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Carta aberta a Francisco Carvalho e Isaías Varela
Ponto de Vista

Carta aberta a Francisco Carvalho e Isaías Varela

Caros candidatos às eleições autárquicas nos Concelhos da Praia e S. Domingos, permitam-me na qualidade de simples eleitor nascido na Zona de Banana, S. Domingos, mas, residente na Praia Maria desde o início dos meus estudos liceais, razão pela qual o meu coração está dividido: 51% com Banana de S. Domingos e 49% com Praia Maria, pedir-vos o seguinte: Conto com os senhores na liderança das duas autarquias a partir do dia 25 de Outubro para fazerem a diferença: com perfeição e qualidade, mas acima de tudo com humildade, preocupando-vos com a barriga do povo, porque o embelezamento das ruas pedonais e praças é importante, mas de nada serve se não se preocuparem com o bem estar das crianças, dos jovens e dos velhos dos vossos municípios, afinal sako baziu ka ta sakedu kifari passea na praça.

Como estou recenseado na Praia, onde resido, e a lei me impede de dividir o meu voto entre os dois candidatos, o mesmo ficará com o Francisco na Praia e o Isaías, de S. Domingos, terá a minha solidariedade.

Caros amigos e candidatos, o voto é uma expressão genuína da democracia, mas, infelizmente, as pessoas para os quais o direcionamos, estando no poder, muitas vezes transformam-se em grandes ditadores. Neste momento, o meu pensamento vai para duas pessoas, dois deputados da nação, que me merecem consideração e respeito pelo simples facto de pensarem com as suas próprias cabeças e exteriorizarem os seus pensamentos dentro do MPD, sem medo de represálias. Refiro-me à deputada Merceia Delgado, de S. Vicente, e ao meu conterrâneo Milton Paiva, de S. Domingos. A primeira, votou contra o estatuto especial para a cidade da Praia, proposto pelo seu próprio partido, tendo sido vítima, num ato insólito na história de Cabo Verde independente, de agressão pelo seu colega de bancada dentro do hemiciclo da Assembleia Nacional; e ,o segundo, disse que não se revê no desempenho do autarca cessante do seu partido no Concelho de S. Domingos, Clemente Garcia, e que caso a cúpula lho impingisse, outra vez, como candidato, avançaria também na qualidade de candidato independente e cumpriu a promessa.

Esses dois jovens deputados, ou não sabem o que é que teria passado nos anos 90 com o MPD que pariu mais dois partidos: PRD e PCD, porque eram adolescentes, ou pensaram que, como a Direção do partido é outra, já são permitidas vozes dissonantes e a democracia interna funcionava. Puro engano! A rejeição de opiniões livres e do direito à liberdade de expressão está no ADN desse partido! Aproveito esta oportunidade para alertar esses dois ilustres deputados para prepararem as suas malas. Felizmente, são pessoas com formação que não precisam de partido para nada, mormente para a sua sobrevivência.

Caro Francisco, sei que está bem preparado assim como a sua equipa. Também que está ciente de que encontrará tarefa árdua na Cidade da Praia, pois, a câmara que vai herdar estará longe daquilo que pintam neste momento.

De entre as várias preocupações que tenho neste momento com relação à minha cidade adotiva, ressalvo apenas duas: A iluminação pública, porque temos uma cidade negra e ensombrada à noite e a segunda diz respeito àquilo que em 2016 rendeu muitos votos ao partido no poder, “a segurança urbana”. O infortúnio que aconteceu com o seu concorrente há alguns meses e que nós repudiamos e lamentamos é paradigmático.

Sei que não é atribuição direta da câmara municipal, mas o Francisco pode exercer a sua influência junto das entidades responsáveis por esses setores para dar à cidade mais luz e banir o medo nos praienses de circularem livremente, sem receio e permanentemente a olhar para trás.

Senhores candidatos do PAICV, não sei se já repararam que todos os ministérios estão encerrados, os membros do governo que sustentam a maioria das câmaras do país que passaram quatro anos a dormir, acordaram agora de um profundo sono e já não dormem nas suas residências. Neste momento, tomam o pequeno almoço na Praia (em Santiago), almoçam nos Mosteiros (na ilha do Fogo), jantam e dormem em Nova Sintra (na Brava), para no dia seguinte, almoçarem em Mindelo (em S. Vicente), jantarem em Porto Novo e vão dormir em Ponta do Sol (Santo Antão), desperdiçando fundos públicos.

Já abandonaram as suas casas e passam todo o tempo nos aviões, barcos, carros, pensões e hotéis, na tentativa de suster a canela fraco dos candidatos ventoinhas, por isso, julgo que deviam abdicar-se, pelo menos durante um mês, do gordo subsídio de renda, que sai dos bolsos dos contribuintes para oferecerem máscaras às pessoas sem recursos. Nas eleições de 2024, espero que vocês, candidatos apoiados pelo PAICV, tenham obras e pernas suficientes para se apresentarem perante o eleitorado de cara levantada e sem necessidade de bengalas de ministros ou do Presidente da Assembleia Nacional.

Ah, Francisco! Já me ia esquecendo de um pormenor! Recentemente, aconteceu, nesta cidade, um ato de barbaridade, tendo as imagens televisivas chocado meio mundo, em plena pandemia, numa altura em que o atento presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, manifestava preocupação com os sem abrigos portugueses nos becos do Rossio, em Lisboa; enquanto que, na capital do país, o autarca cessante, seu concorrente, arranjou um batalhão composto por Guardas Municipais, Polícia Nacional e Forças Armadas, repito, Forças Armadas, que segundo o seu estatuto é para a defesa Nacional, com a missão de desmantelar uma dezena de barracas metálicas e de madeira de uns pobres desafortunados e suas crianças, no Alto da Glória. Para isso, a força utilizada foi exageradamente desproporcional, mas o objetivo era passar a seguinte mensagem aos pobres: “Si nhos resiste sangui ta Korri” pois, os soldados das Forças Armadas têm como arma individual a metralhadora AKM, arma de guerra, capaz de atingir 3 (três) quilómetros. Esqueceram-se de que quem utilizar militares para massacrar o seu próprio povo, se apresentará perante os juízes do Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Amigo Francisco, não sou favorável à construção clandestina. É preciso antecipá-la com fiscais atentos, distribuir lotes a quem precisa e banir a prática de venda de centenas de hectares de terreno aos grandes empresários sem reservar uma parte para os munícipes. Por outro lado, em caso de falhanço na fiscalização por culpa da própria câmara, perante situações de ocupação ilegal de terreno, a desmantelação só deverá processar-se mediante alternativas credíveis.

Fico por aqui, não sem antes informar ao meu conterrâneo Isaías Varela, nas terras de Nho Paxinho, António Dente d,Oro, Anu Nobo, mas também, do meu antigo companheiro de armas, o grande Pascoal de Nha Bebé, cidadãos que orgulham o nosso Concelho, que tínhamos um grupo de apoio às pessoas carenciadas em Mendes Faleiro - Banana, criado desde 1992.

Que foi esse grupo que criou o 1º jardim infantil de Banana, que o equipou, disponibilizando refeições às crianças, pagando a renda do imóvel e o salário da monitora, durante vários anos, até que a Câmara de S, Domingos, chefiada pelo antigo autarca Engenheiro Fernando Jorge, veio a assumir o Jardim. Esse grupo organizava festas de Natal para os idosos, campanhas de limpeza, embelezamento do local de culto nas festas de romaria e distribuía materiais escolares aos estudantes do ensino básico, nesta localidade.

Uma outra iniciativa nossa foi o próprio Polidesportivo local “Silvério Brito”, nome escolhido em homenagem póstuma a um dos membros do grupo, a quem calhou a tarefa de ir negociar o terreno e fazer a ligação com a câmara do ex-edil Engenheiro Fernando Jorge, justiça seja feita, um autarca humilde e dialogante.

Como vê, já fomos colaborantes e estamos dispostos a reativar o grupo para colaborar com a sua equipa para o bem da nossa localidade e de S. Domingos.

Se me permitem, mesmo para terminar, porque as eleições legislativas já estão à porta, deixo o meu sentido de voto para as legislativas: não votarei num partido cujo líder, enquanto Primeiro-Ministro não condena de forma veemente a agressão a uma deputada do seu partido por um outro deputado do mesmo partido em plena Assembleia Nacional, pelo simples facto de votar um diploma do governo de acordo com a sua consciência.

O meu voto não vai para um partido que o seu líder e chefe do governo permite transferência compulsiva de médicos que exercem a sua liberdade de expressão, em defesa da saúde pública, dos funcionários e pacientes, ao posicionarem-se contra a instalação de uma incineradora para a queima de lixo hospitalar, próximo do seu local de serviço.

Jamais votarei num partido que o seu presidente e Primeiro-Ministro permite que seja levantado um processo disciplinar a um Agente dos serviços prisionais, por este ter respondido legalmente a uma chamada do Parlamento para audição, a fim de prestar informações sobre as condições da Cadeia Central da Praia e por ter sido franco ao revelar as fragilidades ali existentes.

É por este e outros motivos, que deixei de comemorar o 13 de janeiro como dia da liberdade e democracia por ser uma falácia.

O meu voto não será para o partido cujo chefe do governo não respeita a liberdade sindical e que manda punir com multas, suspensões e reforma compulsiva, agentes e oficiais da Polícia Nacional, pelo facto de exercerem um direito Constitucional, o de manifestar, para exigir melhores condições laborais.

Um partido liderado por um Primeiro-Ministro que permite que o seu Ministro da Administração Interna, demite das suas funções e passa à reforma antecipada, por birra e ódio, sem processo disciplinar, o Intendente da PN Manuel António Alves, um Oficial com 35 (trinta e cinco) anos de serviço relevante prestado ao Estado de Cabo Verde, que até a data da entrada desse insensível ministro, era tido como competente, trabalhador, honesto, dando sempre conta do recado nas diversas funções que desempenhou, não terá nunca o meu voto!

O meu voto não vai para o partido cujo líder, enquanto Primeiro-Ministro, fica apático perante um ato de atrocidade perpetrado por um agente da polícia, em pleno aeroporto internacional da capital do país, contra um ilustre advogado, que já foi membro do governo e do seu partido, fragilizado pela doença, já na sala de embarque para ir fazer tratamento médico no exterior. Ato de agressão corroborado e legitimado publicamente pelo homem de sempre, o insensível, o visionário combatente de crimes e de insegurança urbana, Paulo, Ministro da Administração Interna.

Seria um desperdício de tempo votar num partido cujo governo, depois de 4 anos de mandato, apresenta resultado negativo nas principais áreas sociais, segurança, saúde, educação e emprego.

Agora, sim, é mesmo final! Auguro-vos um bom mandato, sem maldade, sem fla audiênsia sta suspenso, concentrados no combate à pobreza de mãos dadas de Ribeirão de Cal, em S. Domingos, a Palmarejo Grande, na Praia, com uma aposta final:

As câmaras da Praia e S. Domingos estão passar a ideia de terem situação financeira estável, com dinheiro que nunca mais acaba, mas, vocês vão encontrar os cofres vazios e avultadas dívidas por pagar.

Se eu estiver errado, prestarei à Camara de S. Domingos 10 dias de trabalho voluntário, como cantoneiro, para limpar a estrada de Nora e de Chaminé, começando a partir da estrada de Colégio; à Camara da Praia, também darei 10 dias de trabalho voluntário, para desassorear o Estádio da Várzea que daria uma grande barragem.

Praia 19 de outubro de 2020

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Redação