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Poeminha aos que vieram de fora
Cultura

Poeminha aos que vieram de fora

Lá em casa, todo o gás acabou, e o poema de Herberto Hélder é insistente e universal como o fogo que queima por dentro, quando o amor entra friamente, pelos olhos, nariz, boca e o nosso sexo de cada dia. Ao referir sobre o poeta, esses olhares pesam na última paragem e analisam-me com a mira de quem é realmente de fora e o próprio Herberto Hélder é um inesquecível Deus. Fico eu por vezes a analisar o homem de café Sofia a escrever poemas num telemóvel já fora de moda, com aqueles dedos gastos, mas, é por aquelas pontas dos dedos que chegou o tal Camões em prémio.

I

O condutor hoje é outro, e com a mesma cara, mas, virada ao contrário, talvez ele mesmo é o pseudónimo do Fernando Pessoa, nenhuma tabacaria vende a riqueza sem confundir com o dinheiro, dá o troco e a senhora peixeira entra acompanhada da amiga angústia que grita com temas falidos. Todos os presentes observam, a sua realidade nos infeta a todos. Somos deste tempo, fácil para expormos os nossos cansaços, achando-se certos quando no descanso, nos vem a razão do contrário, afoitos para teclarmos, com dedos cegos. Talvez o Barros acertou quando diz “eu não sou da era da informática, eu sou da era de invencionática”

II

Sem humildade e sem dar poder aos inabilitados que agachem na condição cada vez mais precária da modesta. A senhora corta conversa e diz ao condutor que ela é arrogante, mas competente no seu trabalho. Que humildade da senhora. Respondeu o Papa Francisco, sentado com a sua bíblia na mão, discorrendo sobre a manuseio dos demónios e carenciados, ele está no último assento de um Sol Atlântico desdentado.

Foi-se a simpatia dos dias antigos, quando falamos bem sentados, pelo solavanco, parecíamos estar num banco vazio de assento, agachados como Álvaro de Campos sem Ourique fazendo das suas e das frutas em zurrapas, por isso, gritamos em baixo-relevo. Caro poeta, acabaram os sapatinhos em casa, e os sapatos do mundo agora são os buracos para inventarem uns bebés internacional, feitos na terra de Tony Kaya. Tem riscas na camisa de couro, mas, aguentamos, só por hoje, Deus nos anda a forçar a pele de onagro, não de Honoré de Balzac, eu finalmente neste mês li debaixo da nossa pele de Arena.

II

A senhora de banheira pega no sono. Os meninos registados na Europa fazem o plano de futuro no fundo, de autocarro, penso nas férias em Mato d'ôru e Monte Carrasco, nas brincadeiras dos macacos que na sombra do ar condicionado das acácias, roubam a comida dos lavradores, apesar de Mato d'ôru ser uma rica ficção que nega o pib desta terra. Aqui, a terra torce a mão dos lavradores de conjeturas, ética e os pkp.

III

É bem provável que os meninos da terra queiram praticar altas mondas na Suíça até Lisboa, do que em Lubron di Grexa, lá Deus dorme e deixa o mundo cair: no instante que falamos acordou a peixeira que lamenta ao condutor sobre o sono e todas as utopias, lamenta que daquilo, ninguém o pode privar, direito a desejar demais, contudo não podia sentir como é difícil vender pequenos peixes no meio dos tubarões no centro da cidade.

IV

Lá em casa, todo o gás acabou, e o poema de Herberto Hélder é insistente e universal como o fogo que queima por dentro, quando o amor entra friamente, pelos olhos, nariz, boca e o nosso sexo de cada dia.

Ao referir sobre o poeta, esses olhares pesam na última paragem e analisam-me com a mira de quem é realmente de fora e o próprio Herberto Hélder é um inesquecível Deus. Fico eu por vezes a analisar o homem de café Sofia a escrever poemas num telemóvel já fora de moda, com aqueles dedos gastos, mas, é por aquelas pontas dos dedos que chegou o tal Camões em prémio.

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