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Delaman Silva: Um empresário que cria soluções tecnológicas para as empresas
Entrevista

Delaman Silva: Um empresário que cria soluções tecnológicas para as empresas

A compaixão com a dor da mãe de perder um filho, estudante de engenharia informática, empurrou-o para o mundo das Tecnologias de Informação. Cumpriu a promessa de seguir os estudos na área de informática e hoje é full stack web developer (desenvolvedor Full Stack) e grande empresário do ramo em Portugal. Santiago Magazine, apresenta-vos Delaman Silva, um crioulo-sucesso natural da localidade de Achada Fazenda (Concelho de Santa Cruz), dono da Delaman.Net, uma empresa de desenvolvimento de aplicações softwares com presença em Portugal, Cabo Verde, Angola e Estados Unidos da América e ainda sócio consultor de Afrikbeat, que oferece serviço de live-streaming em várias partes do mundo.

Santiago Magazine: Como descreve Delaman Silva?

Delaman Silva: Sou acima de tudo uma pessoa muito positiva. O meu nome Delaman ajudou-me a ser assim pois ainda acredito que vou conhecer outro Delaman por aí. Acredito que tudo vai dar certo mesmo estando “debaixo de fogo”. A minha infância e adolescência foi dividida entre Achada Fazenda, onde nasci, no concelho de Santa Cruz, e cidade da Praia. Estudei desde os meus 10 anos no liceu Domingos Ramos até aos 17 anos, altura em que vim para Portugal seguir estudos universitários. Sou apaixonado pela escrita, componho, gosto de tocar guitarra, cantar e sou um pai galinha.

É full stack web developer, uma profissão cujo nome é pouco comum. De uma forma bem simples, explica aos nossos leitores o que faz um desenvolvedor full stack. Que tipos de projetos ele realiza?

Normalmente a construção de uma aplicação WEB passa por várias fazes. Análise de requisitos, prototipagem, design, produção de html, até chegar a um programador, para dar vida ao que foi planeado. Por norma estas tarefas são feitas por pessoas diferentes. Portando, um full stack é o programador capaz de executar todas tecnologias que podem ser usadas para desenvolver aplicações, desde configurar o servidor, base de dados, produção de html/css/js, bem como o desenvolvimento de toda a lógica de negócio, dando assim vida ao sistema. Faço acima de tudo aplicações WEB desenhadas à medida: e-commerce, sites institucionais, jornais online, ferramentas para gestão interna de empresas, serviços de e-mail e alojamento web.

Como e quando se interessou por esta área?

É uma história de amor e ódio. Nunca foi do meu interesse fazer informática. Desde que me lembro em criança, sempre quis ajudar os outros. Achava que o caminho era fazer Direito, a Advocacia. Entretanto em 1998, o meu irmão Arlindo Monteiro Silva foi assassinado no Brasil, onde estudava Engenharia Informática. Tinha eu 13 anos. Lembro-me da minha mãe a chorar todos os dias e com muita mágoa. Chorava dizendo “djês lebam nha engenheiro, djês lebam nha engenheiro”. Sem saber o que fazer, ou dizer para consolar a minha mãe, eu disse-lhe um dia, que ia fazer informática, que ia ser “informático”. Hoje vivo da informática. Escolhi a WEB por ser a escolha mais natural, um mercado em total crescimento e global.

Uma história triste, mas inspiradora…

É como eu disse de amor e ódio. A dor da minha mãe me levou a isso, me inspirou.

E hoje é dono da empresa Delaman.net…

Trabalhei durante 14 anos numa grande empresa em Portugal, a WayNext, onde ainda sou fornecedor de serviços.  Decidi em 2019 abraçar e seguir uma carreira independente para conseguir materializar outras ideias. Assim, nasceu a DELAMAN – Soluções WEB. Apoiámos as empresas na Transformação Digital nos setores da Indústria, Turismo, Retalho, Construção e Engenharia Civil. Fazemos outsourcing para empresas que precisam de contratar pontualmente um programador, aplicações web, serviços de e-mail e alojamento web, e-coomerce, e temos uma equipa de marketing digital no Brasil que trabalha em parceria connosco.

A Deleman.net trabalha ou trabalhou com quantas empresas cabo-verdianas e estrangeiras?

Neste momento tenho dois projetos ambiciosos em Cabo Verde. Com o vosso jornal, o Santiago Magazine, queremos ser o maior portal de notícias online de Cabo Verde. Também estou a trabalhar com uma empresa em Santo Antão que é a Cova Trekking. Uma empresa jovem, com muita ambição e potencial no que diz respeito a serviços de guia turística para o país. Trabalho também com uma empresa angolana, do Grupo Singil, especializada em venda de petróleo e os seus derivados. Nos Estados Unidos, sou sócio e consultor/programador da Afrikbeat, uma sociedade composta por diversas pessoas ligadas à indústria musical. Uma das coisas que me deixa com mais orgulho naquilo que faço, são dezenas de empresários cabo-verdianos em Portugal que confiam no nosso trabalho e apostam em nós para darmos vida às suas ideias e gerar assim valores e melhorando os seus negócios. Empresas como a Fluxitubos - Condução de fluídos de carácter industrial, isolamento térmico e forra mecânica; Code Print, que trabalha com personalizações de qualquer tipo de produtos; Brizah Facility Services que fornece serviços de limpeza geral; Mobichic que trabalha com aluguer de mobiliário para festas. Mais recentemente começamos a trabalhar com um grupo de jovens empresários, que também são imigrantes, num dos projetos mais bem pensados para apoiar quem quer viver em Portugal e ser um cidadão de plenos direitos. Estou a falar de Take Flight Migrantes - Recomendações e Aconselhamento Jurídico para Migrante. Lembrem-se deste nome, vão lá seguir no Facebook pois eles têm as informações todas para quem quer viajar e viver em Portugal de forma legal. São mestres no assunto. Poderia estar aqui a falar o dia inteiro de cada uma dessas empresas, pois são a prova de que nós os crioulos também conseguimos ser empreendedores de sucesso fora de Cabo Verde Aproveito para deixar aqui uma palavra de apreço e agradecer a esses empresários.

O significa para si ter presença em diferentes países, inclusive Estados Unidos da América?

Desafiante. Saber que tenho por vezes que ficar acordado até mais tarde para conseguir fazer uma reunião com responsáveis que estão nos Estados Unidos por causa da diferença do fuso horário é desafiante e ao mesmo tempo motivador.

A Gestifly foi desenvolvida para dar respostas às empresas com quem trabalha?

GESTIFLY é um software de tratamento de informações financeiras. Nasceu de uma necessidade pontual de uma das empresas que colabora comigo, e acabou por se transformar num software como serviço. Para todos que trabalham com orçamentos, este software serve como um caderno de anotações online, onde consegue em apenas alguns cliques saber se um determinado projeto está em lucro ou prejuízo. Também consegue tirar o mapa salarial dos diferentes colaboradores, saber a previsão dos pagamentos e recebimentos, estimativas do IVA a pagar entre outras funcionalidades. Fiz um programa de aceleração na StartUP Sintra, que é uma incubadora de empresas, onde aprendi muito. Ali respira-se conhecimento. O protótipo foi desenvolvido na Startup Sintra e o resultado final está aí. Muito código e muito amor.

Disse também sócio e consultor na empresa Afrikbeat? Que tipo de serviço ela oferece?

A Afrikbeat é uma empresa que opera como um grande ecrã para os artistas, onde fazemos transmissão de espetáculos ao vivo via Internet. Sou o responsável pelos serviços de e-mail, website institucional do grupo, e-commerce e consultor técnico do grupo.

Como e quando surgiu a ideia de oferecer um serviço de live-streaming? Há quanto tempo a Afrikbeat está no mercado e trabalha com empresas e serviços de quantos países?

A Afrikbeat já está a operar há alguns anos, mas eu entrei como sócio há cerca de 2 anos. A pandemia, veio reforçar que a Afrikbeat estava certa, de que temos que ter a possibilidade de ver e ouvir um espetáculo ao vivo em qualquer parte do mundo no conforto do nosso lar. O resultado está à vista de todos. As lives-streaming estão a dominar o mercado e não queremos ficar para trás.

Por falar em pandemia, ela dificultou a vida de muitos profissionais e empresas a nível mundial. Muitos dizem que o setor de TI continua de muito boa saúde. Confirma-se?

Também sofremos quebras. Empresas que tinham dinheiro para investir no digital investiram, mas aqueles cujos negócios foram afetados deixaram de investir. Mas num modo geral surgiram muitas oportunidades novas, porque o caminho é a transformação digital. Devemos aprender com esta pandemia e criar um modelo de negócio em que o digital estará incluído desde o início.

Acha que o distanciamento social obrigou as empresas a investirem mais nas Tecnologias e Inovações?

Sem dúvida. Nos dias de hoje é impensável uma loja não vender porque tem a sua porta física fechada, sendo que há uma outra porta aberta para o mundo, que é a internet, o comércio eletrónico. Muitas empresas, ainda que um pouco tarde, conseguiram enxergar que há esta porta aberta para o mundo. E não vão parar.

A pandemia também acelerou um pouco as inovações e tecnologias para áreas como a saúde, por exemplo. Aliás muitas inovações tecnológicas nasceram em função da Covid-19. Isso quer dizer que, num momento como esse, a TI foi forçada também a inovar-se para apresentar ao mercado novas soluções?

O rapper cabo-verdiano, Edyoung Lennon, disse: “na bu maior obstáculo pode sta bu maior salto”. Nós, seres humanos, temos esta capacidade de nos superar quando a adversidade nos obriga. Foi assim durante toda a nossa existência. Em relação às inovações tecnológicas voltadas para a Saúde, um tema muito sensível, foi preciso esta pandemia para forçar a entrada de algumas tecnologias.

Disse também que logo cedo trabalhou como programador e gestor de negócio. Isso aconteceu enquanto estudava? Explica-nos o que efetivamente fazia na época enquanto programador e gestor de negócio?

Enquanto estudava, surgiu uma possibilidade de trabalhar como programador e com o passar dos meses criei um laço de amizade com o dono da empresa. Numa das nossas conversas levantamos a possibilidade de apresentar ao mercado cabo-verdiano algumas empresas portuguesas no ramo de tecnologia. Assim comecei como gestor de negócio. O meu papel e de um outro colega também de Cabo Verde, o Kevin Martins, era de promover essa ligação. Tínhamos que criar uma agenda de reuniões de negócios entre as empresas. Assim, conseguimos levar a Wavecom que, salvo erro, ainda esta a operar no nosso país, o Hospital de Castelo Branco também levou uma comitiva, entre outras empresas. Viajamos para Cabo Verde numa comitiva com dezenas de pessoas. Uma passagem que lembro com nostalgia é ouvir aqueles empresários a dizerem que querem conhecer Cabo Verde tal como é. Não quiseram se hospedar em hotéis e preferiram alugar apartamentos em Achada Santo António. Fomos almoçar no mercado de Sucupira e levamos alguns deles para dançar Kizomba num bar na zona da Fazenda. Foi lindo ver tanta simplicidade.

A experiência de ser um elo de ligação entre empresários deu aquele empurrão que precisava para o empreendedorismo e o empresariado?

Sem dúvida. Criar conexões, melhorar a vida de famílias, empresas, negócios é algo que faço com naturalidade. Com muito gosto.

Com base na sua própria experiência e conhecendo a fundo o mundo do setor de TI, que conselho daria para um jovem que ainda está em dúvida se deve seguir esta área?

Que invistam em conhecimento tecnológico. Que utilizem a Internet a seu favor para o autoconhecimento, pois o custo de se tornar bem-sucedido é muito baixo. Basta uma ideia, um portátil e muita coragem. E por favor, não escutem quando algumas pessoas dizem: “esta ideia já existe, não perca o teu tempo”. Há centenas de marcas de carros e todos vendem. Por isso, pode haver software “parecido” e vai vender também. Basta trazer um diferencial e um bom posicionamento no mercado. A probabilidade de vencer é muito alto, quer como trabalhador por conta de outrem quer como empresário ou como freelancer.

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