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Cabo Verde. Da deficiência à autosuficiência alimentar!
Colunista

Cabo Verde. Da deficiência à autosuficiência alimentar!

Trazer a deficiência física humana, como mote de reflexão, é propositado, carrega o maior respeito e cumpre o objectivo de tocar, ainda mais, a sensibilidade do Cabo-verdiano na sua solidariedade ao irmão, mas, também uma forma simples de render tributo a estes valentes e activos cidadãos que vencem a cada dia limitações e obstáculos no propósito de viver e serem felizes.

Hoje, diante de ameaças, cada vez mais desafiadoras, e com muito tacto, estamos convidados a colocar, em jeito de reflexão, a seguinte questão ao país,: Se a deficiência física é a incapacidade motora de realizar de forma autónomo nossas actividades e cumprir assim nossos objectivos, seria exagerado dizer que todos nós Cabo-verdianos residentes no território Nacional, somos pessoas com deficiência? Acredito que não e vamos ver porquê?

Partindo da informação oficial do Banco de Cabo Verde de que o país importa 90% de suas necessidades, assumimos automáticamento o elemento “incapacidade de realização autónoma de nossas actividades...”, pois, apenas somos autónomos em 10%, o que aplicando à comparação com a deficiência física, apenas temos 10% do corpo – naturalmente, a cabeça que nos permite pensar e os restantes orgãos vitais que nos permitem respirar, alimentar, evacuar e assim mantermos-nos vivos.

Entretanto, vamos considerar que temos lidado, muito bem, com a nossa incapacidade ou deficiência, pois, foi com ela é que consiguimos conquistar tudo o que até hoje somos e temos com ela, também, mobilizado o respeito, a solidariedade e o engajamento da comunidade internacional e do povo das ilhas face aos nossos desafios desde os primórdios das fomes, as revoltas contra as ameaças extremas aos direitos humanos, desembocando na manifestação da nossa valentia reveladas nas revoltas de Santiago, Eugénio Tavares, São Tomé e Principe, capitão Ambrósio, até ao manifesto de Cabral, o processo de luta pela independência, Tarrafal, a afirmação da nossa identidade cultural, , a formação de uma classe de intelectuais, Claridade e seus movimentos dirivados, a nossa emigração, os anos difíceis após 5 de Julho de 1975, a construção da nossa diplomacia, a definição de políticas sociais, ambientais, económicas e legais reais, o ajuste continuo à conjuntura internacional, até à alternância de sistema político multipartidário e parlamentar funcional, servindo de exemplo e visto como modelo a seguir. Eis um percurso glorioso, de uma Nação-Estado que podia muito bem ser inviável e teria razões mil para se justificar. No entanto, escolheu a guerra contra a natureza, fez dela sua parceira e venceu.

Sim, venceu!

Com um território montanhoso e relevo accidentado, ventos alízios com carácter dessecantes e accão erosiva, planícies desérticas, com níveis médios anuais de pluviometria entre os 100 -250 mm, raramente, chega aos 300 mm. Portanto, comparativamente deficiente para a produção agroalimentar, pelo que se compreende perfeitamente nosso grau de dependência do exterior.

Nos últimos vinte anos, temos aprofundado o exercício de pôr nossos desafios a jogar a nosso favor, tendo surgido de forma oportuna e inteligente, a expressão técnica e espiritual “RESILIENCIA”, sendo, não mais do que o sistema de atributos e habilidades inatas que nos permitem enfrentar e vencer adequadamente situações adversas. Ou seja estamos aprendendo a produzir nossas própria as próteses para combater a deficiência. Parabéns Cabo Verde!

No meio da dificuldade encontra-se a oportunidadeAlbert Einstein.

Segundo os dados da Direção geral do Plano/MDR, a ajuda alimentar, em 1986, foi de 1 065 580$00, para em 1987/88, reduzir para 700 000$00 e em 1991 atinge o valor de 600 000$00, enquanto a população crescia em torno de 10%/ano. Estes indicadores, mostraram ao Estado que devia iniciar um processo de incremento da produção nacional e preparar-se para a introdução de medidas alternativas de sua massificação com reformas a alterar o sistema da agricultura convencional de subsistência, para uma visão e cultura de produção agropecuária sustentavel e autosuficiente. Eis o desafio e as medidas que a conjuntura e os dados que o país dispunha, nos convidavam a colocar na mesa, para que hoje, estivessemos a falar de autonomia de produção de carne, ovos, lacticineos, tuberculos, hortaliças e frutas tropicais, inspirando-nos em empresas nacionais Estatais como a ENAVI, FAP, JUSTINO LOPES, PESCAVE e INTERBASE.

No entanto, nunca é tarde! O pais já tomou a consciência que o COVID, acabou por desestabilizar todos os planos e colocar a gestão do orçamento do Estado em causa. O Governo da Républica, seus parceiros internacionais e todo o sistema do Estado, terá que restruturar-se para enfrentar a retoma da normalidade económica e social. Não será facil, certamente. Porém, mais dificil, ainda, será o porvir, se voltarmos a adiar o projecto de reconversão de nossa agricultura, ou seja, a aposta em centrais de desanilização para transformar os 10% de terreno arável do pais em perímetros irrigados.

Igualmente, o pais, precisa com urgência, reformular sua política de Pesca e a relação com os recursos do mar, reforçar as capacidades dos operadores nacional e trazê-los para o palco dos processos de preparação e negociação dos acordos internacionais de pesca, seria um ganho para o processo de autonomia de segurança alimentar, potencialização do emprego no sector marítimo e moralização da classe.

Hoje, nenhum Caboverdiano lúcido, deseja a seu filho o destino de ser pescador, porque não tem valor, enquanto o estrangeiro que vem pescar aos nossos mares aufere salários milionários. E porque não nós, se o recurso é nosso?

São questões que soam serem infantis, elementares ou simplesmente básicas, mas, que os adultos ainda não sabem ou não querem responder! Gabarmos de ser livres, só quando consiguirmos equilibrar nossa produção, não apenas em função de nossa reserva nos bancos, pois, o COVID veio nos dizer que “dinheiro não come”, serve apenas de meio de aquisição. Quando houver o que comprar!

Cabo Verde, produzir alimento para todos é um processo e uma ordem, vamos começar!

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Redação