou-te esquartejar.

Avança para ela com mais violência.

HELENA - Para, João da Cruz! Para e deixa de estupidez!

JOÃO DA CRUZ - Estúpida és tu que estás armada em parva.

HELENA - Só porque não te quero aceitar?!

JOÃO DA CRUZ - Já disse que te esquartejo. Então para que é que tu és minha mulher? Para os outros verem que te tenho com cadeira grossa.

HELENA – Tenho cadeira grossa, à custa do meu trabalho e, graças a Deus, herdei-a da minha mãe, que todo o mundo dizia que era boa.

JOÃO DA CRUZ – Para, Helena! Para e deixa de brincar comigo!

HELENA – Já te disse que não quero. Deita a faca fora e deixa de loucura.

JOÃO DA CRUZ - Diz que me aceita, atiro a faca.

HELENA - Já te disse que não. (João da Cruz avança com a faca na mão, ela fica a correr à volta da mesa) Para, João da Cruz!

JOÃO DA CRUZ – Para tu, de brincar comigo.

HELENA – Não estou a brincar contigo. O Dário ainda deve estar acordado.

JOÃO DA CRUZ - Qual acordado! Queres arranjar pretextos.

HELENA – Ele está doente.

JOÃO DA CRUZ - Ele está acordado porque estás a criá-lo malcriado.

HELENA – Veio da escola hoje com o corpo mal disposto.

JOÃO DA CRUZ – Mimo é que ele tem! Como se estás a criá-lo para ires trocá-lo com sal de Djarmai!

HELENA - Tu não gostas desse menino, não sei porquê!

JOÃO DA CRUZ - Porque é atrevido. Arma-se em homem e mete-se em tudo o que não é chamado.

HELENA – Ele não é atrevido. É um menino esperto… inteligente, sim. (Dário entra na sala, meio sonolento, agarra à coxa da mãe) Estás a ver?! Nem uma criança tu respeitas! Nem o teu filho… malcriado!

JOÃO DA CRUZ (grita para Dário) – VAI JÁ PARA A CAMA, PIRRALHO!

HELENA - Ele não vai nada. (João da Cruz avança para eles com a faca na mão, Dário foge para o quarto e fecha a porta, Helena contínua a correr à volta da mesa) Nem uma criança tu respeitas, João da Cruz?

JOÃO DA CRUZ – E tu também por que é que não respeitas o pai da criança?

HELENA – O que é que eu te fiz?

JOÃO DA CRUZ – Não me queres atender como minha mulher.

HELENA – Tu já não estiveste com a tua princesa?!

JOÃO DA CRUZ – E depois? Agora apetece-me estar contigo. Tu é que sabes quando é que sinto apetite e que comida é que como?

HELENA – Tu também sabes se estou com apetite? E se quero esta comida?

JOÃO DA CRUZ – Não preciso saber. Se não me deixares, vou retalhar-te toda.

Dão umas quantas voltas à mesa como no jogo do gato e do rato, às tantas, João da Cruz pega na mesa e revira-a pernas para o ar. Consegue agarrar a Helena e viola-a.

Neste intervalo ouve-se a música «JUAN DA KRUS KU ELENA» uma composição de Madala ou Jozesinhu di Txéka. Eis a letra:

JUAN DA KRUS KU ELÉNA

Nha genti nhos txoma-m Tanáziu

Pamodi frónta dja panha-m

Frónta dentu nha kasa.

Kóre Tuti, kóre Simoâ

Kore Girgoli fika so Juan

Dentu’l kasa pórta fitxadu.

Nha genti es konfuzon e kusé?

E Juan da Krus ku Eléna

Dentu’l kasa pórta fitxadu

Nhos fla-m es konfuzon e pamodi?

E Juan da Krus ki pidi Eléna

Pa da-l un-kusinha.

Eléna fla ma e ka ta da-l,

Ma e ka ta da-l, e fla-l:

Si bu ka da-m, N ta da-bu ku faka.

N ta da-bu ku faka,

N ta da-bu ku faka

Ai si bu ka da-m, N ta da-bu ku faka

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