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As diatribes do politico-empresário Jacinto Santos
Entrelinhas

As diatribes do politico-empresário Jacinto Santos

...para qualquer observador minimamente atento, aquilo que vem se passando no país, não deixa de ser estranho e mesmo intrigante, este toque de reunir dos “democratas” de pacotilha para, a viva força, fazer com que todas as instituições políticas do país, nomeadamente os órgãos de soberania (Governo, Parlamento e Presidência da República) não fujam ao controlo do MpD e dos seus aliados. Também não é difícil de adivinhar o que estará por detrás desta tentativa desesperada e insana de impedir que alguém de outro quadrante político compartilhe o poder com o Governo eleito a 18 de abril passado. Esta tentativa de monopolizar e controlar os órgãos de decisão do país, pode ter a sua explicação nos acontecimentos mais recentes, nomeadamente os escândalos que vieram à tona e que dão conta de alegados casos de corrupção e de não justiça, revelados por diversas personalidades e instituições, não só e em Cabo Verde e até para além das nossas fronteiras. A este propósito, convém fazer referência a certos relatórios, divulgados nos últimos tempos e que deixam Cabo Verde muito mal na fotografia, em relação a temas como o combate à corrupção, branqueamento de capitais e outras práticas nada abonatórias para um país que, num passado não muito distante, granjeou o respeito e a admiração dos seus principais parceiros e da comunidade internacional, em geral.

O país tem vindo a assistir nos últimos dias a um episodio, no mínimo inusitado e patético, protagonizado pelo   conhecido politico-empresário Jacinto Santos, na tentativa de minimizar a gravidade de um seu escrito de há 23 anos, em que colocava de rastos o desempenho e as arbitrariedades praticadas pelo então líder do MpD e Primeiro-ministro, Carlos Veiga a quem agora passou a ter o seu apoio incondicional e indefectível na corrida para a Presidência da República.

De acordo com os spots  que JS vem publicado repetidamente no facebook e outras publicações afectas à candidatura do agora rebatizado Kalu (como se deve pronunciar este nome  em bom português?) aquilo que escreveu nessa altura, dizendo cobras e lagartos e do priorou sobre a governação do então chefe  do partido de que ele foi um dos fundadores, hoje já não tem valor e   nada significa no actual contexto politico nacional que vai culminar com as eleições para a escolha do sucessor de Jorge Carlos Fonseca na chefia do Estado cabo-verdiano.     

Vindo de uma pessoa tida como um homem com um certo traquejo e protagonismo nos acontecimentos políticos que marcaram Cabo Verde desde a sua  independência e  até os dias de hoje  (embora ele tenha dito repetidas vezes que abandou a politica activa para se dedicar aos negócios), não deixa de ser estranho e mesmo incompreensível esta tentativa tosca e canhestra de  JS de apagar da memória dos cabo-verdianos um dos episódios  mais marcantes da historia recente da politica cabo-verdiana da  pós- abertura politica e da  instauração da democracia no país,  e que foi, sem duvida a segunda cisão no seio do MpD e que se traduziu culminou na criação dos nados mortos, PCD, liderado pelo actual embaixador politico em Portugal, Eurico Monteiro, também apoiante do outrora desafecto Carlos Veiga, e do PRD, sob o comando precisamente do JS.

Segundo o jornal Asemana nº 453, de 12.05.2000, aquando da segunda cisão do MpD que daria origem ao Partido de Renovação Democrática (PRD), Jacinto Santos, adversário de Gualberto do Rosário na corrida à liderança dos ventoinhas, numa assembleia de militantes no Cine Teatro da Praia, realizada no dia 6 de Maio de 2000, desferiu um violento ataque a Carlos Veiga, então Presidente do Partido, acusando-o de proteger Gualberto e chamando-o de “Maior perturbador e menino mimado do MpD”.

O Jornal Asemana relata o facto, na página 2, nos seguintes termos: “Com um discurso inflamado, o candidato a líder do MpD deu mote desta sua cruzada, desferindo a Veiga as mais duras críticas da trajectória política do ainda líder do MpD.” “Quem mais perturba o MpD nos últimos tempos é Carlos Veiga. Mas temos de dizer a Carlos Veiga hoje que já basta; basta de menino mimado dentro do MpD”, sublinhou Santos debaixo de forte salva de palmas. Para Jacinto Santos, a crise por que passa o MpD é consequência da forma autocrática como Veiga tem dirigido o partido e o governo. “Desde o momento em que ele entendeu nomear um vice-primeiro-ministro à força, fê-lo dentro da estratégia deles dois para continuarem a mandar no MpD e em Cabo Verde. Quem mais perturba o MpD nos últimos tempos é Carlos Veiga. É o maior perturbador do MpD nos últimos tempos”.

Por esta e por outras que o argumento do JS, nesta tentativa de branquear a  tirania (como ele escrevia) de Carlos Veiga enquanto líder partidário e primeiro  responsável pela governação na época, é, no mínimo, estranho e sobretudo integrante, uma vez que entre muitas e graves acusações que ele fazia na carta enviada ao então Presidente da Assembleia Nacional, António Espirito Santos, também co-fundador do PRD,  o signatário chegava ao ponto de acusar o seu agora candidato  de usar os próprios bens do Estado em favor dos seus próximos, o que à luz da legislação cabo-verdiana, e não só, constitui um acto reprovável, para não dizer criminoso  que, no mínimo, devia merecer, na altura, a devida atenção por parte das autoridades judiciais competentes, o que efectivamente não aconteceu, sabe-se lá porquê.

Mais justifica JS que a sua mudança radical de atitude e pensamento em relação à pessoa de Carlos Veiga tem a ver com a necessidade de unir à volta do candidato Kálu, a família dos “democratas” dos princípios dos anos 90, unidade que foi fortemente abalada pelas duas cisões no seio do MpD (com o surgimento primeiro do PCD e depois do PRD) e que tiveram como principal responsável nem mais nem menos que o próprio Carlos Veiga.

Ou seja, em Cabo Verde, mesmo depois das mudanças politicas que tiveram o seu apogeu com as eleições pluralistas de 13 janeiro de 1991, os “democratas’ ainda são só e apenas aquelas pessoas que gravitam à volta do MpD e que disso retiram proveitos, obtidos quase sempre de forma escandalosa e manifestamente ilegal, em detrimento de outras pessoas que não rezam pela mesma cartilha.

Os exemplos daquilo que afirmamos são múltiplos e podem ser facilmente comprovados, até porque alguns deles são públicos e notórios.

Creio que em Cabo Verde, ninguém minimamente informado e que não tem a memória curta, estará esquecido de que foi o próprio MpD a inscrever no seu programa eleitoral que um dos objetivos para se perpetuar no poder era e é pôr de pé uma classe empresarial próxima do partido, antes “rabentola”, um slogan inventado pelo próprio JS, e depois “ventoinha”, quando os ventos começaram a mudar no seio dessa família política, com as cisões provocadas pelas atitudes, consideradas, entre outros,  pelo então ministro e actual embaixador político de Cabo Verde nos EUA, José Luís Livramento, como “dilatórias” e que em nada ficavam a dever ao protagonista-mor da ditadura e do fascismo em Portugal, António de Oliveira Salazar.

Com é evidente, esta estratégia teve resultados concretos, traduzidos, nomeadamente,  no surgimentos, em tempo recorde, de alguns novos-ricos que se julgam agora, como dizem os brasileiros “os donos do pedaço”, enquanto a esmagadora maioria da população vem fazendo uma luta tenaz para sobreviver com as migalhas que sobram da ganância daqueles que acham que se deram bem e que nem sequer têm o pejo de exibir e ostentar publicamente as suas riquezas  e as suas performances empresariais, nomeadamente a aquisição de prédios  “riba Praia”, o centro histórico da capital hoje conhecido por Platô, bem como outros imóveis e valiosos propriedades espalhados pelo país.

Pelo meio, os poderosos vão distribuindo algumas benesses pelas suas tropas de choque, mais conhecidos por “conselheiros populares”,  tidos com exemplos de “democratas”, muitos dos quais auferem chorudas reformas e pensões que, nalguns casos, são até superiores aos atribuídos a quadros dirigentes da Função Publica, e não só, que depois da independência nacional, a 5 de julho, dedicaram-se de alma e coração à causa da Reconstrução Nacional, sujeitando-se a inúmeros sacríficos e privações, na criação dos alicerces daquilo que é hoje o Estado de Cabo Verde.

No entanto, para qualquer observador minimamente atento, aquilo que vem se passando no país, não deixa de ser estranho e mesmo intrigante, este toque de reunir dos “democratas” de pacotilha para, a viva força, fazer com que todas as instituições políticas do país, nomeadamente os órgãos de soberania (Governo, Parlamento e Presidência da República) não fujam ao controlo do MpD e dos seus aliados. Também não é difícil de adivinhar o que estará por detrás desta tentativa desesperada e insana de impedir que alguém de outro quadrante político compartilhe o poder com o Governo eleito a 18 de abril passado. Esta tentativa de monopolizar e controlar os órgãos de decisão do país, pode ter a sua explicação nos acontecimentos mais recentes, nomeadamente os escândalos que vieram à tona e que dão conta de alegados casos de corrupção e de não justiça, revelados por diversas personalidades e instituições, não só e em Cabo Verde e até para além das nossas fronteiras. A este propósito, convém fazer referência a certos relatórios, divulgados nos últimos tempos e que deixam Cabo Verde muito mal na fotografia, em relação a temas como o combate à corrupção, branqueamento de capitais e outras práticas nada abonatórias para um país que, num passado não muito distante, granjeou o respeito e a admiração dos seus principais parceiros e da comunidade internacional, em geral.

A estratégia para atingir os esses intentos está bem definida pelos apoiantes de Carlos Veiga, ou seja, convencer os cabo-verdianos de que ele, ao fim de duas décadas e duas tentativas falhadas, vai, desta vez e finalmente, ganhar as eleições presidenciais e logo na primeira volta (!), um sonho que vem acalentado desde que experimentou o gosto pelo poder.

Mas como dizia o outro, tudo indica que também novamente o tiro certamente vai sair pela culatra.

 

 

 

 

 

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