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A Verdade sobre Catchás
Cultura

A Verdade sobre Catchás

Prometemos escrever este artigo sobre o grande músico e inovador da música cabo-verdiana, “Catchás”, de seu verdadeiro nome Carlos Alberto Martins, nascido a oito (8) de Agosto de 1951 no concelho de Santa Cruz.

Com efeito, temos muitos pontos em comum:

Tivemos o mesmo professor de guitarra (violão), e queremos saudar aqui, João Filipe, capataz agricola que trabalhava em Santa Cruz, e hospedava na casa dos pais dele.

Fomos contemporâneos e dignos alunos do Liceu Adriano Moreira, hoje Liceu Domingos Ramos, onde lhe foi posto o nome de “Catchás”.
Convivemos intensamente na Europa, com um percurso paralelo e semelhante:
Combatemos o fascismo Salazarista em Portugal, e de lá saímos ambos de “SALTO”, ele para França, nós para Bélgica, onde obtivemos o estatuto de “Refugiado Político”.

Ele a trabalhar em Paris, nós estudante de Medicina na Bélgica na Universidade Católica de Lovaina. Encontravamo-nos cada fim de semana em Paris, onde demos um impulso na criação da primeira Associação Cabo-verdiana em Paris (França), situada na Rua de Flandres, juntamente com o também já falecido Moisés Baptista, organista; ele “Catchás” tocando viola baixo, e nós viola solo, e Eugénio de Nhô Cesar, bateria. Pois demos vários concertos (bailes), de solidariedade para angariação de fundos para a subsistência da associação.

Ora, decidimos escrever este artigo, como título diz “A Verdade sobre Catchás”, pois vamos revelar alguns aspectos da vida dele que o público, em geral, ignora (até porque falamos com José Augusto Timas (ex-baterista de Bulimundo, e Zeca Nha Reinalda, que partilharam grande parte da sua vida no mítico grupo “Bulimundo”, que ficaram estupefatos com o que lhes revelamos a propósito de “Catchás”. Com efeito para celebrar a data do seu aniversário natalício, que é 08 de Agosto, Eder Xavier, apresentador da TCV, do programa Show da Manhã, fez-lhe um grande elogio, justificadíssimo.

No dia seguinte, tivemos uma conversa telefónica, onde lhe perguntamos por que só tinha feito esta justa homenagem ao “Catchás” (08 de Agosto), e não fez nenhuma alusão a “Secrê”, carismático vocalista da Banda “Os Apolos”, cuja data de aniversário natalício é 09 de Agosto, isto é, no dia seguinte a data de nascimento de “Catchás”. Não podemos aprofundar a questão, pois ele estava com problemas familiares pessoais, e a nossa conversa ficou por ali, e tivemos de lhe pedir desculpas pelo incomôdo, até oferecemos-lhe os nossos préstimos médicos, se assim ele o desejasse. Mas para quem desconhece o teor desta conversa, interpretou que quisemos fazer uma comparação entre “Catchás” e “Secrê”, vocalista de “Os Apolos” e reagir, criticando-nos negativamente, como se se tratasse de uma blasfémia.

Esperamos que com este esclarecimento que vamos fazer, que se compreenda de uma vez por todas, que não houve nenhuma comparação entre as duas celebridades, mas sim, uma simples constatação de factos, aliás nunca foi intenção nossa de fazer uma tal comparação despropositada, mas agora dizemos, que se o tivéssemos feito, não haveria nada de escandaloso, e desafiamos quem não estiver de acordo para um debate sobre este assunto. Dito isto, achamos que neste artigo já não há mais espaço para este assunto, pois o tema é a Verdade sobre “Catchás”, e vamos retomá-lo.

Em verdade, “Catchás” não foi guitarista de raiz, mas sim viola baixo. Mas em Lisboa, teve um grande impulso como guitarista, por ter frequentado o grande mestre Luis Rendal. Ele foi viola baixo da banda do ilustre mestre, durante ± três anos, e como ele era inteligente, aproveitou muito bem dos ensinamentos e do convívio com este grande mestre durante esse tempo todo. Eis a primeira verdade sobre “Catchás”. Em segundo lugar, já em Paris, ele já tinha no pensamento criar uma banda com os mesmos princípios que Bulimundo, mais tarde; nesse sentido, fundou a banda “Broda”, que foi um fiasco total, mas tirou consequências desta experiência negativa, para assegurar o enorme sucesso de Bulimundo.

Como nós tocávamos juntos nos fins de semana, em Paris, fomos convidados para fazer parte da Banda, mas recusamos, porque como estudante de Medicina na Bélgica, não era possível participar activamente por falta de tempo, e a experiência desta banda não durou muito tempo, porque com a gravação de um único disco, de péssima qualidade e que não foi bem aceite no público, obrigou “Catchás” a acabar com esta malograda experiência. Estamos convencidos (opinião nossa), que isto não resultou, porque ele não teve a sorte de encontrar músicos de qualidade, o que provavelmente contribuiu para o fiasco desta iniciativa.

Agora, para terminar, vamos fazer uma verdadeira comparação, ou melhor, um certo paralelismo entre a banda Voz di Cabo Verde (VCV) e Bulimundo:

Se um dos grandes méritos de VCV, para além de os elementos da Banda serem excelentes músicos, foi a introdução de instrumentos electrónicos na morna e coladeira, o que foi uma grande revolução; ora, “Catchás”, com Bulimundo, trouxe Funaná ao grande público, com a ajuda de instrumentos electrónicos, o que também constituiu uma grande revolução.

Antes de terminar este artigo, queríamos falar um pouco da Morte trágica que pós fim precocemente a Carlos Alberto Martins (Catchás), acusando a segurança do nosso país, segundo testemunho dos factos. Aparentemente, Catchás tinha um encontro, e quando se dirigia, com alguns amigos, para o local do encontro, foi alertado que a casa dele estava sendo assaltada. Imediatamente, dirigiu-se para lá para verificar se tudo estava em ordem. Chegando a casa, deixou os amigos no salão a degustar uma garrafa de Whisky, enquanto ele fazia vistoria da sua habitação. Quando acabou de inspecionar, veio juntar-se aos amigos, dizendo-lhes para se despacharem porque, já estavam atrasados. Em seguida, foi o trágico acidente!

Que Deus proteja, nosso grande Catchás onde quer que ele estiver!

Praia, 20 de Agosto de 2020

* Nome artístico do Doutor José Manuel Fragoso
Médico Cirurgião Senior no Hospital Agostinho Neto

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SOBRE O AUTOR

Redação